domingo, 22 de junho de 2014

Mas afinal o que é um "Grammar Nazi"?

O fenómeno da “escrita para toda gente” é um fenómeno relativamente recente, porque com os chats, o FB, a cultura dos smartphones e a nossa presença online quase 24h por dia, existem muitas pessoas que há 20 anos não teriam escrito uma palavra desde que saíram da escola, que, nestes moldes, andam alegremente a escrever por essa internet fora. E no meu ecrã, consequentemente. E não é pouco.

E eu tenho um problema: O meu nome é Lu e sou uma “Grammar Nazi” – este também um termo fruto do seu tempo, que define uma pessoa que tem ataques de ansiedade e urticária quando um homem lhe escreve (ou uma mulher, mas num homem é mais triste ainda, porque por vezes o pobre diabo até não se estava a sair mal até esse preciso momento) “Gostas-te?”. 

Ah, e não – podem esquecer essa esperança – numa conjugação implicativa de narcisismo ou pelo menos auto-amor, mas mesmo no sentido de “Gostas-te da nossa tarde na/em/no” [inserir actividade que a pessoa em causa achou que eu ia achar piada ]

E o grammar nazisismo não se fica por aí, porque eu não tenho os meus ataques em silêncio, guardando as minhas emoções para mim (isso é o preconceituoso dos erros, que imediatemente, ao ver, “Terminei o curso à dois meses” assume que o interlocutor é um idiota, mas que não passa daí);  nem sequer comento apenas com quem me rodeia ( isso é o racista da ortografia acompanhado, que goza em contexto doméstico), não, eu sinto-me impelida a ir, organizadamente, até ao fim e, por baixo do meu achado deprimente, colocar um “*” seguido da correcção. Porque às vezes é mesmo deprimente. Em testemunhos de luto por exemplo.

E agora pensam vocês que eu sou uma cabra pedante (check!) que não tem mais nada que fazer que criticar quem não teve o privilégio de ter uma escolaridade mais avançada, porque teve de ir trabalhar, ou quem não criou hábitos de leitura porque a vida não permitiu, e que a qualidade das pessoas não se mede pelos seus erros ortográficos (nem estilísticos, nem de pronunciação) e isso e tudo verdade. (Vá, posso discutir a parte da “cabra”, eventualmente) e claro que prefiro quem me escreva “comessas a xatear” mas até seja uma pessoa idónea do que um traste culturalmente e gramaticalmente polido, mas cada vez mais acredito que escrever correctamente não tem de estar ligado à escolaridade.

Estou a terminar um curso superior que tem uma média de entrada algo elevada (não conta como ufanice porque entrei por concurso especial, haha) que deveria supor que a fina flor das boas notas de secundário o frequentam, e que as aulas são leccionadas por pessoas com doutoramentos, na sua grande maioria. E é verdade. Mas não obstrante, é inacreditável a quantidade de vezes que me tenho de arrepiar, e, mentalmente, levantar um dedo esclarecedor quando num slide de um docente leio “torsão de estômago”.

Porque aparentemente, há (com h) dois tipos de pessoa a escrever sem erros: os que são ávidos leitores, escrevem eles próprios, gostam de toda a forma de comunicação que envolva letras e línguas (no sentido de idiomas, pervs!) e por isso têm facilidade nessa area, e simplesmente nunca lhes ocorreu sequer ter dúvidas entre presseguir/perseguir (ou até preçeguir, quem sabe); mas também um outro grupo de, maioritariamente homens, que não lê, mas tem a sorte de ter uma memória fotográfica para aquilo que está correcto. Que me faz alguma confusão, mas é uma bela dádiva. Porque socialmente correcto é escrever sem erros.

Claro que entretanto estamos para isso como estamos para a condução: independentemente de ir a 60 ou a 130km/h, quem vai mais devagar que eu é uma lesma estúpida, e quem vai mais depressa um atrasado mental com encontro marcado com o senhor da gadanha. 

Porque bem bem, estou eu. 

Ou bem que vou a pé, e exijo que os carros parem na passadeira porque, olha, porque vou a passar, né, e o peão (não pião!) tem direitos, ou bem que vou a conduzir e acho uma falta de respeito os peões que se atiram para as passadeiras vindos detrás de não sei que Ford Transit, só para eu, pobre condutora ter um piripaque quando quase, inadvertidamente, lhes acelero o tal date com o cavalheiro da gadanha!

Quero com isto dizer que o nosso próprio erro é sempre muito menos grave: certa vez escrevi “ir a uma escursão” e achei muito plausível, até ser chamada à atenção pelo meu respectivo da altura e perder a legitimidade de fazer textos destes durante alguns meses. Mas acho “escursão” um erro muito aceitável, nada a ver com “prencípio”. 

E confesso que em alemão sou muito disléxica. Dislexia é aquela palavra fixe que legitimiza os erros, porque soa a doença, e toda a gente sabe que faz trocar as letras. Não creio é que faça escrever quaisqueres em vez de quaisquer, por muita boa vontade que tenha...


Dito isto, o mais importante é o coração da pessoa há nossa frente, e que agente se dê bem e seja-mos felizes, que o resto é só traçinhos pretos em fundo branco, e nao tem nada a haver, e nem devemos descriminar por isso! xoxoxox