domingo, 5 de setembro de 2010

Wannit, wannit can’t havit, havit havit, don’t wannit

Wannit, wannit can’t havit, havit havit, don’t wannit

Ou: Quando as Pessoas Comem as Tuas Bolachas de Água e Sal.

Isto é uma reflexão sobre um traço de carácter ruim, que de resto, venho a descobrir, é bastante comum, sendo partilhado pela maior parte da humanidade, o que não faz a coisa melhor, mas o que pelo menos nos faz ser ruins em boa companhia.

Imagine-se que duas pessoas acabam. Ou que uma pessoa acaba a relação, e a outra fica de coração mediana até profundamente destroçado. Não, nada de traçar paralelos com a realidade! Quem é que disse que estou a falar de pessoas reais? Mau mau maria, isto é um suponhamos que estou a conjecturar na primeira pessoa, até parece que não me conhecem.

Estas duas pessoas terminam, portanto, a relação, com consentimento unilateral, e partem para as novas vidinhas, ligeiros e livres uns, miseráveis e de coração partido os outros.

Agora a faceta curiosa e estranha que me proponho analisar é que a parte A da equação, chamemos-lhe “mulher”, que até foi a origem do término, vive lindamente com tudo, até que – ATENÇÃO - entre uma parte C, chamemos lhe mulher 2 na imagem e na vida de B, o troglodita em questão.

O comportamento irracional que venho por este meio tornar público e descrever é recorrente, generalizado e documentado ao longo das gerações (falei com mãe e avós). Tenho relatos de pessoas que admiro e estimo, e considero inteligentes, mas que ao verem o seu ex-respectivo, ao fim de meses de luto, aparecer com uma menina nova, tomaram atitudes degradantes como martelar em portas e exigir que “todas as meretrizes evacuem os quartos que não lhes pertencem”.

Ah pois, Desapareçam, as legitimas proprietárias precisam de vir alçar a perna! Apesar de estas legitimas proprietárias andarem a curtir a vida há meses, em constelações variáveis de novos meninos, uns loiros, outros morenos, outros de cabelos compridos, etc.

E quando se pergunta, fundamentadamente, algumas coisas à parte A, ainda parece fazer menos sentido:

Por acaso queres estar com ele? Alguma vez sentiste que querias voltar para a relação? Ama-lo, lá no fundo?

Ah não, não, isso não. Afinal o gajo até era um chato que me fazia infeliz duas vezes por semana, não temos nada a ver um com o outro, tenho um namorado novo há 9 meses, e por acaso até gosto bastante dele, mas...

Mas o quê? Mas não podes racionalizar ao ponto de veres o teu ex-respectivo feliz ao lado de uma pessoa nova?

Posso posso.Obviamente que sim. Racionalmente fico muito contente por ele, acho-a querida, e até consigo falar com ela sobre cães e fazer um sorriso afável aos beijinhos de recém-apaixonados. O pior é irracionalmente.

Irracionalmente estou profundamente indignada. Indignadíssima. Acho de mau gosto. Ah pois é. Não sei bem o que é de mau gosto, mas que é, é. Enquanto achava que ele andava infeliz e celibatário a chorar pela minha estonteante pessoa, tudo bem. É compreensível, afinal perder-me a mim não deve ser nada fácil, huh, de modo que respondia com magnânimidade às mensagens com juras de amor eterno, dava abraços compreensivos de quem emocionalmente é estável e põe estas coisas para trás das costas – lá está – racionalmente equilibrada e sem culpa nenhuma de as coisas terem corrido como correram.

Irracinalmente acho que é um descaramento a criatura arranjar uma galdéria...Arranjar uma galdéria sem...sei lá, sem me consultar! Nem que seja para eu passar o atestado de galdéria. Porque afinal de contas eu conheço-o melhor que ninguém, e apesar de nos últimos anos da nossa relação o desejo de racharmos o crâneo um ao outro com alguma frequência se ter sobreposto a outro qualquer desejo, eu devia ter uma palavra nisto!

Euzinha, “simplesmente eu” como dizem as labregas nos seus albuns de fotos do facebook, devia poder definir que ela não pode, de modo algum, ser menos bonita/fixe/esperta que eu...senão onde é que vamos parar, há que manter uma certa fasquia!

E não pode, sou muito vincada neste ponto, ser mais bonita/fixe/esperta que eu, pois obviamente há que manter um lugar de destaque, que é o de expoente máximo de qualquer coisa, enfim, como já diz o meu actual, todas as mulheres querem deixar uma marca, quer seja serem as primeiras a dar flores a um homem (Did you know that to a man blowjobs are like flowers?), quer sejam as que ficam gravadas no coração dele como sendo The One, aquele amor que nunca será esquecido.

Não é por nada, mas já que estou aqui a queixar-me, puramente no domínio hipotético, claro está, deixem-me dizer-vos que não esperava menos que este último cargo. Hey, moron, I’m the one!! Importas-te?

O que é que estás aqui a fazer, a desenvolver actividades libidinosas com um pigmeu com um rabo mais feio que o meu? Mas eu não te incumbi de uma tarefa?

Sim, a última vez que verifiquei estavas a tomar conta do verniz do meu ego! Não tinhas uma infelicidade a cultivar? Perdeste-me, lembras-te? Preciso de pelo menos uma mensagem de duas em duas semanas para ter a certeza de que te lembras da gravidade da situação, senão, como já perguntei anteriormente, onde é que isto vai parar? Huh?

Não que a mulher A queira o referido troglodita volta, isso está claro. Mas é como certo cão cabeçudo – mais uma vez, nada a ver com o meu Winston – quando encontra meio pacote de bolachas de água e sal: Não as come, isso não, afinal terá ração de 55 € quando chegar a casa, mas é o fim do mundo em cuecas se a labradora as quiser comer. Jamais! Nem que para isso tenha de fazer o sacrifício de fazer de conta que gosta delas.

Obviamente eu não sou um cão, e sou racional. Imensamente. E não vou comer bolachas de água e sal que já enjoei há 3 anos. Vou para casa ver da minha taça de ração cara.Que até me faz muito melhor à saúde. Isto não sem um ligeirinho ressentimento. Afinal, toda a gente gosta de ter um pacote de bolachas de água e sal na despensa, para quando a ração acaba, ou a padaria está fechada.

A Night In Paris...ou: Ir a Paris duas vezes.

Em processamento

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Amámos e Agonizámos aim Amesterdão

Amesterdão...Amsterdam, Dam no rio Amstel, um “l” que muda para “r”, o que de resto é um fenómeno linguístico comum e estudado por muitos mais competentes que eu, e aí temos a explicação do nome da cidade.

Cidade esta que está cheia de estereótipos. Talvez de todas as cidades que passámos aquela que mais se embrulha numa cobertura de conceitos pré-estabelecidos, de regras diferentes, de um ideal de mentes abertas que se reflecte em actos fechados e que acaba por reduzi-la a algo tão mais pequeno do que aquilo que podia ser. Amsterdam no fundo é Loret del Mar, mas à escala global, ehhhh, a puta da loucura, Se te lembras é porque não foste... Claro que por aí a capital dos Países Baixos também provocava um fascínio e uma curiosidade especial aos Misters, com destaque para o Mr.Y, que desde Roma que andava possesso com a ideia de vaguear por Amsterdão. Ele, e todos os outros milhares de putos que escolheram as férias grandes para fazer o interrail e que definiram esta cidade como a cidade onde quebrar as amarras e fazer tudo o que as mamãs não gostariam de vê-los fazer.

Significando isto que a cidade estava à pinha. Só no posto de turismo, que tinha um sistema de senhas de atendimento e 40 pessoas à nossa frente, demorámos mais de uma hora para obter um mapa e algumas informações sobre pousadas da juventude. Depois de pousadas a 10 euros em Praga e apartamentos à borla em Berlim, custava-nos acreditar que não se arranjava nada mais barato que 25 euros em dormitórios separados...Huh? Mas eu estou habituada a dormir com os meus meninos...coméquié? Foi quase como se me disessem que não posso levar o Winston para dentro de um hotel, uma pessoa habitua-se a certas rotinas, né?

Decidimos procurar nós mesmos, presencialmente, e seguindo uma lista que nos tinham facultado num gabinete de reserva e marcação de hostels e hotéis, onde uma senhora extremamente antipática me puxou as orelhas por nos atrevermos a existir ali neste mês. Seríamos nós estúpidos? Não víamos que a cidade estava cheia? Não percebiamos que ia ser caro? Isto quando eu nem sequer me tinha queixado de preços nenhuns, estava mesmo só a investigar. Às tantas desisti, e fomos até à rua, onde o Mr.Y teve um raro momento de determinação para resolução de problemas, voltando a entrar lá para dentro, onde tanto moeu a molécula à senhora que a fez telefonar para todos os sítios na lista e fora dela a pedir informações detalhadas. Pelo que ele diz limitou-se a olhar para ela, responder “okay” a todas as reclamações e a insistir “please phone”. Acho que ela só não o matou com um clog bem assente no crâneo porque havia demasiadas testemunhas.

Daí seguimos para o hostel mais barato que nos tinham indicado, mas fomos apanhados, antes de lá chegarmos, por um rapaz à porta de um minimercado, que nos perguntou se procurávamos casa. O pai dele era dono de um pequeno albergue ali mesmo na esquina, e acabámos por ficar num apartamento engraçado, no primeiro andar, com sala com uma cama e um sofá, cozinha equipada, casa de banho e quarto com duas camas. Tudo muito limpo e bem-arranjado, e pouco mais caro que o hostel de dormitórios separados, este seria o nosso lar durante os próximos dias. Atirámos as coisas para lá e fomos comer umas massas ao restaurante italiano duas casas abaixo, rezando para que não houvesse uma especialidade holandesa chamada servitje e copertaaskje que acrescentasse 15 euros aos preços referidos no menu...

E lá fomos nós para as ruas destinadas aos turistas, ver quais eram os items mais comprados aqui nesta cidade. Depressa confirmámos que vivia tudo à luz de ganzas e sexo, basicamente. Se não era alusivo a drogas leves, era alusivo ao redlight district e às prostitutas, ou ainda, no melhor dos casos, como tornar namoradas em coisas amordaçadas, vestidas de latex e com artefactos curiosos enfiados em todo e qualquer orifício corporal. Bem me parece que numa das incontáveis sex-shops até um vibrador auricular vi... Consolava-me não estar ali com crianças pequenas, teria sido mais difícil caminhar, tendo de tapar os olhinhos do Winston a cada dez passos ou gritando desesperadament: No, naughty boy, is not ball, is toy for willy, NO NO, for willy, not for Winston, deixa as pilinhas voadoras em paz, e venha com a mãe! JUNTO!! MrY, tira-lhe isso da boca! O quê? Não queres? What do you mean, é embaraçoso?? Não ves que eu não o posso largar que ele fura aquilo, e aquilo é insuflavel mas caro!

Mas estou a exagerar. Afinal também havia túlipas e clogs de madeira, coisas com moínhos e lojas de queijo que eram um pecado, davam colesterol só de olhar. Agora que as drogas leves eram de longe o campo mais produtivo a nível de objectos vendíveis, é uma verdade. Há lojas de sementes, com catálogos de inúmeras espécies de plantas com nomes como Super Skunk, Shiva Shanti, White Widow, Afghan Kush, Hollands Hope, Cali Orange Bud, etc, etc, são inúmeras e têm preços muito diferentes, no caso de se querer coprar as sementes, que são umas bolinhas de aspecto inofensivo, tipo comida para piriquitos. E, claro, também toda a parafernália que vai com a fase de crescimento, desde estufas, até luzes e ventoinhas especiais, protector solar para as folhas, um pentezinho para as pentear depois do banho, redes de colheita, funis, grinders, champô antiparasitário, música ambiente com base reggae e medidores de THC. (não acreditem em tudo o que eu escrevo). Já para não falar em bolos, cervejas, roupas, preservativos...tudo hemp-based. E T-shirts (“Why drink and drive if you can smoke and fly?”), fitas para o cabelo, cinzeiros, placas, cuecas, brincos, malas, e tudo mais o que apresente uma superficie utilizável, decorados com a referida simbologia. Ao fm de algumas horas deixou de ter tanta piada.

E os famosos coffee shops, claro. Que maioritáriamente estão populados por putos turistas, do tipo wannabe rastas, que acham que acabaram de comprar o bilhete directamente para o departamento dos fixes e cromos da vida só porque estão pedrados que nem uma afegã lapidada deitados nas almofadas e pufs de um café em Amesterdão. Ride on baby, it doesn’t get any cooler than that!

Fomos passear um pouco pela cidade, por cima de tantas pontes e canais que o Mr.X afirmou que se o tivessem colocado ali, dizendo-lhe que era Veneza, ele teria acreditado. Depois vim a descobrir que ele não é o único e que até chamam a esta cidade a “Veneza do Norte”. Os canais, em neerlandês, chamam-se “Graacht”. Os quatro importantes canais do centro da cidade são Prinsengracht, Herengracht, Keizersgracht e Singel. Estavamos com sorte, pois o tempo estava misericordioso (ainda) e até nos providenciava uns minutos de sol, de quando em quando, que nos permitiram sentar na praça Dam a ouvir o espectáculo ao vivo de um rapaz com guitarra, que cantou alguns evergreens eternos como Mr.Jones dos Counting Crows e Wonderwall dos Oasis, que é sempre bom relembrar.
Esta praça é o centro e o coração de Amesterdão e foi, por exemplo, a área de recepção para Napoleão e as suas tropas durante o ano de 1808 na reconquista da cidade mas agora encontra-se dominado pela variante Red Light District de um obelisco, o por nós apelidado “Pichilisco”, o que deixa adivinhar a sua forma vagamente, não, minto: a sua forma descaradamente fálica. É uma coisa enorme e branca, que supostamente é um monumento de memória às vítimas da 2ª Guerra Mundial, mas na realidade só serve de encosto ao pessoal que está a enrolar canhões. E não tem legenda em inglês das inscrições, que é uma pena. Também se situam nesta praça o palácio real, Het Koninklijk Paleis.
À noite fomos então passear pelo Red Light District, a zona mais antiga da cidade, em neerlandês chamada De Wallen, Walletjes ou Rosse Buurt, onde já os estivadores, marinheiros e militares se dirigiam para aliviar o stress.
Esta é a area atribuida aos negócios do sexo, especialmente à prostituição, legalizada neste país, e tornou-se uma das principais atracções turísticas da cidade. De Wallen consiste numa rede de ruas, travessas, vielas e becos crivadinhos em algumas centenas de T0 com montras, a partir dos quais a meninas oferecem ou impingem os seus serviços a quem passa, característicamente iluminadas por uma luz vermelha. Para além da prostituição também se podem encontrar por lá inúmeras sex shops, teatros de sexo, peep shows, um museu do sexo, um museu de cannabis e os incontornáveis coffee shops.
Os Misters e eu andávamos de olhos arregalados, a apreciar tanta Sodoma e Gomorra ali mesmo a alcançe de 50 € por 15 minutos (não me perguntem como é que eu sei isso), ou quem sabe era só eu que me preocupava com a objectificação da mulher, acho que os misters só olhavam mesmo para as maminhas e rabiosques... que havia para todos os gostos, desde fadas loiras e lindas, às quais só apetecia perguntar se com uma carinha assim não queriam antes ser modelos, até às mamãs afro-descententes, que tinham todo o ar de conseguir sufocar um homem de várias maneiras e feitios. Até vi senhoras que não qualificavam como tal, pela existência de um pichilisco, vulgarmente conhecido como pene...
Inicialmente é divertido andar por lá, especialmente estando em minoria absoluta – por incrível que pareça apesar de ser quase património cultural universal, não se vêem ali na rua tantas mulheres como eu esperava – e acompanhada de dois rapazes, mas quando se vai prestando mais atenção aos comentários da multidão e de quem nos acompanha não deixa de ser um pouco bitter-sweet. Se eu já tinha reluctância quanto ao facebook, pelo seu cariz de mercado da carne, ali então estava no centro de uma exposição humana, nas montras de um talho gigante, onde os pedaços de carne feminina se alinham para a apreciação geral. Gostaria de desenvolver um projecto fotográfico que passaria por substituir as miúdas das montras por autênticos bocados de carne, tipo metade de um borrego, uma cabeça de porco, uma entremeada de vaca, mas mantendo todo o resto igual...
É estranho ver aquelas raparigas ali, a maior parte delas de uma categoria carnal acima da namorada média, de sorriso colado no rosto, a mostrarem o seu corpo da maneira mais lisonjeante que conseguem, e do lado de fora do vidro estão todo o tipo de gajos, muito poucos deles atraentes ou minimamente parecidos ao jovem Brad Pitt, a comentar que “não tem mamas”, “tem um cú de foca”, “não vale nada”, “só presta para a ***********”, em várias línguas e vários tons. Comentários de pessoas que na minha lista de 0-10 possívelmente não passariam do 1.5, se vamos mesmo fazer a avaliação objectiva de seres humanos baseando-nos para isso em atributos físicos. Sim, é normal, sim é de esperar. Sim, é o que elas pedem, ao trabalhar ali. Mas isso fá-lo correcto? Isso fá-lo agradável? Para mim não. Posso ser uma menina inocente, cunhada pela geração do Pretty Woman, mas acho que prefiro ficar assim.
No dia seguinte de manhã, tinhamos de fazer uma visita guiada, de autocarro, e o tempo agradável tinha-se esgotado. Chovia. Bom, de autocarro não faz mal. Muito abreviadamente, uma vez que tive queixas referentes à extensão cultural deste blog (seus incultivados! ;-)), passámos o t’Kromhout, o mais antigo estaleiro da cidade, onde depois da 2ªGuerra Mundial, cujos bombardeamentos levaram a uma escassez flagrante de casas, se construiram mais de 200 barcos-casa que navegam pelos rios e canais.
Vimos o primeiro moínho da nossa estadia na Holanda, que estava transformado em cervejaria, um sítio ao qual resolvemos voltar, e a meio da visita fomos elucidadados acerca da razão desta ser tão barata. Pois fiquem sabendo que quando as visitas de autocarro custam 10 euros não devem esperar muito. Esta vivia de um truque do qual já fui vítima na Irlanda, é que consiste num sistema de comissões atribuidas à companhia que faz a visita e que leva a que os turistas sejam conduzidos até vários locais com o intuito mal-disfarçado de nos fazer comprar coisas.
Neste caso tratava-se de uma fábrica de diamantes, o que assim à primeira vista não parecia mal, sabendo que a cidade tinha sido, na altura áurea da holanda, a Gouden Eeuw, no séc.XVII o centro financeiro e de produção de diamantes do mundo, mas que se revelou uma seca de marketing. A fábrica chama-se Gassan Diamonds, e vá, okay, aprendemos algumas coisas interessantes sobre diamantes... Por exemplo que durante o corte e a polição se perde 50 a 60% do diamante...e pudémos ver este processo, que só pode ser levado a cabo com ferramentas cobertas em azeite e pó e fragmentos de diamante, devido à dureza extrema do mineral. Também ficámos a saber que a qualidade do diamante se avalia consoante os 4 “C”s, carat, colour, clarity e cut, sendo que 1 carat são 0,2 gramas – quantos mais melhor! E que um minúsculo diamante (tamanho de um quarto de um bago de arroz) pode ser polido de forma a ter 57 faces, que é o chamado “Amsterdam cut”.
O pior foi a parte das vendas...foram nos mostrar joias e diamantes prontos, e para isso falta me definitivamente um cromossoma. Secaaaa! Secaaa! Não quero diamantes...por favor nunca me ofereçam um, acho-os pirosos e a relação beleza-preço está completamente desequilibrada! Finalmente tivemos a feliz ideia de saír e ir beber o nosso “free drink” e de provar uma coisa, não free, que se chama “Stroopwafel”, uma espécie de waffel estaladiço recheado com creme de caramelo, que foi assim uma revelação, naquele momento chuvoso, e acompanhado de chá com leite. Foi pena é ter os Misters colados à perna, ou melhor, à Stoopwafel, que nem dois passarinhos de bico aberto, pois reduziu em 2/3 a quantidade por mim consumida. Mais tarde verificámos que em Amsterdam existe um McFlurry de Stroopwaffel que vale a pena provar, o que não significa que tenhamos ido ao McDonald’s, livra.
Posto isto, e eliminados muitos pormenores, quando acabámos a visita queriamos ir aos sítios que tinhamos achado mais interessantes, mas chovia a potes. Não fazia mal, afinal eu tinha acabado de comprar um pequeno e detestável guarda-chuva, - cujo cognome a partir daqui será mesmo só O Detestável, - e os misters tinham impermeáveis. Fizémo-nos à estrada, subestimendo completamente o efeito demoralizador da chuva quando o detestável se dobra e os impermeáveis perdem o im.
Não fomos ver a Anne Frankhuis, a casa de Anne Frank, onde ela escreveu o seu diário, e que também serve de espaço de exposição para todo o tipo de assuntos relacionados com a perseguição dos judeus e discriminação racial, pois custava caro e havia uma fila de centenas de pessoas, fica para uma próxima. O mesmo digo sobre o Rijksmuseum e o Van Gogh museum.
Tirámos as fotos da praxe em frente ao Schreierstoren, uma torre cujo nome é traduzido como “torre do choro”, “Schrei” sendo um grito, ou gemido, uma tradução que é fundamentada com o facto de ser ali que as mulheres choravam as partidas dos maridos para o mar, mas que no entanto é incorrecta, uma vez que o nome original era Schrayershoucktoren, torre da esquina apertada, sendo o nome actual não mais que uma abreviatura. Pouco romântico, eu sei.
E chovia. Procurámos abrigo no estaleiro velho, onde o Mr.Y despejou, pela 3ªvez, a água que se lhe acumulava nas mangas e o Mr. X esperou pacientemente que eu lhe prendesse o cabelo ensopado com um gancho. “Devia-me rebolar nas poças para uniformizar as manchas” concluiu o Mr. Y com alguma secura, e olhando para a sua linda figura. Mais vale humor, que um tumor.
O moínho era longe, apesar de no quentinho do autocarro não o ter aparentado, mas tivemos oportunidade de observar a arquitectura holandesa em alguns bairros mais residenciais, as casas muito estreitas, tal como no nosso albergue, que tinha umas escadas de tal forma escarpadas que fazia de nós uma espécie de quadrúpedes arfantes, e isto ainda sem efeito de drogas ou outras substâncias. Mamãs, notem a formulação. É por estas características arquitectónicas que todas as casas são equipadas com uma roldana no topo, que serve para içar as mobílias para os andares de cima, de forma a entrarem pelas janelas. Curioso, heim?
A dada altura estavamos encharcados, já não era só molhados, era encharcados mesmo. A água tinha-nos subido até aos joelhos, pelas fibras das calças, as mãos do Mr. X estavam transparentes e gélidas, as do Mr.Y quentes na mesma – injusto – e eu acabei por pronunciar a frase mais improvável de toda a viagem, sentidamente: “Chega de monumentos. Vamos tomar banho e metemo-nos no coffee-shop mais próximo e só saímos de lá para ir às putas.” Quatro olhinhos luziram, levei palmadas fortíssimas nas costas, e fui arrastada em dirrecção a casa sob urros de “Tá dito, tá dito”.

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São 10:00h da manhã e acabei de acordar no nosso pequeno apartamento num primeiro andar de uma casa estreita, em Amsterdam, mesmo no meio do redlight district. A cama fica ao mesmo nível que a janela, e se me ajoelhar consigo espreitar para a rua abaixo. Estou com o cabelo em alvoroço, uma massa de ondas e enleios loiros que se recusam a caír sedosamente optando por cascatear selváticamente por cima dos meus ombros. Ainda não me maquilhei, e se dirigir o olhar para baixo olho directamente para dentro de uma das famosas montras, na qual a luz neon vermelha ainda arde. Está uma prostituta lá dentro, vestida a rigor. Sapatos pretos de salto de agulha, cabelo liso, preto, pelo queixo. Tão perfeito que pode bem ser uma peruca. Um fatinho de latex, ligas e rendas que lhe apertam os seios voluminosos. Deve ser pouco mais velha que eu.

O que pensas, miúda? O que pensas dia 10 de Agosto, às 10 da manhã, quando os moradores da rua passam por ti sem olhar, com os sacos das compras pendurados no guiador da bicicleta e o jornal no cesto...? A rapariga encosta-se a um banco, e folheia uma revista. Escreve uma mensagem num pequeno telemóvel cor-de-rosa. Consigo seguir o trajecto rápido dos dedos dela, com as longas unhas de gel brancas, que percorrem o teclado. O que escreves, miúda? Envias mensagens para as tuas amigas? Ou para um namorado? Ele sabe onde trabalhas?

Sinto-me estranhamente Naïv. Em contraste absoluto com a rapariga no réd-do-chão do outro lado da rua. Seis metros físicos, mas por outro lado um milhão de quilómetros.

A miúda olha para cima, e os nossos olhares cruzam-se por alguns segundos. Ela não desolha, mas também não sorri, como as raparigas pelas quais passámos ontem à noite, que se metiam connosco por sermos um trio invulgar. Não sorri, e o olhar parece-me de ressentimento ligeiro, ou de desafio. Como se tivesse vontade de me perguntar o que é que eu lhe quero, e se não tenho nada melhor que fazer. Deixo caír a cortina, como que apanhada em flagrante. Não sei porque é que me sinto embaraçada, afinal, não sou eu que estou atrás de um vidro em roupas eróticas. Se eu quiser, hoje não me maquilho. Se eu quiser, hoje não sorrio a ninguém.

Acabou de entrar o Mr.X, e contra os meus princípios recém encontrados, sorrio-lhe.
Ele sorri também. Traz o cabelo comprido molhado, a escorrer água, e não está a pensar nada de mais profundo do que “Estamos atrasados!”.
Volto a abrir uma nesga de cortina, e espreito. A prostituta desapareceu.



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E estava quase no fim a nossa estadia nesta cidade orgulhosamente louca. Nesta cidade propositadamente louca, em que a loucura toma formas quase forçadas. Faltava nos somente ouvir as reclamações do dono do albergue, que nos pediu para não estendermos roupa à janela – sim, pode ser fumar ganzas mas não se pode estender uma camisa a secar – e comprar os bilhetes para Paris.

Na sala de espera da estação, com 70 números à nossa frente, encontrámos tempo para descansar, mas só de olhos abertos! Sim, as regras não se limitam à roupa à janela, uma megera cinquentona de olhar venenoso veio buzinar-nos aos ouvidos que o Mr.X não podia estar a dormir ali. Só nos deu vontade de responder uma data de coisas inapropriadas, como “Vá acordar aqueles bebés ali, então!”, “Mas só estou a descansar os olhos”, “Vá arranjar uma vida ou qualquer outra coisa que a preencha, piiiiii, piiiiii” mas contivemo-nos. Colocámos os meus óculos fantásticos no Mr.X, pois atrás deles ninguém saberia se ele dorme ou não, mas até tinhamos perdido o sono. Os meus óculos fantásticos são daquelas coisas que só se podem usar fora do nosso país natal, ou se nos chamarmos Luisa e não nos importarmos de as pessoas cortarem relações connosco.
São gigantes, uma paródia daqueles monstros que estão na moda, e que geralmente são usados por raparigas de cabelos escuros muito lisos, não sei porquê - dá me ideia que as loiras vão mais para os modelos ray-ban clássicos (melhor gosto, obviamente, harharhar) - e que fazem as donas parecer insectos estranhos, só que os meus são ainda maiores, e cor-de-rosa! Não é lindo?

Finalmente chegou a nossa vez, o número mudou, e nós erguemo-nos, cobrimos os 10 metros que nos separavam do guichet, e quando lá chegámos ouvimos “o número já mudou, não estavam cá, temos pena”. WTF??? Perdi a pachorra assim toda de uma vez, mas hoje era o dia mundial das prvalhonas, tinham nas soltado sobre o público geral, ou quê?? Rosnei ao Mr.Y que tratasse da coisa porque eu não iria conseguir manter a boa educação, e retirei-me, para ouvir: “Os comboios para Paris estão esgotados nos próximos 3 dias, azarinho, nunca lá chegarão”. Mesmo.

Kusjes,
Ms.Sophieskje

Beer Barraca em Berlim

Festa da cerveja...e...esperem, estou-me a lembrar do resto!

NEW*NEW*NEW*NEW ADICIONADO A 1 DE SETEMBRO DE 2010

Em Berlim tinhamos casa! Logo iriamos viver muito pró-P1, o que parecia bem, pois para Amesterdão já se previa a desgraça.
Ficámos em casa da minha madrinha, que nos distribuiu por um quarto sem colchão e uma sala com colchão.

Alegando questões de justiça (camas de campismo demoníacas anteriormente impingidas ao Mr.Y) este apoderou-se do colchão, recusando responsbilizar-se por quaisquer danos que o meu esqueleto e o do Mr.X pudessem inflingir ao soalho envernizado do apartamento da nossa anfitriã.

Soube bem voltar a estar numa casa com um duche bem limpo e sem 7 marmanjos a fazer bolhas de saliva em camas ao lado, e a minha madrinha até cozinhou pasta para nós...à meia noite! Estava deliciosa, tão deliciosa que tanto o filho da cozinheira como o Mr.X prometeram comer todos e quaisquer restos frios no dia seguinte. Pobre Mr.X! Em muito tinha ele subestimado as capacidades, a motivação, e especialmente a voracidade de miúdos de 18 anos, quando foi por ela, já nem o cheiro nas paredes do tacho se sentia. “O raio do puto varreu mesmo aquilo tudo”, gruniu ele, desiludido.

Mas bom interrailista não se deixa ir abaixo, e saímos para provar outras iguarias, especialmente as excelentes curry wust , que são umas salsichas como só os alemães sabem fazer, polvilhadas com caril e regadas com ketchup, parece uma combinação estranha, mas popularizou-se com uma velocidade estonteante, e hoje são daquelas coisas muito “berlinenses”. Alguns dos Misters (na realidade um deles, não era o X, mas não vou especificar mais) mostrou atitudes muito pouco másculas face ao picante do caril. Meniiiiiiino. (Vá, vinga-te no Purfácio, se és capaz!)

Claro que também havia que provar as famosas Bolas de Berlim, - “berlimból, berlimból, pagagueava o Mr.X - que em Berlim não têm o afixo “de Berlim”, nem têm açucar granulado por cima, nem doce de ovos por dentro. Sim, meus compatriotas, andamos a fazer tudo mal, e a “bolinha, bolinha, hácomcremisemcreme” que é anunciada nas nossas praias com um sotaque crescentemente brasileiro é uma aberração. É como...como...como fazer uma açorda de alho mas em vez de alho deitar-lhe amendoins e guarnecer com folhas de amoreira e um adicional bicho-da-seda de quando em quando. É uma ideia interessante, mas no sentido de interessante como um bebé com sete dedos dos pés e um bico. Isto é a minha opinião, opinião de uma pessoa alérgica à nossa doçaria conventual e a tudo que saiba declaradamente a gema de ovo. Se me querem afastar, é abanarem-me um búziozinho de ovos moles de Aveiro em frente ao nariz, sob ameaça de mo fazerem comer, e far-vos-ei uma demonstração de velocidade e agilidade inesperada.

As verdadeiras Berlimbóis são cobertas de glacé de açucar (açúcar em pó misturado com água ou rum, de maneira a ficar em creme que depois seca sob a forma de cobertura, com uma consistência semelhante à da cobertura de chocolate num Rim (bolo!). E por dentro têm doce de fruta. Tradicionalmente de ameixa, pela sua resistência ao calor, mas desde que inventaram os sacos pasteleiros com os quais recheiam as bolas depois de serem fritas em óleo, também, alternativamente, com doce de cereja ou morango. O que obviamente também é uma aberração. Já dizia um cota na praia da Falésia, com ar de asco: “Algumas das bolas daqueles brasileiros são injectadas!” (E na nossa cabeça formou-se uma imagem de uma bola inchada, tratada com esteróides e a custar a fechar a cobertura devido ao exagero de massa...)

Enfim, alguns gostaram, outros não, penso que é como a comida chinesa que comemos por cá, não tem nada a ver com a comida chinesa chinesa, e possívelmente dessa nem sequer gostaríamos.

Em Berlim, eu estava sem a pressão dos monumentos, pois já os conheço de ginjeira, e queria ir visitar uma amiga. Tentámos alguns monumentos logo no primeiro dia, mas chovia desagradávelmente, ao que desistimos às portas de Brandenburgo.
No fim de semana queríamos ir ver uma faceta de Berlim que eu considero um must see, que são as fantásticas feiras da ladra. Berlim tem feiras da ladra que trazem as lágrimas de vergonha aos olhos do nosso pequeno mercado de velharias em Lisboa, mas não é só a extensão, como a qualidade e todo o espírito envolvente. Eu queria ir a uma específica que fica na estação de metro Eberswalderstrasse, mas depois de uma aventura de uma hora e meia nos transportes públicos, e de sairmos de casa cedíssimo – acho que foi o dia depois de o Mr.Y me querer decapitar – chegámos lá para descobrir que eu, apesar autoctone e a rasar o omnisciente, tinha, horror dos horrores, errado: era aos Domingos!

Mas voltemos às minhas questões com o Mr.Y. É que quando eu acordo, acordo. Fico logo coerente, conversadora, a atirar para o barulhento e com uma boa disposição que é estranhamente irritante para os seres da estirpe do Mr.Y que acorda muito lenta e penosamente, de mau humor, querendo silêncio até depois do café. Not on my watch, Mister! Pelo que tive de ouvir uma frase que em si era inofensiva, mas num tom tão marcadamente venenoso que me gelou um bocadinho o tutano, se bem que não o paleio “Massss tu não sabesss falar baixo?” assim bem rangido entre dentes, com a entoação de “Pode ser a última coisa que fazes”.

Desculpa aí qualquer coisinha, mas o dia começa quando eu começo a falar, e nunca percebi porque é que as pessoas hão de preferir o silêncio se podem ouvir coisas interessantes da minha vida e do meu foro psicológico...não é? Mas depois de ter sido assim violentada verbalmente, nessa manhã fomos em silêncio pesado até...

... descobrirmos que havia uma festa da cerveja algures em Berlim, o que deu novo alento aos misters, e um propósito à minha pessoa. Isto porque me sentia um pouco mal por me ter enganado pela primeira vez na vida, foi como quando digo ao Winston “já vamos play frisbee” e me telefonam nesse momento a dizer que tenho de ir a correr para a universidade, e depois sinto que o tenho de compensar com natação nocturna na bica ou qualquer coisa.

Neste caso como não podia haver feira da ladra, que pelo menos houvesse cerveja. Nesse aspecto o homem vulgaris é muito previsível e mais fácil de contentar que o canis familiaris, não requer divertimentos intelectuais ao nível de uma sessão de clicker para aprender a dar a pata, umas cervejinhas servem. E assim que encontrámos a dita feira, os animos levantaram.

Era uma rua com cerca de 800m, com barraquinhas de um lado e de outro, e funcionava da seguinte forma: Comprava-se uma caneca – vários tamanhos à escolha – que após o evento seria altamente vendível no e-bay, e com essa canequeinha se fazia então a ronda, enchendo-a por 1.50€ com os vários tipos de cerveja que se desejava provar.

E sim, acho que a cerveja alemã é mais fraquinha que a portuguesa, mas em contrapartida há inúmeras qualidades, e como já cantava Mark Knopfler, “German beer is chemical free, whuddayeee, whuddayee” está sujeita a uma lei de pureza que previne que a ela sejam adicionados quaisquer tipos de aditivos. E ali ficámos até ao último momento possível, e por acaso foi o máximo.

Havia pelo menos 6 ou 7 palcos com música ao vivo, desde o folclore, tão insuportável ali como em quase todo o lado (menos quando mete gaitas de foles e homens maçudos em kilts, ou harpas e fadas irlandesas), até aos oldies maravilhosos. Demos particular atenção a um homem que tocava músicas como Sweet Home Alabama e Beatles com uma banda de marionetas muito gira.

Quanto à comida, ainda provámos um outro tipo de salsichas, estas da zona do mar do norte, chamadas “Wattwürmer”, minhocas do Watt. O Watt é a zona ribeirinha desse mar, bastante lodosa, e de uma extesão enorme devido às marés extremamente pronunciadas, e é também onde se encontram umas minhocas específicas. As salsichas pelo que penso não eram feitas mesmo de minhocas (pelo sim pelo não, não traduzi o nome aos misters), são da grossura de uma esferográfica e sabem a salame do Lidl. Como são picantes, “puxam”, como se diz em bom português, a cerveja o que é no interesse dos organizadores, pelo que o preço delas também é acessível. Elas têm uns 50 cms (sim, são mesmo estranhas) e custam 50 centimos. E eu a pensar que já não havia snacks a menos de um euro!

A parte difícil foi, mais uma vez, conseguir pastorear os meus amores para fora dali, mas tinhamos um compromisso, pois a minha madrinha, que é uma fixe e faz publicidade e public-relationcoiso para artistas e eventos culturais, tinha-nos arranjado bilhetes à borla para um espectáculo de variedades num teatro muito porreiro nos Hackische Höfe, o Chamäleon.

Desde dormir em bancos de parque até ir ao teatro com tratamento VIP, tivemos direito a tudo, nestes interrais. O espectáculo foi qualquer coisa de impressionante, eram 10 pessoas, 5 raparigas e 5 rapazes que faziam acrobacias com variados efeitos de palco – luzes, panos coloridos, sombras, andaimes, etc – ao som de música moderna, Muse, por exemplo.

Os misters ficaram doidos com as ginastas, e eu também pude lavar os olhos com os rapazinhos que subiam varões de metal com a ligeireza de osgas, ficando em posições extremamente favoráveis à análise isenta a puramente anatómica de bíceps, tríceps, peitorais e costas em trapézio. Não, não gostaria de andar com uma gajo que fisicamente é assim mundos mais atraente que eu, mas para ver de vez em quando é engraçado. As miúdas eram incríveis, muito expressivas, e a ginástica é daqueles desportos que se pode praticar sem correr o risco de entrar na classe de butch sem maminhas e com ombros de Conan the Barbarian. Das coisas mais impressionantes era ver aqueles actos de pura força, muitos deles, serem executados com uma tal elegancia e perfeição que parecia não custarem nada – quando as nódos negras escuríssimas no interior dos joelhos reportavam a dificuldade de agarrar um trapézio só com as pernas enquanto alguém se balançava agarrado às mãos dessa pessoa.

O final da noite foi a ver um espctáculo de um street-artist australiano, que das 80 pessoas que estavam a encher a praça lá teve de me escolher a mim para fazer de vítima, obviamente. Acho que me aguantei bem, graças a Deus não sofro de timidez e consigo entrar nestas coisas, dispensava era no final ele me pedir um beijo e depois de me estender a face virar-se de repente proporcionando-me a minha primeira e nojenta experiência de beijar um punk com muy poucos dentes na boca. Podia ele dar-se por feliz de não estar ali um respectivo ciumento, como ja os houve, senão acredito que se veria despojado de mais alguns dentes assim na hora. Foi a única altura em que perdi a lata e me vi obrigada a fazer uma espécie de dança de mãos agitadas, muito gay. E eu sou rapariga, pensava que nem dava para ser gay. Os misters riram a bom rir, especialmente quando um rapaz do público berrava insistentemente “Burn the hair, burn the hair” no meio do malabarismo com os pauzinhos em chama, isto só porque eu tinha avisado o maluco em boxers que me podia matar, mas que não me puxasse fogo ao cabelo!

No dia seguinte, Domingo, lá conseguimos apreciar o espírito da feira da ladra de Berlim, que eu perseguia.
É tudo muito relaxed e cheio de relva e árvores e barracas de salsichas e kebabs, pessoal sentado no chão com matilhas de cães e guitarras, tererés, cobertores, helicópteros telecomandados (sim, babes!), karaoke, bijutaria feita à mão e na hora por freaks biológicos...enfim, sinto que encontro a minha tribo.

Infelizmente não pudemos comprar muita coisa, mas arranjei uma mochila nova pela módica quantia de 7 euros, um livro de um dos meus autores preferidos (Noah Gordon), que me desiludiu amargamente e algumas roupas a 1 € BARGAIN!!! emaisumaspequenosidadesfiozinhoessencialetc. Mudando de assunto, não deixei os Misters continuarem a negociar e a ponderar levar um barco insuflável com um grande motor, (homens...) e posto isto o Mr.X nem umas barbatanas ou uma coleccção de selos comprou. P1, já sabem, né? O incrível é que naquelas feiras da ladra se compra mesmo tudo, até avózinhas que acidentalmente foram empacotadas juntamente com o suposto espólio, e algumas das quais em óptimas condições e ainda a cozinharem!

À página tantas lá abandonei os meus mininos com um mapa cheio de instruções e notas de rodapé de modo a conseguirem encontrar os vários monumentos. Ao que parece as minhas notas tinham tanto ou tão pouco de úteis que só serviram para os levar de volta à festa da cerveja, cujo conceito afirmaram não ter percebido bem, tendo por isso que reviver determinadamente a experiência. Ao fim de algum tempo de festa da cerveja, dei pelo Mr.X a dirigir-se a pessoas alemãs enunciando frases inteiras em alemão! “Ó Mr.X,” admirei-me eu “mas tu não falas alemão!” “Quero lá saber!” responde-me a criatura muito desembaraçadamente. Só me fez lembrar uma anedota: Um homem contar a um amigo como conseguiu fugir de um leão, no deserto, trepando para cima de uma árvore. Ao ser confrontado com as dúvidas do amigo, que argumanta que no deserto não há árvores, este responde “Naquela situação estava-me borrifando para isso!”

Tal não estava o Mr.X que as minhas amigas ao verem-no a distribuir extrovertidamente beijos portugueses acharam que ele era tal e qual o meu ex-respectivo...uma comparação tão desapropriada como hilariante para quem conhece os dois.

Alguns Döner Kebabs e mais algumas voltas pelo Alexanderplatz, com a conhecida torre “Fernsehturm” e a fonte de Neptuno depois, estavamos prontos para seguir para Amesterdão. E assim foi.

Küsse,
Ms. Sophiechen

sábado, 21 de agosto de 2010

Praga de Cágados em Praga

Wiena-Praha

Em Praga tivemos algumas surpresas engraçadas. Para já, eles não têm o euro. Não sei o que nos levou a pensar que teriam (acho que é uma coisa chamada “iguenuransia”, da qual já tenho ouvido falar, e falta de cultura geral também) mas o que é certo é que assim que saímos do comboio demos por várias barraquinhas de agiotas que anunciavam a possibilidade de fazer câmbios. Dê-nos 10, nós damos-lhe 3! Pague 4, leve 1! Thanks! Até dá vontade... Obviamente tivemos de trocar algum carcanhol, e feito isto entramos no posto de turismo onde um encantador senhor loiro nos elucidou acerca de tudo o que eu queria saber, e garanto-vos que não era pouco. Por vezes espanta-me a paciência que as pessoas têm para me aturar.

Estavamos restringidos pelo P1 e resolvemos apoiar-nos fortemente no seguinte efeito psicológico estudado: mesmo quando as férias são um desastre, e curtimos mal como tudo, e o hotel é uma porcaria, e ficámos com patas de escarvelhos entre os dentes ao comer os croquetes , o nosso cérebro tem tendência a proteger-se pintando um quadro rosado e muito mais positivo da coisa, sendo que as memórias que ficam são uma espécie de “versão para namoradas e mães”, em que tudo foi civilizado, limpinho e elegante, e não houve clubes de strip rascas nos quais se estoirou o dinheiro todo, nem discussões, nem pés doridos com meias recicladas 3 vezes... (como nós não tivemos, de qualquer modo, né?) Por isso já que nas nossas memórias ia ser tudo 5*, mais valia escolher o hostel mais baratuxo, por 10 euros a noite, num dormitório misto, sobre o qual o senhor do posto de turismo cuidadosamente afirmou que “não era muito nice”. Naice?? Quem é que quer naice se podemos ter chipe? Munidos de um mapa da cidade e de 3 reservas para o un-nice hostel, começámos a fazer caminho para lá.

Pela primeira vez depois de ter ido a Wales, senti-me completamente analfabruta. Sabem o que é não conseguir ler nada, nem sequer os sinais indicativos dos cacifos, os nomes das ruas ou os slogans dos anuncios? É que em italiano, francês, inglês, alemão, sueco, holandês, espanhol etc, vai-se percebendo muita coisa, agora checo, esqueçam lá! A única rua cuja placa tinha algum interesse foi uma chamada Nám W. Churchilla, uma rua dedicada à namorada do Winston Churchill e ao Godzilla, claramente, o que me lembrava um bom amigo, pois coisas como “divadlo ponec” não surtiam nenhuma associação linguística.

O hostel era, bom, era hosteloso. Era uma escola que só servia de hostel nos meses de férias, e consequentemente o dormitório tinha um quadro e não se podia trancar. Mas enfim, também era só por uma noite. Atirámos as malas para a sala de aula pensámos em tomar um banho, não tomámos, acho eu – perem lá, este blog é meu, escrevo o que quero: Eu obviamente tomei um banho, os porcos dos misters não, e depois tratámos de fazer coisas que eu queria. Isto porque desde Roma que eu não tinha sapatos, e tinha-me desenrascado com uns chinelos daqueles de 1€, que entretanto tinham falecido em Wien, para voltar a usar as havaianas do Mr.Y, que me faziam parecer um Yeti com snow-shoes, mais ainda que o costume, pelo menos, pois se 40 é grande 44 é maior ainda.

O problema era que é muito difícil para mim fazer cambios mentais, e vi me reduzida a uma pessoa que tem “muitos dinheiros”, uma vez que as coroas checas lembram o bom velho escudo, é preciso centenas delas para conseguir concretizar uma compra. Acho que 25 coroas são um Euro, logo 10 euros são nítidamente...hum...mais coroas, assim mais ou menos, quê, 250? Então uns ténis a 600 são 25 euros o que é um bom preço? Sei lá se é os chineses... Certo é que tinha visto uns ténis Airwalk novos em folha, ainda com as solas limpas, numa loja em segunda mão, possívelmente roubados há pouco tempo a uma turista que dormia no parque, what goes around comes around, turista que por esta altura deve estar a comprar uns Adidas vermelhos, pretos e brancos em Nápoles, a vaca!
Experimentei os Airwalk, e sim, estavam bons. Mas obviamente que não os podia comprar!! Haha, essa é que era boa! Ver algo a bom preço, gostar, e comprar logo? Nanana, primeiro tenho de ir a um centro comercial experimentar mais 40 pares, sempre com os primeiros na cabeça! E ouvir comentários do género “quer em tamanho 39-40? – olhar incrédulo para as havaianas 44 – não lhe vão servir...” VÃO SIM!!! Não vê aqui os meus pés piquininos no meio da havaiana sua garça? Chús bilonce tu mai Boyççfrienditch, okapa? Não era técnicamente verdade mas não quis a vendedora a imaginar uma manada de raparigas alemãs patudas, ao ouvir só “friend”.

Nesse centro comercial também comprei umas calças e uma blusa para poder alternar com a que me restava, e senti-me quase uma nova mulher. O que é certo é que temos a mania de que precisamos de muito mais coisas do que aquelas que efectivamente precisamos...Comprei um boião de creme especial para amolecer calos, e durante o resto da viagem usei-o para me besuntar integralmente a mim, e de o impingir ao Mr.X que começa a escamar-se que nem um leproso se não puser creme, e ariops, eis nos suaves e fantásticos. (brincadeirinhaaa...era um Dove normal, não para calos, calma!...Estava a ver o Mr.X a ler isto e a começar a suar...)

Quando acabei de fazer estas compras, estava bem disposta, mas o mesmo já não se podia dizer dos Misters...o X sim, que não é muito dado a moodswings, tem outros defeitos, mas o Y quando fica com o periodo só à pazada. Estava pior que uma barata, com um flyerzinho de um strip club amarrotado na mão, e um biberão de cerveja. O que é que se poderia fazer para o animar? Procurar a localização do Hot Peppers, pois com certeza. E assim fizemos.

Foi a primeira visita a Praga, ao escurecer e com um objectivo pouco nobre, chamemos lhe o ensaio para Amesterdão, pois afinal há coisas que têm de ser apresentadas aos campónios em doses homeopáticas e entenda-se que me incluo no grupo anteriormente referido. Palmilhámos a cidade e o mais parecido que encontrámos foi uma televisão gigantes que passava anuncios de várias coisas da cidade, entre os quais figurava o Hot Peppers Club. A conclusão que o club era mesmo por baixo desse ecrã só nos chegou lá para as 11 da noite, ou mais tarde ainda, quando já estavamos por tudo e entrámos directos.

E aí tive a oportunidade de fazer alguns estudos sociológicos, de análise à mente humana, e dos abismos hormonais do dito sexo forte. O clube funcionava assim: entre as 23h e as 6h da manhã (ou qq coisas assim) não se pagava entrada, estavam permanentemente a decorrer shows, e só se pagavam as bebidas consumidas (a preço de ouro).

Foi nos indicada uma mesinha, bastante perto do palco, que era uma espécie de cat-walk em T, com dois varões, uma atrás e um à frente. À volta do T ficavam os privilegiados, com olhares vidrados e uma pequena vala à frente, que conduzia a saliva para contentores refrigerados debaixo das mesas, de onde mais tarde era aproveitada para a indústria da lubrificação, numa espécie de círculo simbiótico. Estava meia-luz, música total e as cores e texturas predominantes eram o vermelho e o veludo, exeptuando-se a pele suada, como é óbvio, que não vou contar como parte da decoração. Sentámo-nos, e pude observar os meus dois misters a reagirem à grande população de meninas boazudas em cuecas e sutiãs, biquinis, mini-saias daquelas, corpetes, calçõeszinhos que nem mereciam o prefixo calções, eram mesmo só “zinhos”, e de meninas boazudas em cima do T, sem nada.

O Mr.X ligou à namorada, informou-a que estavamos em Vienadáustria em frente à Ópera e depois desligou com um ar meio absorto e fez uma cara tão surpresa ao ser confrontado com o facto de estarmos em Praga que até acredito que tenha sido uma mentira involuntária. Depois era vê-lo a tentar manter alguma dignidade, olhando para mim de vez em quando, dirigindo-se a mim chamando-me pelo nome, e tentando ter uma conversa civilizada de quem costuma ir ao stripclub beber café frequentemente. “Óh Mr.Y”, dizia ele, “Quanto é a cerveja?”

O Mr.Y era um caso perdido, e isso notou-se desde o primeiro momento. Se o Mr.X ainda esperneava, o Mr.Y tinha caído numa apatia completa que me elucidou mais profundamente acerca dos homens do que 25 anos de convivência com eles. Agarrado à carta das bebidas com as duas mãos não respondia nem dava sinais de ouvir, com um ar de bombista islâmico que acabou de chegar à sala das 7 virgens. Como não era possível comunicar com ele sem antes o acordar com um sopapo de mamas, e como nenhuma das miúdas se prontificou a fazer isso sem remuneração, tivemos de lhe tirar a carta e deixá-lo de mãos erguidas a esbugalhar os olhos para o vago infinito ou quem sabe para as curvas do trio exótico que rodopiava no palco.

Tenho a dizer que as miúdas, na sua grande maioria, eram mesmo muito giras, claro que temos de dar sempre o desconto da pouca luz, da muita maquilhagem e das roupas adequadas, mas sim senhor, havia ali bom material. Ao longo da viagem começei a notar em mim definidas tendências brejeiras, e acabei a aventura a conseguir avaliar raparigas numa escala de 0-10, enquanto masco um palito e cuspo pelo outro canto da boca melhor do que qualquer um dos misters. Só não faço test-drives!

Ao fim de um bocado o Mr.X alertou-me para o facto de eu estar numa posição tensa de governanta inglêsa, com a espinha hirta, um longo pescoço de garça, o nariz empinado, a cabeça de lado e uma sobrancelha erguida em ar de “Well ah don’t know abou thah, deah...” Fiz shift e reset para a posição e expressão entediada de “I’m cool, I’m fine with this, In fact, I do this all the time!” e comecei a olhar à minha volta. Muita testosterona. Bom, estou habituada a dar aulas a dezenas de rapazes puberdosos ao mesmo tempo, mas não num ambiente de tal ordem libidinoso... Aquilo eram muitos homens a pensarem em coisas porcas.

Era de facto preciso ter uma boa dose de autoestima para sequer se atrever a ir para um sítio daqueles, ainda mais se fosse com namorados ou maridos. Tudo bem, dá para aprender uma coisas, e as meninas também têm celulite, o que é bastante animador, mas ver o respectivo a babar-se por alguém que nos dá assim 10-2 só naquela, não deve ser fácil. Possívelmente era por essa razão que eu e outra rapariga loira eramos as únicas fixes que estavam ali. Mas...ups, não, a menina loira trabalhava lá e estava só a convencer um cliente a ter um lapdance. :-S Felizmente com os misters ciumeiras e vontade de auto-afirmação não era a minha área de jurisdição, e ainda tive a oportunidade de ter um pouco de ego-polishing quando me dirigi à casa de banho e vários homens olharam para mim perplexos, do género: “Vais despir alguma dessa roupa, certo? Esta deve ser da trupe das prude girls go bad, a que horas começa?”

A dado momento do campeonato uma das ladies veio ter connosco, oferecendo-nos várias opções caras, como sessões privadas e danças em cima de tudo e mais alguma coisa, sendo que eu teria o privilégio de lhe poder mexer, ela não se importaria. Huh? Descasquei-me a rir ante os ares de profunda inveja dos injustiçados misters, mas recusei, agradecida. Não quero mexer nas mamocas da Crystal, obrigada. Já parecia um amigo meu que me dizia que se tivesse maminhas ficaria o dia todo sentado a brincar com elas...duh!

Difícil, difícil foi arrancar o Mr.Y de lá. A dada altura já o tinhamos à porta, quando o Mr.X resolve fazer a brincadeira infeliz de insinuar que ia comçar o show lésbico, ao que ele se nos safou com a destreza e ligeireza de uma enguia oleada e em três saltos se colou ao palco. Boa. Que genial. Devias-lhe ter dito que tinhas percebido que a menina em traje de pirata que fazia brincadeiras porcas com o seu alfange era, na realidade um travesti...assim talvez o conseguissemos arrastar até às escadas, né?

Para os misters, isto foi Praga. Penso que não terão memórias do dia seguinte.

Era a primeira vez que ia dormir num dormitório misto, e, misteriosamente, “misto” significava 7 rapazes e eu. Eu era o elemento misto! Soava perigoso. Então, para eufemizar o facto de que iria ter de partilhar o quarto com 7 gajos, 5 dos quais desconhecidos, optei por chamar-lhe o meu harém masculino. Sim, em voz alta e em várias línguas. Não obstante, para preservar a minha virtude, escolhi a cama entre o Mr.X e o MrY, e juntei bem os colchões, mais vale os demónios que conhecemos que os demónios que não conhecemos, e alguns dos mochileiros suiços tinham ficado demasiado entusiasmados à menção do harém masculino.

Acordei a meio da noite com gritos arrepiantes, e por instantes ponderei estar a ser violada e a minha voz ter acordado primeiro que eu, mas depois caí em mim e percebi que era o rapaz com a cabeça rapada e uma madeixa de cabelo solitária, com o livro sobre o budismo, que ficava ao lado do Mr.Y. Este não se acanhou e apontou-lhe uma lanterna às ventas, o que o fez recair em silêncio. Não sei se o iluminou de Darma, mas o que é certo é que o Sangha queria dormir. (vão googlear, ignorantes!)Todos temos os nossos traumas, mas caramba, estás num dormitório só mais tens é de gemer baixinho!
Na manhã seguinte, mais ou menos virtuosos, lá nos levantámos, eu com o propósito de ver a cidade, e os misters com o propósito de me arrastarem de volta para o Hot Peppers.

Mas não conseguiram. Fi-los andar a palminhar Praga a passar pontes pictorescas sobre o rio Vltava, jardins verdejantes, dezenas de torres bicudas, muralhas antigas e...sabem que mais? Estou culturalmente desmotivada. Não vi o John Lennon wall, e só posteriormente consegui apreciar a grandeza do Orloj, o relógio astronómico. Todo o centro da cidade foi considerado World Heritage pela UNESCO, para além de ser a sexta cidade mais visitada da Europa, depois de Londres, Paris, Madrid, Roma e Berlim. Praga acolhe anualmente 4.1 milhões de visitantes por ano, e ao passear pela Staré Město, a cidade velha, sentimos isso. É sempre pena quando como turistas que somos nos sentimos mais um de milhares, e vemos tudo preparado para nos acolher, os retratistas, os caricaturistas, as barraquinhas da bijutaria e das joias feitas em âmbar, os pintores e as lojas com lembranças típicas, que já começam a mostrar traços de leste, como as bonecas babushka ou matryoshka e alguns tipos de marionetas. Com tantos visitantes por ano, estou convencida que me perdoarão a fraca qualidade da informação turistica contida nestas linhas...mas não estou nada para aí virada, não sei porquê.

Não muito típico, mas muito interessante foi também o museu da tortura, que existe como exposição móvel por todo o mundo, mas que eu falhei em Évora porque a minha mãe achou desinteressante e de mau gosto para uma criança, mas que foi um to do que me ficou na cabeça... por vezes há que satisfazer as curiosidades mais mórbidas, também.

O Mr.Y não quis entrar, de modo que eu e o Mr.X passámos umas duas horas de arrepios e abanadelas de cabeça sobre os abismos da criatividade humana no que diz respeito a provocar sofrimento ao próximo.

Imaginámos alguns cenários hilariantes que se caracterizavam pela eterna presença dos ladrões das nossas malas e interrails montados em cima de pirâmides de ferro, com as nossas mochilas presas aos pés, para fazer peso e os aproximar das grelhas com brasa que ficavam um pouco abaixo, antes de os enchermos com nove litros de água por um funil e de lhes rebentarmos as tripas com uma pêra anal. E estavamos a ser brandos, não estavamos a aplicar o capacete que apertava com ajuda de um parafuso, esmagando o crâneo depois de o perfurar com espinhos ferrugentos e provocadores de infecções graves e purulentas nos 3 dias prévios à morte dos infelizes contemplados.

Também demos graças ao facto de vivermos num século mais civilizado, onde não nos temos de sujeitar a cintos de castidade – havia lá um modelo masculino muito engraçado! Com piloca articulada!! Nem a máscaras da vergonha, que eram usadas para mulheres resmungonas e insubordinadas, em conjunto com uma tabuleta que dizia “Dragão doméstico”, e com direito a levar com fruta podre pelos vizinhos. Estou desconfiada que haveria algumas pessoas no mundo que a dada altura já teriam sentido vontade de aplicar um ou outro destes artefactos às nossas pessoas...(ou ambos).

E assim acabava a praga de Praga, e os cágados seguiam caminho, rumo a Berlim! Berlim vai ser montes de fixe, dizem que nasce lá gente muito porreira!

Polibky, muitos,
Ms Sophiesky

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

From Roma roaming to Wien

Roma – Wien aka Vienadáustria

Foi de certa forma melancólico irmos embora de Roma... se até lá restava uma esperança difusa de alguém nos ligar dizendo “encontramini votra baggaglia, il computadori è liggeramente riscatto mé funciona, e ils interraglios tenem di secchari...”, agora “caíamos na real”, como diriam os brasileiros.

Depois de muito ponderar, pensamos que face à desgraça geral, mais valia a pena fazer dois interrais que meio interrail com um fim triste, e comprámos uma nova dose de bilhetes, desta vez os mais acessíveis flexi-passes, com dez dias de validade e cinco dias de viagem possíveis nesses dez. Acabava-se assim o à la gardenne e começava uma nova era de planeamento mais cuidadoso, pois havia que racionar as viagens e fazer uso inteligente da regra das 19 horas, que faz com que se possa começar uma viagem depois das 19h de um dia, e prolongá-la pela noite fora, utilizando só um dia de viagem. Foi isso mesmo que fizemos de imediato, usando assim só um dia de viagem para fazer Roma – Wien, Wien – Praha. Das 19h até de manhãzinha pusemo-nos em Wien, e seguimos depois de almoço.

Uma vez que estavamos cansados e em parte despojados das nossas mochilas, o que não é muito bom para a motivação, em Wien demos só voltinhas de vaca. Fomos de eléctrico até à parte histórica da cidade, à volta do Karlsplatz e da Ringstrasse, e daí partimos à descoberta.

O pior era que as mochilas que restavam estavam pesadas e tinhamos fome. Começei a pensar praticamente – ou será que começei praticamente a pensar? – afinal, o que era tradicional de Vienadáustria? O Rex, sim. Os distritos numerados. Arquitectura bicuda e um gosto por bailes pomposos. Schnitzel e Apfelstrudel...HA! Aí estava algo exequível!

Expliquei aos Misters que deveriamos comer qualquer coisa de tradicional e entrámos num mercado bastante grande, que se estendia ao longo de uma rua inteira, para procurar iguarias tradicionais. Mas estavamos enganados, pois o mercado era exactamente o oposto daquilo que nós queríamos, era um mercado de produtos exóticos só igualado ao de chinatown em Londres.

Desde todo (e quando digo todo, é todo) o tipo de frutas, do mirtilo aos cocos bebés passando por coisas com picos como as mal-cheirosas frutas durio e todo o tipo de frutos secos que nem sabia poderem ser secos, até às especialidades gregas, turcas e russas, havia de tudo. Ah, e cheguei à conclusão que ignorava o wasabi vir de uma noz! E que esta pode ser verde ou vermelha.

Quanto mais andávamos, mais fome tinhamos, e aí a matilha começa a dividir-se em duas fracções: A dos “preciso de comer já, senão não esperem mais uma onça de boa disposição e aguentem as minhas trombas a minha falta de humor e o meu mau feitio se quiserem – se não quiserem azarinho”, constituida pelo Mr.Y, e os “vamos encontrar a melhor relação qualidade-preço, nem que para isso tenhamos de correr todo e qualquer restaurante/loja/barraca do país, mas não vamos deixar que isso nos arrelie” constituida pelo Mr.X e a yours truly.
Se bem que o Mr.X derivado ao P1 e não ter Nheir-nhum acaba por ser mais purista que eu, ainda. Quer comer por 3 euros, incluindo café, o que se reflecte num arzinho cada vez mais pálido e frágil, o que leva o resto da matilha a comprar pratos que não quer para ele poder "provar um pouco". Estou desconfiada que se não fosse o Mr.Y deixá-lo provar kebabs inteiros, já o tinhamos perdido em paris, onde teria ficado, translúcido e de olhos semi-fechados, prostrado na relva.

Algures a meio da busca, o Mr.Y borrifou-se no plano geral e foi comprar Sushi, que teve de carregar sob os nossos olhares reprovadores até ao local onde finalmente me pareceu uma boa ideia provar as iguarias locais. Pedimos uma cerveja para 3 pessoas (e eu não bebo), um Schnitzel com batatas daquelas tipo wedges (um Wienerschnitzel verdadeiro tem mais ou menos meio metro quadrado) e um Apfelstrudel.

Para quem não sabe, o Wienerschnitzel é uma bifana que é batida até ficar muito fininha e tenra, e depois panada e frita, servida com limão. É muito bom. Depois há Schnitzels em várias outras manifestações, mas a base é sempre a bifana. A palavra em si é difícil de ensinar, mas como a motivação de a aprender é grande, passado poucas tentativas coroadas de gafanhotos e reminiscentes de gatos com catarro lá estava: Chrrrrrrr!! Gschwü? Gewüschl?? Não! Schanunitz, zt, tz, Chunitzel. Schuuuunittzzzzll! Schunitzl! Lálálálá, schu-nitzl, schunitzl, gostamos de schunitzl!

E de Apfelstrudel também! Este não é de massa folhada, por muito que o Lidl nos queira fazer crer isso, o verdadeiro é de uma massa elástica estendida até ficar extremamente fina (endoidece os rookies culinários), tipo crepes, que é colacada às camadas e entre as camadas leva maçã e passas com um bocadinho de canela. As passas, que eu conheço como inimigas vulgares do público em geral, mal se notam, tenho os testemunhos dos misters. O Strudel vem com molho de baunilha (tipo leite creme) ou chantilly, o nosso tinha chantilly, e estava morno, ainda. Difícil foi manter alguma boa educação, e vi-me forçada a atirar alguns olhares daqueles quando vi que o Mr.Y tentava comer Sushi comprado no mercado, disfarçadamente, na mesa do restaurante.

Visto o memorial de agradecimento aos soldados russos que morreram a libertar Wien dos Nazis, mais algumas catedrais e igrejas, o mais engraçado foi mesmo uma placa de aviso num pequeno jardim, que era na forma de Jack Russel (o cãozinho da Máscara, com Jim Carrey), que segurava uma tabuleta a dizer: Está-se a cagar para 36 €? [foto de cocó de cão] Pegue num saquito para o caganito, senão paga até 36 €. Não faça merda! Está nas suas mãos. Achei assim só um pouco mais genial do que a catedral barroca duas ruas abaixo, mas, em minha defesa, tenho a dizer que só dá para ver um determinado número de catedrais sem que isso acarrete graves problemas psíquicos e uma redução em 87% da capacidade de atenção no detalhe, e eu tinha atingido o meu limite mensal. Ainda por cima depois de Florença já pouca coisa impressiona.

Batia-nos o cansaço de uma noite mal passada, e assim que chegámos ao comboio voltamos a divertir-nos com o jogo “vamos ver quem consegue dormir na posição menos ortodoxa, e ficar confortável”. Eu domino esse jogo! Para já, e tendo um pescoço de girafa do qual mais adiante falarei em mais pormenor, consigo deitar-me num sítio, e depois fazer meia dúzia de curvas serpenteadas e colocar a cabeça noutro local completamente diferente, e depois, durmo mesmo bem. E adormeço depressa. Só tenho um pequeno problema: Quando estou a adormecer oiço tudo mas não tenho força para responder, nem quendo estão a gozar comigo, e quando acordo fico melosa e desbocada, só dizendo baboseiras ou verdades que deveriam permanecer ocultas... “Oh amor, sonhei que andava embrulhada com o vizinho de cima, aquele muita giro....dá-me um abraço...mrblrblzzzzzzz...” o que por vezes estraga um pouco o resto do dia, mas adiante. Neste jogo, no entanto, existem regras:
1. Ninguém pode ficar ao pé dos pés do Mr.Y, uma vez que a avózinha dele lhe deu umas meias de fibra que provocam um tal fedor que se torna muito perigoso dormir na área. Eu conseguiria fazê-lo, mas possívelmente não acordaria, e isso seria uma grande perda. (Pelo menos para mim, chego a dizer que me retiraria a razão de viver e o centro do meu universo.) Em Paris tornei as regras mais fáceis, e atirei as meias para o lixo, mas chiu, ninguém sabe. Não há fotos.
2. O Mr.Y e eu não cabemos no mesmo banco, lateralmente, o meu rabo é grande demais. Não entrarei em detalhes sobre essa limitação, mas quem sabe, se os misters algum dia concretizarem o Purfácio que se propuseram a escrever, talvez elaborem o caso.
3. Se nos encaixarmos pernas-com-pernas temos de ter apoios feitos de mochilas entre os bancos.
4. Numa posição lateral é fácil respirar para a cara do opositor, o que retira pontos ao sono dele.
5. O Mr.Y tem mau acordar. Ganha-se pontos por fazê-lo, mas também se podem perder vidas.
6. O Mr.X tem demasiados braços ossudos.Chega a parecer que são 6, pelo menos. e sempre um que nos espeta as costelas.
7. É um foul grave pisar-me o cabelo.
8. Há que alinhar as vértebras com os espaços dos bancos usar os desníveis para cotovelos e ancas.
9. A posição Nr2, debruçado de frente por cima da mesa é básica e não dá pontos adicionais.
10. Os vencedores absolutos são aqueles que não acordarem nem em caso de lhes roubarem as malas debaixo das cabeças. Very funny.

E pouca-terra, pouca-terra úú, úú, até Praga, ou como se diz bem, Praha.

Grützi und Bussi,
Sophie Luiserl

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Roma – Não só, mas maioritáriamente F*dão

Roma, part II

Nas tendas ao sol está quente.
Esta é daquelas verdades universais que qualquer campista descobre mais tarde ou mais cedo, preferencialmete quando se chega todo roto a um parque, dez minutos antes de fecharem as portas, quando toda a gente já está a lavar a loiça mas ainda pairam no ar os cheiros a ravioli de lata e sopas de pacote cheias de intensificadores de sabor, e em modo automático, se monta a tenda num fantástico espaço livre.

Na manhã seguinte, por volta das nove, descobre-se que o espaço estava livre pela simples razão de não ter sombra a partir das 6 da manhã, e emerge-se suado, meio cozido, com os cabelos colados à testa e a boca seca, com vontade de dormir mais umas 12 horas num local fresco, escuro e ao abrigo dos odores. E assim nos aconteceu em Roma. Por volta das sete da manhã ouvimos um sonoro e inconfundível CLOUC, um som que reverbera em vidro, um som que nos pós de orelhas afitadas, quais capitães Hadoques, (por favor digam-me que alguém percebe esta referência ao imortal Tintim de Hergé, senão sinto me culturalmente isolada). Olá! Uma garrafa de Borgonha? Não era de Borgonha, mas era de facto uma garrafa, nomeadamente a do decapante barato que os misters tinham comprado ontem, e que o Mr.Y tinha consumido quase na íntegra, por eu ser careta e o Mr.X um cortes. O calor tinha feito a rolha saltar!

Ninguém ia conseguir dormir com temperaturas que faziam literalmente saltar a tampa, de modo que nos levantámos e perdemos um dia inteiro numa espécie de estupor pós-furto que quase parecia estarmos de férias. Nem eu, que sou notóriamente bossy tive força para obrigar fosse quem fosse a ir ver monumentos...ficámos na piscina, no bar do parque, a comer pizzas, fizemos umas compras no supermercado ali da rua, e tive de comprar um biquini novo. Odiei. Eu tinha um biquini lindo, brazilian bottom, daqueles que faz um bom rabo até a quem não tem um bom rabo, e chiça pá, não me apetecia nada ter de o substituir por um boob-squishing padrão de cortinas de velha. Triste.

No entanto, apesar de a vida social no parque ser fácil e divertida, havia que voltar ao ritmo, life, the show, the monument seeing must go on! Marcámos visita guiada à borla para o dia seguinte, e lá nos metemos no metro com os bilhetes do autocarro e os dedos em figas, pois tudo o que não precisávamos era ainda sermos apanhádos em infraçcão de bilhetes.

No metro, fizemos uma descoberta hilariante: Um ovo! Um ovo debaixo de um dos bancos. Tenho foto, escrevi no blog, aconteceu! Esta premissa, diga-se de passagem, também funciona ao contrário, se não há foto, se não está no blog, não aconteceu. Eventualmente na eminência de provas fotográficas incriminadoras poderá negociar-se a hipótese de ter acontecido apesar de não estar no blog, mas essa vertente implica muito burocracia e em noventa por cento dos casos é negado o deferimento. Mas voltemos ao ovo. O que fazia esta potencial prole ali tão sozinha e abandonada? De que rabiosque provinha, ou seja, que tipo de prole era? Afinal tratava-se de uma situação de risco, quem é que não ouviu já falar na eclosão da guerra? E se este fosse um ovo bélico? Mais valia dar-lhe uma sapatada, antes que acontecesse o pior, e ele se desfizesse em revoluções ou dinossáurios.

Mas por outro lado, como presença constante ao longo dos museus e da pintura tinhamos visto a retratação da hostória mitológica de Leda e Zeus, um romance amoroso algo zoofilo entre uma mortal e um cisne que resultou na postura de um/dois ovos que por sua vez originou/originaram 4 rebentos: os gémeos Castor e Pollux, a linda Helena de Tróia e ainda Clitemnestra, que viria a ser esposa de Agamémnon. Ora se toda esta gente tinha eclodido assim, parecia um crime contra a humanidade não dedicar algumas linhas a este ovo romano, ou não fosse Roma uma das, senão a mais importante cidade da antiguidade e um dos palcos de eclosão da civilização. (... ... ... .... pausa para os gregos se mandarem ao ar)

“Posto” isto, perdoem o pun, vou já saír do registo ovíparo, falemos um pouco de aspecto mais históricos e do que aprendemos na nossa visita guiada, que saiu da Piazza di Spagna, em frente do McDonalds. Demoramos cinco minutos extra a achar o McDonalds, pois estávamos de tal forma condicionados ao símbolo vermelho e amarelo que em preto e branco não o reconhecemos. Concordo que há que manter as fachadas históricas sóbrias e clássicas, mas há coisas que são de certa forma e não de outra, e dar o McDonalds como referência e depois mudar as placas não dá com nada. Até nos cortou o efeito pavloviano de salivação perante estímulo visual.

Esta praça é um lugar icónico em Roma, ponto de encontro de todo o tipo de turistas, maioritáriamente, naquele dia, alemães. Tinhamos acertado nos dias da peregrinação de toda e qualquer diocesezeca da Alemanha a Roma, e creio que, de acordo com os queixumes sobre a baixa de natalidade terrível que este país afirma estar a sofrer e considerando as hordas de adolescentes corados e com chapéus distinctivos das respectivas igrejas e catequeses, a Alemanha devia estar despojada de jovens. È que não devia lá restar nem um! Estavam a ocupar todos os centímetros da escadaria imponente que leva à igreja de Trinità dei Monti, estavam debruçados não só na fonte no centro da praça, na forma de um barco (Barccacia), que é afetuosamente chamada pelos romanos de La Barcaccia, ou velha banheira, da autoria de Bernini, inspirada numa ocasião em que as águas do Tibre subiram de tal forma que levaram um barco até ao local, mas em todas as outras fontes que viriamos a encontrar pelo caminho.

E Roma tem muitas! Foi das coisas que mais me impressionou lá, para além dos seus inegáveis dotes de furto a turistas, a quantidade de água potável límpida e fria que corre esbanjadamente de estátuas, fontes, torneiras e elementos decorativos. Dava para encher as garrafas de água em todo o lado, e tudo isso graças ao general romano Agrippa que construiu o primeiro aqueduto no séc.I a.C, trazendo a água da montanha até à cidade, até aos dias de hoje.

Começando pela fonte, e continuando um pouco por toda a cidade era impossível escapar ao Baroco e ao nome de Bernini, mas também a um outro nome menos conhecido mas não menos ilustre na sua área – um eterno concorrente de Bernini, o arquitecto e escultor Borromini, que ao invés de Bernini, (que era um homem do sul, um latino de Nápoles, socialite, bem falante, polido e charmoso que trabalhou para 4 papas), era um nortenho (suiço) melancólico e tinha um feitio difícil e irascível, acabando por se suicidar. Mas enquanto vivo, ia cruzando recorrentemente o caminho de Bernini, sempre na condição de enteado onde Bernini era filho.

Este contraste e esta competição está retratada de forma interessante e intemporal nas fachadas do Collegium Urbanum, edifício que que data do século XVII, foi comissionado pelo papa Urbano VIII “Barbarini” e era a sede da congregação da propaganda da fé, que tendo sido começadas por Bernini foram terminadas por Borromini, e são consideradas obras-primas do arquitecto. Era característico de Borromini alterar superficies convexas e concavas, e em comparação com a fachada elaborada por Bernini, podemos constatar que as de Borromini são bastante mais inovadoras, quabrando as regras clássicas, que mais uma vez, foi demais para o seu tempo...

Seguimos para mais uma igreja de séc. XVII, a Sant'Andrea delle Fratte, que para além de uma torre por Borromini tem no seu interior dois incrívelmente expressios anjos de mármore por Bernini. Esta parelha de criaturas divinas fazia parte de uma manada de 10 que gracejava uma ponte sobre o Tibre, mas das quais apenas duas eram verdadeiros Berninis, sendo que os outros eram obras feitas pelos alunos do grande mestre escultor, uma aldrabice óbvia, pelos vistos, uma vez que podemos verificar que os dois verdadeiros foram retirados da ponte e expostos na igreja.

Um pouco por toda a cidade podemos ver as marcas de uma subida de nível de vida. Não na acepção comum da expressão, pois os romanos continuam a ter necessidade ou vontade de roubar turistas inocentes que dormem que nem cordeirinhos, mas no sentido literal, uma vez que, por volta de 1500 a cidade tinha ascendido ao estatuto de centro religioso do mundo, e tinha efectivamente sido nivelada por cima, o que se reflectiu numa subida de vários metros do nível das ruas, etc, que podemos ver nas escavações arqueológicas que passámos a caminho da Fontana di Trevi, a fonte na junção de três ruas (tre vie) que assinala o local onde termina o reconstruido aqueduto de Aqua Virgo.

Reza a lenda que a fonte que o abastece terá sido encontrada pelos romanos com a ajuda de uma virgem que andava (com certeza bela e seminua, e nunca gorda, com celulite, buço e virgindade imposta por ninguém lhe pegar) a saltitar pelas montanhas, a 13 kms da cidade, uma cena representada na façada da fonte. Para além disso temos uma representação do Oceano ou deus dos mares, numa concha puxada por cavalos marinhos e sereios, flanqueado pelas virtudes do papa, representadas sob a forma de mulheres em vestes esvoaçantes, a salubridade, com a simbólica cobra (sim, já olharam para o símbolo das farmácias? O simpático bichinho rastejante é saudável sim!) e a abundância, com a sua corneta cheia de gomas. Ou outras coisas, vá. A impressão geral desta fonte é qualquer coisa difícil de explicar, é muuuuito baroco num só sítio, é muito cheia, muito imponente, muito linda mas ao mesmo tempo tão rica que pode ser vista como irremediavelmente kitsch. Como pessoa que gosta de decorar o seu quarto com ramos e hera artificial, eu adorei, mas ouvi segundas opiniões menos favoráveis.

Como curiosidades curiosas, para não ser demasiado histórica e formal, deixem-me contar-vos que todos os dias são lançados nesta fonte cerca de 3000 euros é proibido nadar na fonte, apesar da água ser fantástica e limpa mas claro que de vez em quando há um exibicionista qualquer que se atira lá para dentro vestido de golfinho ou com um tridente enfiado no sim-senhor, só para ter 10 minutos de atenção. Francamente, há pessoas que são verdadeiras attention whores...Desculpem, alguém viu o meu tridente?

Na Piazza de Pietra tivemos o privilégio de observar o Templo de Adriano, que, à semelhança de muitos outros edifícios antigos em Roma no renascimento foi utilizado como pedreira – o exemplo mais óbvio disso é o coliseu, mas do qual mesmo assim sobrevive um flanco imponente. O interesse na conservação deste tipo de edifícios é surpreendentemente recente, começando a evidenciar-se no início do séc. XX.

E chegávamos ao Panteão de entre os edifícios construidos época greco-romana o mais bem-preservado. É de mármore do tipo cippolline, que tem o aspecto de textura de cebola e foi reconstruído por Adriano, após ter sido vitima de um incêndioDesde que foi construído que se manteve em uso: primeiro como templo dedicado a todos os deuses (daí o seu nome) e, desde o século VII, como templo cristão, a igreja de Santa Maria dos Mártires. É famoso pela sua cúpula, que foi durante muito tempo a maior de toda a Europa, até que Brunelleschi criou a cúpula (duomo) de Florença, completada em 1400 e trocópasso. A cúpula do panteão tem um buraco no meio que serve de fonte de iluminação e curiosamente por uma junção de factores físicos não faz com que chova lá dentro, uma vez que tem um efeito de chaminé, com massas de ar ascendentes que impedem a chuva de caír na vertical e inundar o templo. Para além de templo, o panteão é também mausoleu de vários VIP italianos, como Rafael e dois reis italianos, entre outros.
Havia ainda umas aplicações de bronze nos pórticos do panteão que o papa Urbano VIII, da família dos Barberini mandou retirar de lá para o usar na basílica de S.Pedro, um acto de vandalismo sobre o qual um crítico anonimo disse “Quod non fecerunt barbari, fecerunt Barberini”, no sentido de “o que os bárbaros não estragaram, estragaram os Barberini” ;-)

Na Piazza Navona, praça construída sobre a área do antigo estádio domiziano é uma praça desde sempre associada a jogos, festividades e competições, costumava ter uma forma concava, como uma grande poça de água, e uma vez por ano os escoamentos das fontes eram tapados para a praça inundar e servir de chapinhação pública a romanos pobres e ricos. A Fontana dei Quattro Fiumi, a fonte dos quatro rios é central das três fontes magníficas que a praça ostenta, e é, também, da autoria de Bernini. Até à construção da Fontana di Travi era a fonte mais imponente de Roma, e é mais um pomo e palco da rivalidade entre Bernini e Boromini.

Como Bernini tinha sido o artista de eleição do papa anterior, Inocêncio X não quis usar o mesmo escultor para desenhar a sua fonte, mas a proposta de Boromini para o projecto foi bastante simples, e Bernini acabaria por conseguir o trabalho através de uma matreirice: oferecendo um modelo da fonte como ela é à cunhada do papa, que era quem usava as calças na casa papal, e quem acabou por persuadir o papa a escolher Bernini. Esta é uma das várias histórias, não afirmo que seja a verídica...

Na fonte encontram-se representados 4 figuras que simbolizam 4 rios (os quattro fiumi), o Nilo para África, o Ganges para a Ásia, o Plata para a América do Sul e o Danúbio para a Europa. O Tejo teria tido muito mais estilo. Huh. Como nessa mesma praça se encontra também a igreja de Sant’Agnese, de Boromini há uma interpretação cómica mas pouco fundamentada das posições dos deuses fluviais, que diz que o Plata, que está numa posição de medo, de braço erguido, teria medo que a igreja de Boromini desabasse sobre ele, mas na realidade a fonte foi completada bastante tempo antes da igreja...não deixa de ser divertido, e é daquelas conversas que fazem recordar pormenores artísticos.

Ainda houve uma outra ocasião muito engraçada em Roma (sim, para além de sermos gamados para o gáudio surpreendente de inúmeros familiares e amigos que seguem este blog... nem sabem o que me custa ler 10 vezes que a parte em que sofremos mais foi a que provocou mais riso!!), que foi a da menina do metro.

Dizem mundos e fundos das italianas, certo? Morenas, de madeixas reluzentes, curvilíneas... E das suecas... esguias e loiras com olhos azuis e pele imaculada...e das francesas...charmosas e fatais, com grandes olhos e bocas sedutoras...e das brasileiras com os seus rabos arrebitados e sotaque de português com mel. Não percebo porquê. Atão e as portugas, pá? E as portugas vira-lata, traçadas de alemoas? Com narizes arrebitados e personalidades irritantes...também são fixes pá! Enfim, com tantas turistas foi-nos difícil chegar a conclusões definitivas acerca deste assunto, mas houve uma italiana que teve muitos pontos:

Estamos nós no metro, a caminho do parque de campismo, quando entra uma miúda novinha, com uma indumentária que escandalizaria até à morte qualquer avó menos moderna que a minha: um cinto-saia, um top mostra-mamas, botas pelo joelho, 80% da cara constituida por camadas e peças amovíveis e um cabelo aloirado até à brancura. Era boa, admitidamente. Não bonita, mas boa. Sim, porque eu tenho uma teoria, segundo a qual se trata de dois parametros diferentes: Há miúdas que são boas, podres de boas, mas que não são nada bonitas. E há miúdas bonitas as que não são boas. E depois há os raros casos daquelas que são as duas coisas, mas essas são sempre burras.

Esta ou era uma adolescente iludida, naquela fase em que ainda não se percebeu que por vezes menos é mais e que não vale a pena tentar disfarçar um nariz grande pondo camadas de base cada vez mais grossas no resto da cara, numa espécie de nivelamento geral, o que é certo é que também não tinha percebido outro pormenor mais importante ainda: se quisermos conservar algum pudor, quando a saia é mais curta que um palmo e meio de coxa temos de nos sentar de pernas cruzadas. Obrigatóriamente. Senão toda a gente, e especielmente os Mr.Y’s rebarbados vão conseguir ver que as cuecas são de renda vermelha e semi transparente e que a depilação é bilabial. Pois.

Cerca de cinco minutos, dois litros de baba masculina e alguns pensamentos meus sobre a objectificação da mulher a nível sexual mais tarde, resolvi ser uma cabra insensível, como de resto me é recorrentemente dito, e pôr um termo na coisa: Eye-contact. Eye movement. Ligeiro apontar com o queixo. E Zuca! A barraca fechou com um cruzar de pernas embaraçado da proprietária. E depois quero que os misters gostem de mim. Não gostam. Pois com certeza que não gostam.Mas tem de haver um bocadinho de solidariedade de vez em quando, não? Para equilibrar.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Collusseum F...

O Grande F

Infelizmente tenho uma triste comunicaçao a fazer… o capitulo intitulado Veneza-Florença e toda a nossa maravilhosa estadia por lá esta perdido, ou pelo menos está perdido o que ja existia dele. E vai demorar um pouco a publicar.

Escrevo-vos estas linhas de um teclado italiano em Roma, sem tis nem acentos (pelo menos onde eu os consiga encontrar, e nao me apetece fazer alt+fdx+ctrl_3 cada vez que quiser um acento agudo) o que me abranda consideravelmente e irrita na mesma proporçao.

!!!!EDIT dia 19 de Agosto para correcção um teclado civilizado!!!!


E com alguma tristeza vos relato o f*dão do século! Pensavam que pagar 4 euros por uma garrafa de agua era um f*dao? Pois reconsiderem, e redefinam o conceito de f*dão. Não, não perdemos a mochila das coisas de banho. Não, não perdi os meus ténis novos da adidas, de 75 euros. Não, não fiquei sem a mochila que continha toda a roupa. Também nao foi caso de ficarmos sem os sacos de comida e do camping gás. Nem foi perder o laptop, ou, imagine-se, perder os três passes de interrail. Nada disso.

Mas se imaginarem isso tudo junto, já ascende a um f*dão razoavel, boa? Entao acrescentem a essas circunstâncias todas perder as calças de ganga preferidas, e ficam com uma descriçao bastante completa daquilo que nos falta neste momento. 

Neste momento estou em Roma sem Interrail pass, que não é reembolsável, sem calças (mas dando graças a Deus de o meu lovely Mr.X ter uma figura quase tão linda como a minha, o que leva a que as calças dele me sirvam, ficando-me, inclusivé, razoavelmente bem: nas palavras de um deles “atão não é que a gaja fica boua nessas calças?!”...do mal o menos.) e, muito irritantemente, sem o meu pequeno laptop, que tinha trazido contra o meu better judgement e que, tendo-me sido oferecido nos meus anos (26 de janeiro, para os mais distraidos) tem servido de distração à minha mamae, que, aquando de 14 de Fevereiro me arruinou o dia dos namorados partindo as duas perninhas (sim, tenho uma vida dramática) de modo a que mal tive tempo de o usar. Só tinha começado uma traduçaozinha nele, que agora devo ter que refazer, pois penso que o meu menino por estas horas deve estar a ser vendido de candonga em Nápoles...mas estou-me a adiantar.

Em Florença tudo correu muito, muito, bem. Como depois lerão. Apanhámos o comboio das 21:13 de lá para fora, sem pagar reserva (inedito!!!) e a dormitar, a ver filmes no pc, e a escrever as entradas do blog, seguimos ate Roma, a nossa próxima paragem.

Chegámos à linda cidade dos gnrblgnrbls-basiliscopelasnalgasacimagrrr por volta da meia noite e meia, cansados mas contentes com o timing maravilhoso, e abancámos na estação. Era dificil encontrar hostel aquela hora, e queriamos apanhar a bilheteira logo às 6 da manhã, quando não há filas, que costumam ser terriveis. Ao fim de pouco tempo, estava eu a engolir a primeira colher de cereais com leite, aparece a policia, que nos manda sair da estacao porque esta ia fechar. E lá se foi o nosso spot fixe, com luz e vigilância. Saimos - pois que remedio, - e começámos a descida para a desgraça, ao recusar um sujeito cheio de panfletos, que nos tentou impingir um hostel à saida. Queriamos esperar aquelas horinhas sem gastar dinheiro. Hahahah.

Andamos uns 100 metros e abancamos sofremos o colapso cansassis num parque de estacionamento, bem iluminado, debaixo de umas arvores frondosas. Estava toda entusiasmada com tudo, eu, e tive vontade de fazer referência ao meu estimado ex, o most knowledgeable Mr. Filipe Máximo (sei que não o disse muitas vezes ao longo de oito anos, mas o homem estava carregado de razao nesta!). É que estava tudo cheio de mitra. Mitra italiana e de outros paises, mas da pior espécie. Se fosse com o meu ex-respectivo nem pensar que eu sequer ali me sentava, quanto mais deitar-me dentro de um saco de cama, mas olhem, a viver é que se aprende.
Tomei as devidas precauções: coloquei o meu dinheiro, o meu passaporte e cartão multibanco dentro de uma bolsinha que tenho ao peito, deixei a carteira com cinco euros (“todo” o nosso dinheiro em caso de assalto) dentro da minha malinha que usei como almofada e ainda pensei em por o PC no fundo do saco de cama, mas nao o fiz. Descalçei-me, e deitei-me. Voltei-me a levantar, pois estava demasiado segura, e troquei as calças de ganga por uns calções (e vá lá não me pôr de cuecas). Agarrados às malas, adormecemos. O pior foi que adormecemos os três, ainda nos fartámos de gozar com a vigilancia do Mr.Y, mas até ele nessa noite cedeu ao sono – erro crasso que ainda choramos.

Por volta das sete da manha, acordamos ao som de “Ragazzos, ragazzos! No povele durmire questo! Nunidiamo, pesto spaghetti! Urdimos!” Abananados erguemos as cabecinhas e fiz o meu melhor PR smile: Com certezza, tutti certi, tutti beni, vamini presto e com pesto!
Os dois policias seguiram, e nós levantamo-nos, olhamos à volta, fizemos um double-take: Ondéque…pera lá…ondéque…ó Mr.X…naaaa…
Faltavam-nos duas malas. A minha mochila completa (Moxila), com tudo, desde cuecas a laptop e desodorizante, os meus tenis novos (e giros) e, laste bute note leaste, la cosa nostra, nostro Interraglio!!!
Todos os nossos passes. Gone. Bye-bye. Gone, baby, gone. Perdidos para sempre às mãos de um qualquer ladrão ao qual nao desejo senão que lhe dê cancro testicular e que lhe mirre e apodreça a minhoca do tamanho de um amendoim que o faz ser porco ao ponto de roubar os ténis a uma senhora que dorme! Tenho o dito. E é um mal que nao pode fazer ricochete, disso precavi-me. Não me afectaria.

Questo, e desta forma, sentimos a potenzia do F*DÃO mestre, enquanto normalizavamos os nossos nervos e perseguiamos os policias pelo estacionamento a fora: Nada beni, nada beni, afinali roubarinos tutti, ate as cuecci!! (Eles nao perceberam a parte dos cuecci, mas era irrilevanti. Só me ocorria que se eu tivesse de facto tirado os calções tambem teria de correr em cuecas mesmo, para além dos chinelos nr.43 do Mr.Y que tinha enfiado à pressa.

Neste esplendor todo, depois de uma reprimenda paternal que ja de nada adiantou “No, meh whye you esleepe here?” de mãos atiradas ao ar em forma de bico de pato desesperado, seguimos para o offizio dos carabinieri onde viria a passar a manhã com um duplo do Robert de Niro, que era senhor dos perdidos e roubados estrangeiros, e que tinha um feitio e uma atitude péssimas. Aí sim, vi o que era estar pior que nos...pior era ficar também sem dinheiro e sem passaportes e nao falar inglês, como vi acontecer a uma miúda da Coreia do Norte, que ajudei o melhor que pude, enquanto o Sr. De Niro gritava com ela: Spique Ingliche? Yes? No? Not a leettle, YES, or NO???
O senhor era uma fera, mas comigo não ia ter sorte nenhuma. É para estas alturas da vida que treino, e ao fim de quinze minutos era a Ms Sophie, que tinha direito a olhares cúmplices e a ser tratada pelo nome. Ah pois é bebés.
No fim da denuncia, ele autorizou o Mr.Y a copiar o texto descritivo “ove your girlfriende”, ao que eu me desmachei a rir e disse ao Mr.Y: “See, you just got yourself a girlfriend!”. E não é que a criatura me responde: “Oh, is not girlfriende? Ah, ise still available?”
Já tenho tido umas boas, mas esta foi de facto das mais comicas intervenções de bate-couro das quais tenho memoria…

Na última meia-hora ainda conhecemos dois jovens que tambem vinham participar um furto, um alemão lindo de morrer, e uma miúda african-american, sobre a qual o Mr.Y insiste que eu adicione que ele se babou todo, e que nos deram umas óptimas dicas. É à pala deles que estamos aqui num parque de campismo com tendas com camas do Ikea, a 11.50€ a noite, com piscina e tudo, e montes de visitas guiadas de borla.

E agora tenho de ir comer, senão amanhã nem neste teclado vos escrevo.

Bacci**
Ms Sophie

Florença - a taste of the Toscana

My loves,

Devido a graves problemas tecnicos este post so sera disponibilizado posteriormente. Pedimos desculpas em plural majestoso.

Bacci**
Soph

NEW NEW NEW NEW EDITADO A 18 DE AGOSTO 2010 NEW NEW NEW NEW

Veneza – Florença, escrito retrospectivamente, no P.F (pós - Fod*o)
*Re-escrita póstuma, em tons de lamento e luto*

Há coisas que me irritam. Pessoas que vomitam de bebedeira, por exemplo. Ou queimar um refogado. Ou perder tempo de vida útil em arrumações e limpezas. Mas há poucas coisas que me irritam de uma maneira tão constante e homogénea como ter de refazer trabalho – especialmente quando o trabalho tinha ficado bem feito à primeira passagem. É o caso deste post. Este post foi a última coisa que escrevi no meu pequeno laptop, que tão novo era que nem nome ainda tinha. O anterior chamava-se Jane, e vai ficar contente de ser reactivado do seu estado de reforma merecida. O meu pequeno laptop, colhido na flor, ou melhor, no botão da idade, de maneira tão cruel, e que agora jaz em paz junto de do deus dos computadores, o grande Binarius.
Mas deixemos de chorar os mortos. Quem sabe o pobrezinho até renascerá em Pisa, amnésico depois de uma formatação que o despojará de todas as imagens e memórias da sua dona loira, e começa a trabalhar noutra área, onde a virgindade pornográfica se perde antes dos 8 meses de posse... Pois, tinha-o desde janeiro, e nem essa vontade lhe fiz... E já agora, enquanto ainda me lamento: Há poucas coisas das quais tenho tantas saudades como do comando “Asa!”, ao qual os meus dois cavalheiros já correspondiam de uma forma comoventemente rápida e por vezes até voluntáriamente. Tenho saudades de passar, no meu passinho de gansa emproada, pelas fileiras de gente ensonada, num comboio, sopapeando toda a gente, à esquerda e à direita, com as abas soltas da Moxila com x, que nunca fechava sobre os meus lombinhos por essa mesma razão. Coitadinha da Moxila...também mudou de vida, e deve andar a prostituir-se, abrindo os fechos e os bolsos para todos e quaisquer objectos vagabundos e mal-lavados. Também tenho saudades do com certeza hilariante, se bem que na altura inconsciente, epitáfio que escrevi sobre os emaranhados fios do meu transformador e dos meus fones, cujas actividades pouco razoáveis comparei a uma orgia de cobra, uma vez que me transcende a destreza e artimanha com que dois simples fios se embrulham e contorcem em nós tão sofisticados que eu só os conseguiria recriar com o auxílio de um livro chamado 1001 Nós de Marinheiro: Ate os Seus Problemas e Não Deixe Pontas Soltas. O que eu não daria, agora, pela oportunidade de passar uma ou duas horinhas a desatar esses enleios abençoados e a passar a caixinha do transformador e os fones através de 45 laços diferentes...*suspiro*
Mas falemos de Florença, que já chega de divagação.
Nesta cidade correu tudo tão bem...especialmente em comparação com os mais recentes desenvolvimentos! Assim que saímos da estação, encontrámos um hostel agradável numa zona maravilhosamente central onde nos arranjaram um quarto limpo e confortável também cheio de adjectivos e com uma cama de casal e uma daquelas vis construcções para desdobrar que se fecham sobre unhas e pregas de pele com malvadez enegrecedora e cuja dureza é atenuada por um colchão fininho. Ficou acordado que seria mais moralmente correcto as duas pessoas comprometidas ficarem na cama de casal, sendo o Mr.Y relegado para o coté de geometria variável, acompanhado de preces para que a geometria não o fizesse acabar fechado que nem uma ostra, no meio do chão, com uma mola nas “nalgas” como se diria, regionalmente. Libertados das nossas malas pesadíssimas (se bem que não tão libertados quanto eu me viria a sentir algum tempo mais tarde, NÉ???) e fomos dar a primeira volta das vacas pela cidade. Por ruas carregadas de história desconhecida, sobre várias pontes que unem as margens do rio Arno onde tirámos fotografias encantadoras, banhados pela áurea luz da Toscana que já inspirou tantos artistas. (Ou pelo menos assim pensámos até vermos os resultados tremidos e desfocados dos nossos esforços num computador).
Na nossa cozinha, que dava acesso a uma pequena cozinha, comemos cereais, depois de fazermos compras num pequeno minimercado, passe a redundância, mas era mesmo minimi, e conhecemos duas simpáticas meninas, com as quais conversei alguns minutos em inglês até elas começarem a dizer maravilhas do clima do seu país natal, que nos fez chegar à conclusão que – vidi – eram tugas também! Os meus desconfiados e calados misters descongelaram notóriamente, e começaram a conversar animadamente. Tinhamos como plano geral não nos deitar muito tarde , uma vez que eu valorizo muito a minha piquinina culturazinha geralzinha, de modo que tinha marcado uma visita guiada para o dia seguinte, pelas 9h. Mas depois do jantar, que consistiu numa lata de gratinado de batata com parmesão roubado a alguém, do frigorífico, e uma tradicional minestrone (Knorr...) acompanhadas de uma garrafa de vinho tinto (menos para mim, como sabem) não fomos capazes de ser songas-mongas ao ponto de nos irmos deitar e andamos a galdeirar pela noite de Florença, sendo a parte mais interessante da saída um bar dedicado à arte de esculpir madeira com um torno, todo decorado com goivas e peças em diferentes estágios de formação até à perfeição absoluta de um par de patins em linha com textura nos atacadores e tudo. Gostaria muito de ver, ou quem sabe até experimentar este tipo de trabalho, deve ser giríssimo.
Chegados a casa, eu dormi que nem uma leitoa, como de resto costumo fazer, até quando me roubam as malas debaixo do rabo, já o Mr.X queixou-se de hábitos de sono derivados do futebol de salão/estrela do mar por parte da minha pessoa, que o levaram a abandonar o leito conjunto para procurar repouso do outro lado da cama. O Mr.Y, por sua vez, tentou enganar o desconforto do coté vagabundeando por bares de shots até os galos fiorentinos cantarem o seu característico ciucciolocó, ou, quem sabe, até as portuguesinhas cantarem.
Na manhã seguinte, sem dó nem piedade, dei a alvorada e mais um menos bem dispostos lá seguimos, de mapa em riste, até ao ponto de encontro. A nossa guia chamava-se Elisabetta, era meio inglesa, meio italiana, e começou com uma introduão mais geral do ponto histórico da situação, uma vez que a visita se iniciava na Piazza della Republica, outrora centro político, económico e religioso de itália. Entre 400-1860 a Itália foi um mosaico de pequenos estados, cada um com o seu governo, as suas leis, a sua moeda, e as suas garras ferradas na ideia de independência, e a Toscana era a região em que esta fragmentação era mais notável.
Em 1860, deu-se uma unificação algo forçada, que no entanto não eliminou a fragmentação e as ideias regionalistas pelo que a itália foi um dos países europeus que mais trabalhou no sentido da criação de um espírito de união nacional. No caso específico de Florença, a cidade envolvia-se em espanpanantes de ruidosas guerras com a sua rival Siena, que, no entanto, raramente provocavam mortos ou feridos graves.
Por volta de 1550 Florença era a capital da Toscana, e estava sob a oligarquia de uma família que viria dar que falar: Os Medici. Para entender a enorme influência desta família, há que ir às suas origens: tratava-se de uma família de banqueiros, numa cidade que no século XIV já tinha por volta de 140 bancos – uma profissão importante que no entanto se movia nos limiares da ilegalidade, uma vez que surgia sempre intimamente ligada à usura. Florença nesta altura era uma metrópole mundial, com 100.000 habitantes, quando Londres, por exemplo, se ficava pelos 40.000. Os Medici pagavam avultadas somas de dinheiro a fim de minimizar os seus pecados terrenos e garantir a sua passagem de primeira classe para as nuvens de algodão doce, à semelhança das indulgências, contra as quais Martinho Lutero se viria a revoltar tanto, em tempos porvir. Este dinheiro permitia o financiamento de inúmeros projectos artísticos para a igreja, que serviam, portanto, como uma espécie de segurança social para o além – fui pecador, mas vide, ofereci uma linda cúpula com frescos a Deus nosso senhor...será qua já chega para um one-way ticket to cloud Nr.9, ou tenho de arranjar mais meia dúzia de anjos de mármore?
Entre o século XIII e o século XVII os Medici estiveram por detrás de quase todas as decisões políticas em Florença, não abertamente, uma vez que não eram aristocratas, mas num segundo plano poderoso e cada vez mais óbvio. Com o passar dos anos, a família iria adquirir o título de duque, e mais tarde de Grão-duque contando nos ramos da sua árvore genealógica rebentos tão ilustres como duas rainhas de França e dois papas.
No século XVII, a família acaba por extinguir-se, na linha masculina, possivelmente devido ao elevado de grau de consanguinidade, de resto talvez a última característica enobrecedora, uma vez que era mal geral da famílias aristocráticas europeias.
E já que falamos nos podere políticos da cidade, há que mencionar as guilda, ou corporações de ofício, que eram basicamente associações de pessoas do mesmo ramo de trabalho, das quais eram eleitos alguns membros para governar a cidade, com destaque para as guildas de seda, especiarias, lã e dos câmbios monetários, que eram muito poderosas.
Passámos ainda o ex-gueto judeu, que foi constituido por volta de 1560, pelo papa: como se já não bastasse deixar os banqueiros judeus ficar com os sectores da população que apresentam menor incidência de pagar os fundos emprestados...
Avançámos para a igreja Orsanmichele, uma estranha igreja quadrada que começou por ser um mercado, no qual se encontrava, (como em quase todas superficies planas, quer horizontais quer verticais, nesta cidade) uma nossa senhora que começou a ficar conhecida por fazer milagres até ser destruida por um fogo. Após essa desgraça, alteraram o mercado inteiro para igreja, deixando, no entanto, o silo no andar de cima, o que levou a que tivesse de ser feito um acesso alternativo para o mesmo a fim de impedir a passagem de labregos a cheirarem a cavalo e carregados de sacas de trigo a meio da santa missa.
O exterior da igreja está decorada com várias esculturas dedicadas e comissionadas pelas várias guildas: A dos escultores, que representaram os seus 3 santos padroeiros, santos mátires que se recusaram a esculpir figuras pagãs (o seu último acto de bater o pé nesta terra, diga-se de passagem); a dos fabricantes de armas, que representaram S.Jorge – que, curiosidade trivial, foi recentemente dessantificado e pode oficialmente ser chamado só Jorge, por ser considerado politicamente incorrecto, à luz das últimas evoluções da coisa, matarem-se os poucos exemplares de animais mitológicos que ainda restam no mundo, mas que, no entanto (frase ténia, esta) foi esculpido por Donatello e é o primeiro exemplo de perspectiva geométrica e pontos focais na história da escultura, o que de resto foram inovações não muito bem aceites pelo grande público.
Continuamos a caminhar, passando por vários palácios e casas senhoriais, o palazzo Davanzati, compacto, alto e austero, dedicado maioritáriamente à defesa, datando do século XIII , seguido do modelo renascentista do memso conceito, mas escravizado pela racionalidade e simetria, o palazzo Strozzi que para além de servir de abrigo tinha também que satisfazer a ânsia de harmonia e beleza geral. Estes Stozzi eram os rivais dos Medici, e Filippo Strozzi, o dono do referido palazzo, nunca o chegou ausufruir dele como queria, uma vez que foi exilado antes de as obras estarem terminadas. Um pormenor interessante a nível da arquitectura é que a altura das decorações diminui com a altura crescente do edifício, para dar a ilusão de maior distância.
Já na igreja da Piazza di Santa Trinita aprendemos que as capelas laterais eram alugadas a famílias abastadas que assim podiam ter missas privadas e mais íntimas, e dedicámo-nos à análise de alguns frescos, o que nos levou a concluir que os mecenas não faziam nada em troca de nada, querendo sempre algum estrelato a nível da representação que financiavam, nem que isso implicasse manipular a história e a geografia, colocando um nobre senhor Sassetti numa cena que decorreu em Roma, a centenas de quilómetros dali. Este Sassetti, como é interessante explicar, era o gerente dos bancos de Bruges e Londres, ao encargo dos Medici, e estava um pouco desiludido com os Dominicanos, que não o deixavam ter um fresco na igreja deles, pela simples razão de ser “Francisco” de primeiro nome, o que seria o equivalente a um senhor chamado Benfica da Silva se candidatar a presidente do Sporting: Dominicanos e Franciscanos sempre rivalizaram um pocochinho.
Mais duas curiosidades: As senhoras italianas no renascimento eram todas loiras! Isto não se devia a uma anomalia genética mas sim a horas passadas ao sol, com a cabeça encharcada em amoníaco proveniente de urina de cavalo. Nham,Nham. E o lema dos Bertolini-Salimbeni “Per non Dormire” juntamente com as três capsulas de papoila no brasão é mesmo uma alusão a ópio, com o qual a simpática família tinha como costume drogar os seus rivais no negócio das sedas.
Finalmente seguimos pela ponte vecchio, que data do século XIV, tendo sido a única ponte a sobreviver à segunda guerra mundial, havendo acerca disso várias teorias: 1)Há quem diga que ao ordenar a destruição de todas as pontes em Florença, Hitler se tenha lembrado de outrora ter sido muito feliz sobre a ponte vecchio, 2)Há quem diga que se tratou de um acordo entre aliados e alemães, e 3) a hipótese de a bomba posta na dita ponte simplesmente não ter explodido.
O mais interessante a ver na ponte vecchio, é, no entanto, o corredor Vasari, chamado assim em honra do seu arquitecto, Giorgio Vasari, que é uma passagem fechada, por cima da comoção da plebe, encomendado pelo etão já Grão-duque Cosimo de Medici. Este corredor liga o palácio vecchio e o palácio Pitti, tendo cerca de 1Km de comprimento, e levava os Snobedici em segurança até à sede do governo, para além de os colocar numa posição de suerioridade física. Há um, e um só edifício que obriga o corredor a fazer vários ângulos,uma vez que os donos tiveram o raro desplante de se opor aos Medici, atitude sobre a qual Cosimo terá dito que “em sua casa cada um é rei” – justo, no mínimo. Tradicionalmente a ponte vecchio era a área de eleição dos peixeiros e carniceiros, uma vez que o rio providenciava ao mesmo tempo uma lixeira e um ponto de acesso prático, mas desde 1580 estes negócios mal-cheirosos foram substituidos pelas inúmeras ourivesarias que ainda hoje se encontram no local. Os Medici tinham algo contra Eau de Poisson and Cologne Old Meat, fragrâncias que ofendiam as suas arstistocráticas - ou melhor, mercantis – pencas.
E acabada a nossa visita a Florença, acabavam também as nossas últimas horas do nosso primeiro interrail...e vim a descobri que a culpa é do Mr.Y. Isto porque acredito na força do pensamento e da materialização e não gosto nada de agoiros e negativismos por isso mesmo, e o Mr.Y começou esta viagem afirmando que estava com a conta recheada, alias, dinheiro suficiente para fazer DOIS interreis...! Pois bem. Estavamos a em vésperas de nos vermos livres dos passes do nosso primeiro, e como eramos todos demasiado orgulhosos para voltar para casa cobertos em ignomínia e de cabecinha baixa, vocês, leitores, têm o privilégio de poder consumir ocularmente a parte dois, segunda era da cronologia, o P.F, o pós-vocês-já-sabem-o-quê. Devo poupar nos palavrões, nunca os tive como hábito, uma vez que acho extremamente deselegante, especialmente numa senhora, mas a convivência com as últimas letras do alfabeto levam a que alguma coisa passe de uns para os outros. Eles hão de acabar a viagem a saber quem é S.Sebastião, Leda, e outros temas recorrentes da pintura universal, e eu já começo o dia a dizer “É uma mer*a fecharem este ca*alho às segundas!” Francamente, Ms.Sophie. Peço desculpas.
Bacci,
Sophie