sábado, 21 de agosto de 2010

Praga de Cágados em Praga

Wiena-Praha

Em Praga tivemos algumas surpresas engraçadas. Para já, eles não têm o euro. Não sei o que nos levou a pensar que teriam (acho que é uma coisa chamada “iguenuransia”, da qual já tenho ouvido falar, e falta de cultura geral também) mas o que é certo é que assim que saímos do comboio demos por várias barraquinhas de agiotas que anunciavam a possibilidade de fazer câmbios. Dê-nos 10, nós damos-lhe 3! Pague 4, leve 1! Thanks! Até dá vontade... Obviamente tivemos de trocar algum carcanhol, e feito isto entramos no posto de turismo onde um encantador senhor loiro nos elucidou acerca de tudo o que eu queria saber, e garanto-vos que não era pouco. Por vezes espanta-me a paciência que as pessoas têm para me aturar.

Estavamos restringidos pelo P1 e resolvemos apoiar-nos fortemente no seguinte efeito psicológico estudado: mesmo quando as férias são um desastre, e curtimos mal como tudo, e o hotel é uma porcaria, e ficámos com patas de escarvelhos entre os dentes ao comer os croquetes , o nosso cérebro tem tendência a proteger-se pintando um quadro rosado e muito mais positivo da coisa, sendo que as memórias que ficam são uma espécie de “versão para namoradas e mães”, em que tudo foi civilizado, limpinho e elegante, e não houve clubes de strip rascas nos quais se estoirou o dinheiro todo, nem discussões, nem pés doridos com meias recicladas 3 vezes... (como nós não tivemos, de qualquer modo, né?) Por isso já que nas nossas memórias ia ser tudo 5*, mais valia escolher o hostel mais baratuxo, por 10 euros a noite, num dormitório misto, sobre o qual o senhor do posto de turismo cuidadosamente afirmou que “não era muito nice”. Naice?? Quem é que quer naice se podemos ter chipe? Munidos de um mapa da cidade e de 3 reservas para o un-nice hostel, começámos a fazer caminho para lá.

Pela primeira vez depois de ter ido a Wales, senti-me completamente analfabruta. Sabem o que é não conseguir ler nada, nem sequer os sinais indicativos dos cacifos, os nomes das ruas ou os slogans dos anuncios? É que em italiano, francês, inglês, alemão, sueco, holandês, espanhol etc, vai-se percebendo muita coisa, agora checo, esqueçam lá! A única rua cuja placa tinha algum interesse foi uma chamada Nám W. Churchilla, uma rua dedicada à namorada do Winston Churchill e ao Godzilla, claramente, o que me lembrava um bom amigo, pois coisas como “divadlo ponec” não surtiam nenhuma associação linguística.

O hostel era, bom, era hosteloso. Era uma escola que só servia de hostel nos meses de férias, e consequentemente o dormitório tinha um quadro e não se podia trancar. Mas enfim, também era só por uma noite. Atirámos as malas para a sala de aula pensámos em tomar um banho, não tomámos, acho eu – perem lá, este blog é meu, escrevo o que quero: Eu obviamente tomei um banho, os porcos dos misters não, e depois tratámos de fazer coisas que eu queria. Isto porque desde Roma que eu não tinha sapatos, e tinha-me desenrascado com uns chinelos daqueles de 1€, que entretanto tinham falecido em Wien, para voltar a usar as havaianas do Mr.Y, que me faziam parecer um Yeti com snow-shoes, mais ainda que o costume, pelo menos, pois se 40 é grande 44 é maior ainda.

O problema era que é muito difícil para mim fazer cambios mentais, e vi me reduzida a uma pessoa que tem “muitos dinheiros”, uma vez que as coroas checas lembram o bom velho escudo, é preciso centenas delas para conseguir concretizar uma compra. Acho que 25 coroas são um Euro, logo 10 euros são nítidamente...hum...mais coroas, assim mais ou menos, quê, 250? Então uns ténis a 600 são 25 euros o que é um bom preço? Sei lá se é os chineses... Certo é que tinha visto uns ténis Airwalk novos em folha, ainda com as solas limpas, numa loja em segunda mão, possívelmente roubados há pouco tempo a uma turista que dormia no parque, what goes around comes around, turista que por esta altura deve estar a comprar uns Adidas vermelhos, pretos e brancos em Nápoles, a vaca!
Experimentei os Airwalk, e sim, estavam bons. Mas obviamente que não os podia comprar!! Haha, essa é que era boa! Ver algo a bom preço, gostar, e comprar logo? Nanana, primeiro tenho de ir a um centro comercial experimentar mais 40 pares, sempre com os primeiros na cabeça! E ouvir comentários do género “quer em tamanho 39-40? – olhar incrédulo para as havaianas 44 – não lhe vão servir...” VÃO SIM!!! Não vê aqui os meus pés piquininos no meio da havaiana sua garça? Chús bilonce tu mai Boyççfrienditch, okapa? Não era técnicamente verdade mas não quis a vendedora a imaginar uma manada de raparigas alemãs patudas, ao ouvir só “friend”.

Nesse centro comercial também comprei umas calças e uma blusa para poder alternar com a que me restava, e senti-me quase uma nova mulher. O que é certo é que temos a mania de que precisamos de muito mais coisas do que aquelas que efectivamente precisamos...Comprei um boião de creme especial para amolecer calos, e durante o resto da viagem usei-o para me besuntar integralmente a mim, e de o impingir ao Mr.X que começa a escamar-se que nem um leproso se não puser creme, e ariops, eis nos suaves e fantásticos. (brincadeirinhaaa...era um Dove normal, não para calos, calma!...Estava a ver o Mr.X a ler isto e a começar a suar...)

Quando acabei de fazer estas compras, estava bem disposta, mas o mesmo já não se podia dizer dos Misters...o X sim, que não é muito dado a moodswings, tem outros defeitos, mas o Y quando fica com o periodo só à pazada. Estava pior que uma barata, com um flyerzinho de um strip club amarrotado na mão, e um biberão de cerveja. O que é que se poderia fazer para o animar? Procurar a localização do Hot Peppers, pois com certeza. E assim fizemos.

Foi a primeira visita a Praga, ao escurecer e com um objectivo pouco nobre, chamemos lhe o ensaio para Amesterdão, pois afinal há coisas que têm de ser apresentadas aos campónios em doses homeopáticas e entenda-se que me incluo no grupo anteriormente referido. Palmilhámos a cidade e o mais parecido que encontrámos foi uma televisão gigantes que passava anuncios de várias coisas da cidade, entre os quais figurava o Hot Peppers Club. A conclusão que o club era mesmo por baixo desse ecrã só nos chegou lá para as 11 da noite, ou mais tarde ainda, quando já estavamos por tudo e entrámos directos.

E aí tive a oportunidade de fazer alguns estudos sociológicos, de análise à mente humana, e dos abismos hormonais do dito sexo forte. O clube funcionava assim: entre as 23h e as 6h da manhã (ou qq coisas assim) não se pagava entrada, estavam permanentemente a decorrer shows, e só se pagavam as bebidas consumidas (a preço de ouro).

Foi nos indicada uma mesinha, bastante perto do palco, que era uma espécie de cat-walk em T, com dois varões, uma atrás e um à frente. À volta do T ficavam os privilegiados, com olhares vidrados e uma pequena vala à frente, que conduzia a saliva para contentores refrigerados debaixo das mesas, de onde mais tarde era aproveitada para a indústria da lubrificação, numa espécie de círculo simbiótico. Estava meia-luz, música total e as cores e texturas predominantes eram o vermelho e o veludo, exeptuando-se a pele suada, como é óbvio, que não vou contar como parte da decoração. Sentámo-nos, e pude observar os meus dois misters a reagirem à grande população de meninas boazudas em cuecas e sutiãs, biquinis, mini-saias daquelas, corpetes, calçõeszinhos que nem mereciam o prefixo calções, eram mesmo só “zinhos”, e de meninas boazudas em cima do T, sem nada.

O Mr.X ligou à namorada, informou-a que estavamos em Vienadáustria em frente à Ópera e depois desligou com um ar meio absorto e fez uma cara tão surpresa ao ser confrontado com o facto de estarmos em Praga que até acredito que tenha sido uma mentira involuntária. Depois era vê-lo a tentar manter alguma dignidade, olhando para mim de vez em quando, dirigindo-se a mim chamando-me pelo nome, e tentando ter uma conversa civilizada de quem costuma ir ao stripclub beber café frequentemente. “Óh Mr.Y”, dizia ele, “Quanto é a cerveja?”

O Mr.Y era um caso perdido, e isso notou-se desde o primeiro momento. Se o Mr.X ainda esperneava, o Mr.Y tinha caído numa apatia completa que me elucidou mais profundamente acerca dos homens do que 25 anos de convivência com eles. Agarrado à carta das bebidas com as duas mãos não respondia nem dava sinais de ouvir, com um ar de bombista islâmico que acabou de chegar à sala das 7 virgens. Como não era possível comunicar com ele sem antes o acordar com um sopapo de mamas, e como nenhuma das miúdas se prontificou a fazer isso sem remuneração, tivemos de lhe tirar a carta e deixá-lo de mãos erguidas a esbugalhar os olhos para o vago infinito ou quem sabe para as curvas do trio exótico que rodopiava no palco.

Tenho a dizer que as miúdas, na sua grande maioria, eram mesmo muito giras, claro que temos de dar sempre o desconto da pouca luz, da muita maquilhagem e das roupas adequadas, mas sim senhor, havia ali bom material. Ao longo da viagem começei a notar em mim definidas tendências brejeiras, e acabei a aventura a conseguir avaliar raparigas numa escala de 0-10, enquanto masco um palito e cuspo pelo outro canto da boca melhor do que qualquer um dos misters. Só não faço test-drives!

Ao fim de um bocado o Mr.X alertou-me para o facto de eu estar numa posição tensa de governanta inglêsa, com a espinha hirta, um longo pescoço de garça, o nariz empinado, a cabeça de lado e uma sobrancelha erguida em ar de “Well ah don’t know abou thah, deah...” Fiz shift e reset para a posição e expressão entediada de “I’m cool, I’m fine with this, In fact, I do this all the time!” e comecei a olhar à minha volta. Muita testosterona. Bom, estou habituada a dar aulas a dezenas de rapazes puberdosos ao mesmo tempo, mas não num ambiente de tal ordem libidinoso... Aquilo eram muitos homens a pensarem em coisas porcas.

Era de facto preciso ter uma boa dose de autoestima para sequer se atrever a ir para um sítio daqueles, ainda mais se fosse com namorados ou maridos. Tudo bem, dá para aprender uma coisas, e as meninas também têm celulite, o que é bastante animador, mas ver o respectivo a babar-se por alguém que nos dá assim 10-2 só naquela, não deve ser fácil. Possívelmente era por essa razão que eu e outra rapariga loira eramos as únicas fixes que estavam ali. Mas...ups, não, a menina loira trabalhava lá e estava só a convencer um cliente a ter um lapdance. :-S Felizmente com os misters ciumeiras e vontade de auto-afirmação não era a minha área de jurisdição, e ainda tive a oportunidade de ter um pouco de ego-polishing quando me dirigi à casa de banho e vários homens olharam para mim perplexos, do género: “Vais despir alguma dessa roupa, certo? Esta deve ser da trupe das prude girls go bad, a que horas começa?”

A dado momento do campeonato uma das ladies veio ter connosco, oferecendo-nos várias opções caras, como sessões privadas e danças em cima de tudo e mais alguma coisa, sendo que eu teria o privilégio de lhe poder mexer, ela não se importaria. Huh? Descasquei-me a rir ante os ares de profunda inveja dos injustiçados misters, mas recusei, agradecida. Não quero mexer nas mamocas da Crystal, obrigada. Já parecia um amigo meu que me dizia que se tivesse maminhas ficaria o dia todo sentado a brincar com elas...duh!

Difícil, difícil foi arrancar o Mr.Y de lá. A dada altura já o tinhamos à porta, quando o Mr.X resolve fazer a brincadeira infeliz de insinuar que ia comçar o show lésbico, ao que ele se nos safou com a destreza e ligeireza de uma enguia oleada e em três saltos se colou ao palco. Boa. Que genial. Devias-lhe ter dito que tinhas percebido que a menina em traje de pirata que fazia brincadeiras porcas com o seu alfange era, na realidade um travesti...assim talvez o conseguissemos arrastar até às escadas, né?

Para os misters, isto foi Praga. Penso que não terão memórias do dia seguinte.

Era a primeira vez que ia dormir num dormitório misto, e, misteriosamente, “misto” significava 7 rapazes e eu. Eu era o elemento misto! Soava perigoso. Então, para eufemizar o facto de que iria ter de partilhar o quarto com 7 gajos, 5 dos quais desconhecidos, optei por chamar-lhe o meu harém masculino. Sim, em voz alta e em várias línguas. Não obstante, para preservar a minha virtude, escolhi a cama entre o Mr.X e o MrY, e juntei bem os colchões, mais vale os demónios que conhecemos que os demónios que não conhecemos, e alguns dos mochileiros suiços tinham ficado demasiado entusiasmados à menção do harém masculino.

Acordei a meio da noite com gritos arrepiantes, e por instantes ponderei estar a ser violada e a minha voz ter acordado primeiro que eu, mas depois caí em mim e percebi que era o rapaz com a cabeça rapada e uma madeixa de cabelo solitária, com o livro sobre o budismo, que ficava ao lado do Mr.Y. Este não se acanhou e apontou-lhe uma lanterna às ventas, o que o fez recair em silêncio. Não sei se o iluminou de Darma, mas o que é certo é que o Sangha queria dormir. (vão googlear, ignorantes!)Todos temos os nossos traumas, mas caramba, estás num dormitório só mais tens é de gemer baixinho!
Na manhã seguinte, mais ou menos virtuosos, lá nos levantámos, eu com o propósito de ver a cidade, e os misters com o propósito de me arrastarem de volta para o Hot Peppers.

Mas não conseguiram. Fi-los andar a palminhar Praga a passar pontes pictorescas sobre o rio Vltava, jardins verdejantes, dezenas de torres bicudas, muralhas antigas e...sabem que mais? Estou culturalmente desmotivada. Não vi o John Lennon wall, e só posteriormente consegui apreciar a grandeza do Orloj, o relógio astronómico. Todo o centro da cidade foi considerado World Heritage pela UNESCO, para além de ser a sexta cidade mais visitada da Europa, depois de Londres, Paris, Madrid, Roma e Berlim. Praga acolhe anualmente 4.1 milhões de visitantes por ano, e ao passear pela Staré Město, a cidade velha, sentimos isso. É sempre pena quando como turistas que somos nos sentimos mais um de milhares, e vemos tudo preparado para nos acolher, os retratistas, os caricaturistas, as barraquinhas da bijutaria e das joias feitas em âmbar, os pintores e as lojas com lembranças típicas, que já começam a mostrar traços de leste, como as bonecas babushka ou matryoshka e alguns tipos de marionetas. Com tantos visitantes por ano, estou convencida que me perdoarão a fraca qualidade da informação turistica contida nestas linhas...mas não estou nada para aí virada, não sei porquê.

Não muito típico, mas muito interessante foi também o museu da tortura, que existe como exposição móvel por todo o mundo, mas que eu falhei em Évora porque a minha mãe achou desinteressante e de mau gosto para uma criança, mas que foi um to do que me ficou na cabeça... por vezes há que satisfazer as curiosidades mais mórbidas, também.

O Mr.Y não quis entrar, de modo que eu e o Mr.X passámos umas duas horas de arrepios e abanadelas de cabeça sobre os abismos da criatividade humana no que diz respeito a provocar sofrimento ao próximo.

Imaginámos alguns cenários hilariantes que se caracterizavam pela eterna presença dos ladrões das nossas malas e interrails montados em cima de pirâmides de ferro, com as nossas mochilas presas aos pés, para fazer peso e os aproximar das grelhas com brasa que ficavam um pouco abaixo, antes de os enchermos com nove litros de água por um funil e de lhes rebentarmos as tripas com uma pêra anal. E estavamos a ser brandos, não estavamos a aplicar o capacete que apertava com ajuda de um parafuso, esmagando o crâneo depois de o perfurar com espinhos ferrugentos e provocadores de infecções graves e purulentas nos 3 dias prévios à morte dos infelizes contemplados.

Também demos graças ao facto de vivermos num século mais civilizado, onde não nos temos de sujeitar a cintos de castidade – havia lá um modelo masculino muito engraçado! Com piloca articulada!! Nem a máscaras da vergonha, que eram usadas para mulheres resmungonas e insubordinadas, em conjunto com uma tabuleta que dizia “Dragão doméstico”, e com direito a levar com fruta podre pelos vizinhos. Estou desconfiada que haveria algumas pessoas no mundo que a dada altura já teriam sentido vontade de aplicar um ou outro destes artefactos às nossas pessoas...(ou ambos).

E assim acabava a praga de Praga, e os cágados seguiam caminho, rumo a Berlim! Berlim vai ser montes de fixe, dizem que nasce lá gente muito porreira!

Polibky, muitos,
Ms Sophiesky

3 comentários:

  1. fabuloso, adoro ler-te! tenho inveja muita inveja

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  2. My sister went to a strip club?! Whoa... nem quero saber o que é que fizeste em Amsterdam!

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  3. Vou escrever sobre Amsterdam hoje, tremam!
    :-)

    É bom ter o vosso feed-back!

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