terça-feira, 3 de agosto de 2010

Florença - a taste of the Toscana

My loves,

Devido a graves problemas tecnicos este post so sera disponibilizado posteriormente. Pedimos desculpas em plural majestoso.

Bacci**
Soph

NEW NEW NEW NEW EDITADO A 18 DE AGOSTO 2010 NEW NEW NEW NEW

Veneza – Florença, escrito retrospectivamente, no P.F (pós - Fod*o)
*Re-escrita póstuma, em tons de lamento e luto*

Há coisas que me irritam. Pessoas que vomitam de bebedeira, por exemplo. Ou queimar um refogado. Ou perder tempo de vida útil em arrumações e limpezas. Mas há poucas coisas que me irritam de uma maneira tão constante e homogénea como ter de refazer trabalho – especialmente quando o trabalho tinha ficado bem feito à primeira passagem. É o caso deste post. Este post foi a última coisa que escrevi no meu pequeno laptop, que tão novo era que nem nome ainda tinha. O anterior chamava-se Jane, e vai ficar contente de ser reactivado do seu estado de reforma merecida. O meu pequeno laptop, colhido na flor, ou melhor, no botão da idade, de maneira tão cruel, e que agora jaz em paz junto de do deus dos computadores, o grande Binarius.
Mas deixemos de chorar os mortos. Quem sabe o pobrezinho até renascerá em Pisa, amnésico depois de uma formatação que o despojará de todas as imagens e memórias da sua dona loira, e começa a trabalhar noutra área, onde a virgindade pornográfica se perde antes dos 8 meses de posse... Pois, tinha-o desde janeiro, e nem essa vontade lhe fiz... E já agora, enquanto ainda me lamento: Há poucas coisas das quais tenho tantas saudades como do comando “Asa!”, ao qual os meus dois cavalheiros já correspondiam de uma forma comoventemente rápida e por vezes até voluntáriamente. Tenho saudades de passar, no meu passinho de gansa emproada, pelas fileiras de gente ensonada, num comboio, sopapeando toda a gente, à esquerda e à direita, com as abas soltas da Moxila com x, que nunca fechava sobre os meus lombinhos por essa mesma razão. Coitadinha da Moxila...também mudou de vida, e deve andar a prostituir-se, abrindo os fechos e os bolsos para todos e quaisquer objectos vagabundos e mal-lavados. Também tenho saudades do com certeza hilariante, se bem que na altura inconsciente, epitáfio que escrevi sobre os emaranhados fios do meu transformador e dos meus fones, cujas actividades pouco razoáveis comparei a uma orgia de cobra, uma vez que me transcende a destreza e artimanha com que dois simples fios se embrulham e contorcem em nós tão sofisticados que eu só os conseguiria recriar com o auxílio de um livro chamado 1001 Nós de Marinheiro: Ate os Seus Problemas e Não Deixe Pontas Soltas. O que eu não daria, agora, pela oportunidade de passar uma ou duas horinhas a desatar esses enleios abençoados e a passar a caixinha do transformador e os fones através de 45 laços diferentes...*suspiro*
Mas falemos de Florença, que já chega de divagação.
Nesta cidade correu tudo tão bem...especialmente em comparação com os mais recentes desenvolvimentos! Assim que saímos da estação, encontrámos um hostel agradável numa zona maravilhosamente central onde nos arranjaram um quarto limpo e confortável também cheio de adjectivos e com uma cama de casal e uma daquelas vis construcções para desdobrar que se fecham sobre unhas e pregas de pele com malvadez enegrecedora e cuja dureza é atenuada por um colchão fininho. Ficou acordado que seria mais moralmente correcto as duas pessoas comprometidas ficarem na cama de casal, sendo o Mr.Y relegado para o coté de geometria variável, acompanhado de preces para que a geometria não o fizesse acabar fechado que nem uma ostra, no meio do chão, com uma mola nas “nalgas” como se diria, regionalmente. Libertados das nossas malas pesadíssimas (se bem que não tão libertados quanto eu me viria a sentir algum tempo mais tarde, NÉ???) e fomos dar a primeira volta das vacas pela cidade. Por ruas carregadas de história desconhecida, sobre várias pontes que unem as margens do rio Arno onde tirámos fotografias encantadoras, banhados pela áurea luz da Toscana que já inspirou tantos artistas. (Ou pelo menos assim pensámos até vermos os resultados tremidos e desfocados dos nossos esforços num computador).
Na nossa cozinha, que dava acesso a uma pequena cozinha, comemos cereais, depois de fazermos compras num pequeno minimercado, passe a redundância, mas era mesmo minimi, e conhecemos duas simpáticas meninas, com as quais conversei alguns minutos em inglês até elas começarem a dizer maravilhas do clima do seu país natal, que nos fez chegar à conclusão que – vidi – eram tugas também! Os meus desconfiados e calados misters descongelaram notóriamente, e começaram a conversar animadamente. Tinhamos como plano geral não nos deitar muito tarde , uma vez que eu valorizo muito a minha piquinina culturazinha geralzinha, de modo que tinha marcado uma visita guiada para o dia seguinte, pelas 9h. Mas depois do jantar, que consistiu numa lata de gratinado de batata com parmesão roubado a alguém, do frigorífico, e uma tradicional minestrone (Knorr...) acompanhadas de uma garrafa de vinho tinto (menos para mim, como sabem) não fomos capazes de ser songas-mongas ao ponto de nos irmos deitar e andamos a galdeirar pela noite de Florença, sendo a parte mais interessante da saída um bar dedicado à arte de esculpir madeira com um torno, todo decorado com goivas e peças em diferentes estágios de formação até à perfeição absoluta de um par de patins em linha com textura nos atacadores e tudo. Gostaria muito de ver, ou quem sabe até experimentar este tipo de trabalho, deve ser giríssimo.
Chegados a casa, eu dormi que nem uma leitoa, como de resto costumo fazer, até quando me roubam as malas debaixo do rabo, já o Mr.X queixou-se de hábitos de sono derivados do futebol de salão/estrela do mar por parte da minha pessoa, que o levaram a abandonar o leito conjunto para procurar repouso do outro lado da cama. O Mr.Y, por sua vez, tentou enganar o desconforto do coté vagabundeando por bares de shots até os galos fiorentinos cantarem o seu característico ciucciolocó, ou, quem sabe, até as portuguesinhas cantarem.
Na manhã seguinte, sem dó nem piedade, dei a alvorada e mais um menos bem dispostos lá seguimos, de mapa em riste, até ao ponto de encontro. A nossa guia chamava-se Elisabetta, era meio inglesa, meio italiana, e começou com uma introduão mais geral do ponto histórico da situação, uma vez que a visita se iniciava na Piazza della Republica, outrora centro político, económico e religioso de itália. Entre 400-1860 a Itália foi um mosaico de pequenos estados, cada um com o seu governo, as suas leis, a sua moeda, e as suas garras ferradas na ideia de independência, e a Toscana era a região em que esta fragmentação era mais notável.
Em 1860, deu-se uma unificação algo forçada, que no entanto não eliminou a fragmentação e as ideias regionalistas pelo que a itália foi um dos países europeus que mais trabalhou no sentido da criação de um espírito de união nacional. No caso específico de Florença, a cidade envolvia-se em espanpanantes de ruidosas guerras com a sua rival Siena, que, no entanto, raramente provocavam mortos ou feridos graves.
Por volta de 1550 Florença era a capital da Toscana, e estava sob a oligarquia de uma família que viria dar que falar: Os Medici. Para entender a enorme influência desta família, há que ir às suas origens: tratava-se de uma família de banqueiros, numa cidade que no século XIV já tinha por volta de 140 bancos – uma profissão importante que no entanto se movia nos limiares da ilegalidade, uma vez que surgia sempre intimamente ligada à usura. Florença nesta altura era uma metrópole mundial, com 100.000 habitantes, quando Londres, por exemplo, se ficava pelos 40.000. Os Medici pagavam avultadas somas de dinheiro a fim de minimizar os seus pecados terrenos e garantir a sua passagem de primeira classe para as nuvens de algodão doce, à semelhança das indulgências, contra as quais Martinho Lutero se viria a revoltar tanto, em tempos porvir. Este dinheiro permitia o financiamento de inúmeros projectos artísticos para a igreja, que serviam, portanto, como uma espécie de segurança social para o além – fui pecador, mas vide, ofereci uma linda cúpula com frescos a Deus nosso senhor...será qua já chega para um one-way ticket to cloud Nr.9, ou tenho de arranjar mais meia dúzia de anjos de mármore?
Entre o século XIII e o século XVII os Medici estiveram por detrás de quase todas as decisões políticas em Florença, não abertamente, uma vez que não eram aristocratas, mas num segundo plano poderoso e cada vez mais óbvio. Com o passar dos anos, a família iria adquirir o título de duque, e mais tarde de Grão-duque contando nos ramos da sua árvore genealógica rebentos tão ilustres como duas rainhas de França e dois papas.
No século XVII, a família acaba por extinguir-se, na linha masculina, possivelmente devido ao elevado de grau de consanguinidade, de resto talvez a última característica enobrecedora, uma vez que era mal geral da famílias aristocráticas europeias.
E já que falamos nos podere políticos da cidade, há que mencionar as guilda, ou corporações de ofício, que eram basicamente associações de pessoas do mesmo ramo de trabalho, das quais eram eleitos alguns membros para governar a cidade, com destaque para as guildas de seda, especiarias, lã e dos câmbios monetários, que eram muito poderosas.
Passámos ainda o ex-gueto judeu, que foi constituido por volta de 1560, pelo papa: como se já não bastasse deixar os banqueiros judeus ficar com os sectores da população que apresentam menor incidência de pagar os fundos emprestados...
Avançámos para a igreja Orsanmichele, uma estranha igreja quadrada que começou por ser um mercado, no qual se encontrava, (como em quase todas superficies planas, quer horizontais quer verticais, nesta cidade) uma nossa senhora que começou a ficar conhecida por fazer milagres até ser destruida por um fogo. Após essa desgraça, alteraram o mercado inteiro para igreja, deixando, no entanto, o silo no andar de cima, o que levou a que tivesse de ser feito um acesso alternativo para o mesmo a fim de impedir a passagem de labregos a cheirarem a cavalo e carregados de sacas de trigo a meio da santa missa.
O exterior da igreja está decorada com várias esculturas dedicadas e comissionadas pelas várias guildas: A dos escultores, que representaram os seus 3 santos padroeiros, santos mátires que se recusaram a esculpir figuras pagãs (o seu último acto de bater o pé nesta terra, diga-se de passagem); a dos fabricantes de armas, que representaram S.Jorge – que, curiosidade trivial, foi recentemente dessantificado e pode oficialmente ser chamado só Jorge, por ser considerado politicamente incorrecto, à luz das últimas evoluções da coisa, matarem-se os poucos exemplares de animais mitológicos que ainda restam no mundo, mas que, no entanto (frase ténia, esta) foi esculpido por Donatello e é o primeiro exemplo de perspectiva geométrica e pontos focais na história da escultura, o que de resto foram inovações não muito bem aceites pelo grande público.
Continuamos a caminhar, passando por vários palácios e casas senhoriais, o palazzo Davanzati, compacto, alto e austero, dedicado maioritáriamente à defesa, datando do século XIII , seguido do modelo renascentista do memso conceito, mas escravizado pela racionalidade e simetria, o palazzo Strozzi que para além de servir de abrigo tinha também que satisfazer a ânsia de harmonia e beleza geral. Estes Stozzi eram os rivais dos Medici, e Filippo Strozzi, o dono do referido palazzo, nunca o chegou ausufruir dele como queria, uma vez que foi exilado antes de as obras estarem terminadas. Um pormenor interessante a nível da arquitectura é que a altura das decorações diminui com a altura crescente do edifício, para dar a ilusão de maior distância.
Já na igreja da Piazza di Santa Trinita aprendemos que as capelas laterais eram alugadas a famílias abastadas que assim podiam ter missas privadas e mais íntimas, e dedicámo-nos à análise de alguns frescos, o que nos levou a concluir que os mecenas não faziam nada em troca de nada, querendo sempre algum estrelato a nível da representação que financiavam, nem que isso implicasse manipular a história e a geografia, colocando um nobre senhor Sassetti numa cena que decorreu em Roma, a centenas de quilómetros dali. Este Sassetti, como é interessante explicar, era o gerente dos bancos de Bruges e Londres, ao encargo dos Medici, e estava um pouco desiludido com os Dominicanos, que não o deixavam ter um fresco na igreja deles, pela simples razão de ser “Francisco” de primeiro nome, o que seria o equivalente a um senhor chamado Benfica da Silva se candidatar a presidente do Sporting: Dominicanos e Franciscanos sempre rivalizaram um pocochinho.
Mais duas curiosidades: As senhoras italianas no renascimento eram todas loiras! Isto não se devia a uma anomalia genética mas sim a horas passadas ao sol, com a cabeça encharcada em amoníaco proveniente de urina de cavalo. Nham,Nham. E o lema dos Bertolini-Salimbeni “Per non Dormire” juntamente com as três capsulas de papoila no brasão é mesmo uma alusão a ópio, com o qual a simpática família tinha como costume drogar os seus rivais no negócio das sedas.
Finalmente seguimos pela ponte vecchio, que data do século XIV, tendo sido a única ponte a sobreviver à segunda guerra mundial, havendo acerca disso várias teorias: 1)Há quem diga que ao ordenar a destruição de todas as pontes em Florença, Hitler se tenha lembrado de outrora ter sido muito feliz sobre a ponte vecchio, 2)Há quem diga que se tratou de um acordo entre aliados e alemães, e 3) a hipótese de a bomba posta na dita ponte simplesmente não ter explodido.
O mais interessante a ver na ponte vecchio, é, no entanto, o corredor Vasari, chamado assim em honra do seu arquitecto, Giorgio Vasari, que é uma passagem fechada, por cima da comoção da plebe, encomendado pelo etão já Grão-duque Cosimo de Medici. Este corredor liga o palácio vecchio e o palácio Pitti, tendo cerca de 1Km de comprimento, e levava os Snobedici em segurança até à sede do governo, para além de os colocar numa posição de suerioridade física. Há um, e um só edifício que obriga o corredor a fazer vários ângulos,uma vez que os donos tiveram o raro desplante de se opor aos Medici, atitude sobre a qual Cosimo terá dito que “em sua casa cada um é rei” – justo, no mínimo. Tradicionalmente a ponte vecchio era a área de eleição dos peixeiros e carniceiros, uma vez que o rio providenciava ao mesmo tempo uma lixeira e um ponto de acesso prático, mas desde 1580 estes negócios mal-cheirosos foram substituidos pelas inúmeras ourivesarias que ainda hoje se encontram no local. Os Medici tinham algo contra Eau de Poisson and Cologne Old Meat, fragrâncias que ofendiam as suas arstistocráticas - ou melhor, mercantis – pencas.
E acabada a nossa visita a Florença, acabavam também as nossas últimas horas do nosso primeiro interrail...e vim a descobri que a culpa é do Mr.Y. Isto porque acredito na força do pensamento e da materialização e não gosto nada de agoiros e negativismos por isso mesmo, e o Mr.Y começou esta viagem afirmando que estava com a conta recheada, alias, dinheiro suficiente para fazer DOIS interreis...! Pois bem. Estavamos a em vésperas de nos vermos livres dos passes do nosso primeiro, e como eramos todos demasiado orgulhosos para voltar para casa cobertos em ignomínia e de cabecinha baixa, vocês, leitores, têm o privilégio de poder consumir ocularmente a parte dois, segunda era da cronologia, o P.F, o pós-vocês-já-sabem-o-quê. Devo poupar nos palavrões, nunca os tive como hábito, uma vez que acho extremamente deselegante, especialmente numa senhora, mas a convivência com as últimas letras do alfabeto levam a que alguma coisa passe de uns para os outros. Eles hão de acabar a viagem a saber quem é S.Sebastião, Leda, e outros temas recorrentes da pintura universal, e eu já começo o dia a dizer “É uma mer*a fecharem este ca*alho às segundas!” Francamente, Ms.Sophie. Peço desculpas.
Bacci,
Sophie

2 comentários:

  1. Com tanta história e beleza monumental, Ms. Sophie esqueceu-se de referir a simpatia e a generosidade das raparigas italianas. Infelizmente não há fotografias para recordar ou para provar que aconteceu, mas uma coisa é certa: O famoso Mr. Y teve direito a 2 (não 1, mas 2) abraços de 2 lindas jovens italianas! Pois é, basta um gesto simples como um abraço (ou dois) para seguir viajem com um sorriso à cágado estampado na cara :D

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  2. Hum...se não está no blog, e não tens fotos...temo que seja impossível provar tal coisa! :-D

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