Aquela cor de cabelo à qual dou por
mim a chamar loiro-cascais, porque parece ser uma mutação genética
muito frequente na linha de Cascais, com maior taxa de incidência
quanto mais nos aproximamos do Guincho e da Quinta da Marinha... Um
castanho-claro de quem foi muito loiro em criança, e que agora
mantém umas pontas mais claras porque tem o privilégio de poder
passar muitas horas ao ar livre a surfar, a andar de bicicleta, a
voar kites ou sei lá mais o que os putos ricos e desocupados fazem
durante as tardes de verão intermináveis quando as vivendas são
coladas às dunas...
Aquele castanho-claro que outrora foi
mesmo loiro, e que, somehow, o continua a ser. Que vem com uns
olhos cor de mar, entre o verde e o azul, dependendo da luz e do
polo, ou com um pouco mais azar, e como no teu caso, com um castanho
avelã. Olhos de mel. Com pintinhas douradas. Um sorriso só com
meia-boca. E com esse sorriso vem uma saudade enorme de qualquer
coisa, qualquer coisa que nem sei bem definir, qualquer coisa que não
sei se já tive, se existe, ou se é história de livros.
Sabor a sal e a calippos de
morango, que eu detesto mas tu adoras – não podes ser perfeito! -
cheiro a cera de prancha de surf e conversas sobre Eça de Queirós e
estribos western... As madeixas suaves em contraste com as
duas rastas mais ásperas, das quais eu só gosto porque são tuas, e
porque gosto que sejas irreverente e tenhas caracóis e rastas e me
digas não quando eu preciso.
Que me digas não quando preciso e sim
quando mereço, e que me abraces nas dunas e discutas se as três
marias são as três marias ou talvez as sofias de ante-ontem. Porque
não quero ter sempre razão.
Não tens uma carrinha pão-de-forma –
lá está, não podes ser perfeito – mas quando perdemos as chaves
do teu carro sem nome na areia e rimos que nem perdidos porque não
as encontramos, e depois porque as encontramos, isso não importa. Be
real.