sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

GPS e Mikey

E depois há a questão do GPS.

Desde há alguns anos atrás tem-se vindo a popularizar o uso destes pequenos aparelhos conhecidos por Jêpêésse… sem nunca nos lembrarmos que a sigla significa “Global Positioning System” (cááála-te, se não tivesse acabado de escrever também não te lembravas!). De início muito dispendiosos e raros, estão agora ao alcance de (quase) qualquer bolso determinado em possuir um, e, por consequência, proliferam que nem cogumelos nos tabliers dos carros pessoais.

No meu não. Proliferam muitas coisas no meu carro, um Toyota Corolla de nome Mikey, mas Jêpêésses não são uma delas. Proliferam nele, por exemplo: lixo, pó, sujidade entranhada, pêlos de cão, tralha... Tralha é como quem diz: faz-me tudo falta!

Imaginemos que fico empanada no meio de uma estrada deserta, (Vá, numa hora em que o próximo carro com seres vivos do sexo masculino, prontos a ajudar, está muito, muito longe), e imaginem que não tenho, pelo menos:

um telefone com carregador,
comida,
água,
uma gamela para os cães,
os cães,
comida para os cães,
um canivete,
uma colher para comer a comida (minha e dos cães),
um machado para me defender e/ou matar e poder comer os cães,
um cobertor,
uma muda de roupa confortável para fugir ou arranjar o carro,
uma muda de roupa sensual para convencer alguém a fazê-lo por mim,
um livro para me entreter,
um frisbee para entreter o cão,
uma bola para entreter a cadela, e impedir que se embrulhe à luta com o cão, por causa do frisbee, e ainda
umas antenas de rena, só naquela??!!

Não pode ser, obviamente. Como vêem, não é tralha, são, na verdade, utilidades que me permitem viver no carro, como qualquer pessoa que se preze. E não imaginam a trabalheira que é redistribuir todos estes objectos quando alguma pessoa bem intencionada agarrou tudo e pôs em caixas, em prol da limpeza e arrumação do veículo.

Ah, e depois sou eu a hippie doida, porque tenho de comer iogurtes com o dedo, porque me jogaram a colher de plástico (suja) fora! E tenho de comprar pacotinhos de pó no ebay porque senão como é que explico o caminho para não-sei-aonde a alguém, com um croqui desenhado no tablier?

Posto isto, não tenho GPS. Sou da velha guarda. Para além de que já me dá uma trabalheira dos diabos descortinar qualquer comando de TV com mais de 6 botões (on/off, P+, P-, Vol+, Vol- e mute), e não sinto necessidade alguma de me meter em mais geringonças. Alternativamente, perco-me. Perco-me, e depois encontro-me. Da segunda vez a mesma coisa, e da terceira sei o caminho. Durante uns meses. E depois recomeçamos o ciclo. Parece um método aceitável, não?

Até porque o GPS funciona como o “luring”, no treino canino. É engraçado usar, mas deve ser eliminado rapidamente porque abranda a aprendizagem, uma vez que o animal não precisa de pensar, vai só seguir a recompensa.

E até porque aquela do “eu uso o GPS para não me perder” não cola! Certo amigo meu após umas 2 horas às voltas no mato, entre instruções de por favor faça inversão de marcha quando possível chegou ao topo de uma falésia, ao que a senhora docemente o instruiu: siga em frente cerca de 150 metros, o que felizmente a boa luminosidade e o senso comum não lhe permitiram fazer. O GPS voou pela janela, e passado meia hora o rapaz seguia para casa pelo IP mais próximo. So much for technologies.

Mas a minha teoria é outra: A mim, quer-me parecer que as pessoas, ou talvez não deva generalizar, mas um certo tipo de pessoas quezilentas e beligerantes, arranjam estes aparelhinhos demoníacos só para terem alguém com quem discordar e com quem discutir.
Ligam o seu GPS ancestral e económico, já a reclamar que vai demorar 20 minutos a encontrar sinal (e dizem isto cheias de satisfação, deus as livre de o ligarem com antecedência, e de perderem a oportunidade de se arreliarem), e uma vez que a maquineta se orienta e começa a cuspir instruções insistentes e irritantes, aí é que é. Nem pensar em segui-las! Antes pelo contrário! Após 200 metros siga pela 2ª saída da rotunda. Parece razoável? HAH! Exclama a condutora. Cala o bico! Deves perceber uma grande coisa disto! E enfia pela primeira rua à esquerda. Por favor vire à direita. Essa é que era boa!! À direita?? Quando vejo o mar à esquerda? HAH, deves ter uma sorte! Vire ligeiramente à esquerda, aconselha a senhora, enquanto o condutor quase se despista numa curva em cotovelo, que já só conseguiu fazer em duas rodas…

E eu rio-me. Rio-me, encosto, e desdobro o meu fantástico mapa de Portugal, que demora cerca de 5 minutos a redobrar correctamente, mas pelo menos não me responde com maldade e insolência, que tenho cá muito pouca paciência para essas coisas.
Saídas esquisitas das rotundas de hoje que eram os cruzamentos de ontem e possivelmente são os túneis de amanhã… haja paciência, e um paninho para a embrulhar. E para limpar o vidro, que alguém guardou o meu limpa-vidros numa caixa.