quarta-feira, 13 de junho de 2018


Um Amor para a Vida Toda

Uma música na rádio, uma vozinha doce, melodiosa. Ela canta com um pouco mais de suavidade do que aquilo que eu consigo aturar sem ter uma ligeira dor de dentes e um alerta diabetes. Mas nem sequer é isso. É a letra.

A letra pode ter dois efeitos sobre uma pessoa:

Ou nos identificamos com aquilo tudo porque temos uma relação linda e perfeita, comovemo-nos, estamos apaixonados que nem baratas, grávidos, e com o discernimento entorpecido da ocitocina desse estado, que irá produzir um bebé perfeito, num casamento de encantar e num amor romântico para a vida toda.

Ou, opção dois, sentimo-nos uns extraterrestres desiludidos pela vida.

Eu faço parte dos extraterrestres. Isto não porque seja uma pessoa ressabiada e infeliz, mas sim porque não posso deixar de pensar em todas aquelas pessoas que (ainda) não encontraram um amor para a vida toda, ou que não o encontraram nessa altura perfeita em que são jovens e lindos. 

Aqueles que encontraram um amor que foi bom enquanto durou. Os divorciados. Os traídos. Os filhos de pais solteiros. Os irmãos filhos de pais diferentes, que não poderão dizer que “os pais foram sempre casados, eternos namorados” porque o pai tinha 17 anos, nem sequer queria ser pai (e se tinha os olhos em água era de desespero). Aqueles cuja a mãe emigrou para França com o namorado novo, e assim ficaram a ser criados pela avó.

Aqueles que têm filhos que amam perdidamente mas que definitivamente não foram o seu “desejo profundo”. Os que choraram baba e ranho sentados na sanita agarrados ao teste de gravidez positivo, porque agora, agora ia mudar tudo e nem sequer havia manual de instruções.

O pessoal que esperneia e faz o que pode, mas que, sabe-se lá porquê, não teve direito a um amor para a vida toda nem a um conto de fadas perfeito. Algumas das pessoas mais interessantes, mais corajosas e mais incríveis que conheço não se encaixam no molde dito perfeito. Ou se encaixaram, por circunstâncias da vida, saíram dele, e NÃO FAZ MAL.

Pode ser que um dia a Carolina Deslandes nos escreva uma música pós-divórcio, sobre continuar a amar após o amor, quando afinal para sempre foi tempo demais. Ou quando o filho for homosexual e afinal não houver netos. Porque ninguém está isento das voltas que a vida dá. 

Não lhe desejo isso, obviamente, até porque no amor não há outra forma senão acreditar que hoje, hoje amamos para a vida toda. 

Mas quem ainda não sente isso, não desespere, também há um bonito grupo de extraterrestres ainda à procura… Pode não ser “o que sonhámos ao pormenor”, mas pode ser extraordinário 😊