sábado, 19 de março de 2016

Tindering - uma experiência social

Recentemente fui visitar uma amiga de infância que hoje é uma mulher linda, inteligente, de sucesso, bem-falante e culta, e que me contou, para minha surpresa, que usa o Tinder... E com muito sucesso: diz que encontrou muita gente fixe e inclusivé o seu presente namorado de há vários meses.

Eu confesso que não sabia muito bem o que é o Tinder.
É um site de engates, né? Um site de engates para desesperados?
Nããão, Luisa, actualiza-te, agora que tens smartphone já devias saber que tudo é uma App! Okay, digo eu, então é uma App de engates para desesperados! Nããão, Luisa, não tens de ver as coisas assim, pode ser uma ferramenta para conhecer mais pessoas, foi-me explicado.

Não me convenceram. Conhecer pessoas que têm acesso a fotos que eu coloco num perfil, e que podem ser empurradas para a direita, se me acharem atraente (ganda lata, só com base na minha fronha imortalizada em pixels?!) ou para a esquerda, se não acharem... (ganda lata, deviam ser denunciados por futilidade) e depois com base em eu fazer o mesmo com os perfis de homens, temos, ou não, “matches”... Um match quer dizer que podem falar um com o outro...e depois logo se vê.
Bom, tenho alguns amigos que poderiam ter muito a ganhar com este tipo de plataforma, os tímidos, os que têm dificuldade em fazer converseta ao vivo... se calhar não é assim tão má ideia. Afinal, só falamos com quem queremos, e só revelamos o que achamos...

Mas, e a ética?! E o conceito de julgar uma pessoa apenas com base numa (ou duas ou três) fotos...? Mas por outro lado, será diferente na vida real? Será verdade que “beautiful people get a free pass”?
Resolvi que falta de ética era aconselhar a coisa, sem a ter experimentado, e trôpegamente criei um perfil.

Tem de se por um x de quilómetros nos quais se procura pessoas. NOTA: Quando se é do baixo Alentejo campestre, é bom que se ponha muitos quilómetros, senão, (true story), só nos aparece o Zé Cabreiro que é nosso vizinho e que já na vida real não considerámos um match. E do qual nem sabíamos que ele era capaz de usar o smartphone para estas bardajices!

Vamos a isso então! Esquerda com eles! Com este sujeito que claramente tem muitos mais anos que a minha baliza pré-definida, e um numero igual de rugas horizontais na testa! Podes até ser excelente pessoa, mas zuuut! Esquerda com o puto da base aérea de Beja...a sério que pessoas com 23 anos podem parecer tão putos?! Esquerda com os peitorais inchados deste gajo de boné! Quem é que mete selfies tiradas na casa de banho num perfil?! Esquerda contigo, gaiato que faz a mesma expressão de cachorro abandonado em todas as fotos, já não tenho cachorrinhos que chegue?

E este botãozinho, é o quê? SUPERLIKE? Ups!! Como é que se retira um Superlike acidental? Socorro! Não queria nada ter feito nem like, quanto mais superlike nesta criatura de Setúbal que se esconde atrás de uns óculos de sol e deve ser vesgo... ainda que possa ser uma pessoa extraordinária sendo vesgo, claro! Bah. Estou a entrar nesta futilidade!

Olha! O meu colega de escola João! Tshei, quem diria que ele está no Tinder... mas não vou mandar para a direita, ainda ele interpreta mal... mas também me parece mal enviar para a esquerda, porque ele é um fixe! Dá para por num intermédio? Não, o tinder não tem limbo... é sim ou sopas. Would, or wouldn’t. Com muita pena minha, é esquerda.

Por esta altura tenho 4 pedidos de amizade de homens que não conheço no meu FB privado... que feitiçaria é esta?! Coincidência? Não...um deles escreve-me que “foi fácil” de me encontrar e que também adora animais.

Sinto-me invadida. Antes não quero. Acho que nem sequer gosto de animais! Procuro conselhos junto de amigos homens, e ainda bem, porque percebo que desinstalar a App não resolve isto, tenho de cancelar a conta! Mas só passaram uns 40 minutos desde que a criei...! Dois deles afirmam ser uma aplicação para ordinárias, que os homens só usam para pinar. A aplicação, não as ordinárias. Bem, as ordinárias também. Olhágora. Querem ver?!

Um outro amigo independente escreve me no FB: Sua pooorca, estás no tinder? Fiz te um like! Já não tens gajos suficientes que te querem comer?! Sinto-me ásperamente removida da minha suposta anonimidade. Só me tranquiliza que ele me conhece e sabe que não sou uma mulher fácil...

Explico que é uma experiência social. (Hoje em dia é tudo uma experiência social, se nós quisermos.) Não não, eu na realidade não sou um travesti em cima de uma bola transparente a exibir-me no terreiro do paço, é uma experiência social acerca das reacções das pessoas! Ah, tá bem. Deve ser isso.

A minha mãe entra e pede esclarecimento, perante as imagem de dois dos seus filhos a rirem histericamente para o “shmartfoun” (como ela lhe chama).  A este ponto do campeonato o meu irmão tinha se juntado a mim, e vetava todos os gajos com lemas pseudointelectuais ou fumo de cigarro em fotos a preto e branco. Quando lhe explico o que estou a fazer, ela tem pena dos pobrezinhos que criam perfis e que são enviados para a esquerda. E depois pergunta se não tenho vergonha que as pessoas da vila me vejam no Tinder.

Mas mãããe, é uma experiência social!!!

Não sei se tenha vergonha se não, mas para já bloqueei a coisa, para pensar melhor no assunto... e para ver se o surfista de Sines que tem fotos no mato me responde ao like.