quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Luisana Trump


Chega aquela altura na vida de todas as mulheres em que começamos a estar „muito bem para a idade“, não somos bonitas só assim, somos „bonitas para a idade“. MEDO.

Isso, associado a excesso de tempo, dinheiro e canais como a MTV e o E-entertainment, pode dar origem a distúrbios dos quais uma pessoa nobre e culta não deve sofrer. (imagino eu).

Mas e daí, também nunca tive presunção de ser mais nobre, espiritual ou culta do que aquilo que sou, e sou terrivelmente susceptível a uma data de maroscas da indústria estética, produtos, truques, inovações: tchééé, tanta coisa que dá para fazer! Dá para fazer EXTENSÃO DE PESTANAS?! Nossa, eu quero.

Fui. O procedimento é demorado porque consiste em colar fios de pestanas falsas em cada uma das nossas, também não é barato, mas olha, que se lixe, nem sequer tenho vícios.

Abro os olhos ao fim de sentidos 15 anos, e… tchanaaaaannn, sou um Travesti.

Não, a sério, podem me chamar Bruna Crystal.

Os cílios são mais pretos que minha alma após fazer as contas a quanto dinheiro se perde com recibos verdes (imaginem o preto!) e são tão longos que passam pelos meus olhos tipo morcegos desgovernados – swooosh, swoosh… uhhh, estou tão diva! Queridããã, estou super. Super tudo!

Pior é que nem todas as profissionais as fazem da mesma forma. Entretanto a pessoa habitua-se a levantar-se e parecer um travesti, e já nem se gosta de ver sem elas, pelo que fiz mais vezes. Algumas foram maravilhosas. Outras...nem tanto. Esteticista que faça bem pestanas é de se agarrar com mais força que casamento. Acreditem.

As últimas foram complicadas. Para já, ao fim de 4 semanas mantinham-se tão firmes e rígidas que temi pela minha saúde palpebral. E picavam. Incomodavam-me. Tinham vida prória à noite. Enganchavam-se nas camisolas. Perturbavam terceiros que passassem demasiado perto de mim. E eu tinha saudades de esfregar o focinho no duche, e de fuçar na almofada.

Para além de que não encontrei UM homem que achasse aquilo atraente. Nem UM. Os mais simpáticos diziam coisas como „Oh, ficas tão bonita sem isso...“ ou „As tuas pestanas normais são compridas e muito mais naturais...“. Os mais próximos riam como hienas enquanto exclamavam „Fooooooosssgasss, qué isso, só falta o bronze à Trump“ ou simplesmente „Fica horrível“.

Nada feito. Tinhamos de acabar esta relação. Ia morrendo no processo de remoção. „Que se lixem as pestanas, pensei“. „Que se lixem!! „ responderam em uníssono os deuses da materialização, e juntamente com as pestanas falsas e 1kg de cola, entre ardor e lágrimas, levaram também as minhas verdadeiras.

Hoje escrevo-vos como Bruna Crystal, o traveca com alopécia ciliar. Aos meus familiares e amigos próximos, tranquilizo-vos, não é uma doença grave, é só um azarzinho estético. Aos homens… como é que é mesmo aquela coisa de gostar pela personalidade…? Hm?

Para a próxima vou investigar uma permanente ciliar. Ou um microblading. Ou implantes cerebrais. Quem sabe...

quarta-feira, 13 de junho de 2018


Um Amor para a Vida Toda

Uma música na rádio, uma vozinha doce, melodiosa. Ela canta com um pouco mais de suavidade do que aquilo que eu consigo aturar sem ter uma ligeira dor de dentes e um alerta diabetes. Mas nem sequer é isso. É a letra.

A letra pode ter dois efeitos sobre uma pessoa:

Ou nos identificamos com aquilo tudo porque temos uma relação linda e perfeita, comovemo-nos, estamos apaixonados que nem baratas, grávidos, e com o discernimento entorpecido da ocitocina desse estado, que irá produzir um bebé perfeito, num casamento de encantar e num amor romântico para a vida toda.

Ou, opção dois, sentimo-nos uns extraterrestres desiludidos pela vida.

Eu faço parte dos extraterrestres. Isto não porque seja uma pessoa ressabiada e infeliz, mas sim porque não posso deixar de pensar em todas aquelas pessoas que (ainda) não encontraram um amor para a vida toda, ou que não o encontraram nessa altura perfeita em que são jovens e lindos. 

Aqueles que encontraram um amor que foi bom enquanto durou. Os divorciados. Os traídos. Os filhos de pais solteiros. Os irmãos filhos de pais diferentes, que não poderão dizer que “os pais foram sempre casados, eternos namorados” porque o pai tinha 17 anos, nem sequer queria ser pai (e se tinha os olhos em água era de desespero). Aqueles cuja a mãe emigrou para França com o namorado novo, e assim ficaram a ser criados pela avó.

Aqueles que têm filhos que amam perdidamente mas que definitivamente não foram o seu “desejo profundo”. Os que choraram baba e ranho sentados na sanita agarrados ao teste de gravidez positivo, porque agora, agora ia mudar tudo e nem sequer havia manual de instruções.

O pessoal que esperneia e faz o que pode, mas que, sabe-se lá porquê, não teve direito a um amor para a vida toda nem a um conto de fadas perfeito. Algumas das pessoas mais interessantes, mais corajosas e mais incríveis que conheço não se encaixam no molde dito perfeito. Ou se encaixaram, por circunstâncias da vida, saíram dele, e NÃO FAZ MAL.

Pode ser que um dia a Carolina Deslandes nos escreva uma música pós-divórcio, sobre continuar a amar após o amor, quando afinal para sempre foi tempo demais. Ou quando o filho for homosexual e afinal não houver netos. Porque ninguém está isento das voltas que a vida dá. 

Não lhe desejo isso, obviamente, até porque no amor não há outra forma senão acreditar que hoje, hoje amamos para a vida toda. 

Mas quem ainda não sente isso, não desespere, também há um bonito grupo de extraterrestres ainda à procura… Pode não ser “o que sonhámos ao pormenor”, mas pode ser extraordinário 😊

domingo, 16 de outubro de 2016

Disciplina, Trabalho e Obediência para esta Geração!


E voltam a votar num proto-ditador fascista a seguir? (permitam-me iniciar já com Godwin’s Law na linha 2)

Circula na internet um daqueles textinhos de revolta[ORIGINAL NO FIM DO TEXTO], que partilhamos sem sequer pensar bem, e que começa com o (já de si algo brega):

Recadinho para a geração que acha que pode tudo”  (não consigo não ler isto com o mesmo tom de voz do taxista que recomenda violar meninas virgens...ó fachabore!)

E a seguir embrenha-se numa glorificação do passado, pintando-o como se antigamente é que era tudo bom, éramos todos...quê, beatos a trabalhar no campo, com o suor do nosso rosto, a respeitar os papás e a as mamãs, a ajudar em casa, a ir para a cama a horas, a saber o que a vida custa? I call bullshit. 

A conversa de que “esta geração está perdida” vem dos tempos em que Platão dizia isso de Aritóteles, isso não é nada de novo... A geração nascida nos anos 50 foi o desgosto dos pais, sem saberem o que é guerra, com aqueles cabelos, ui, os valores estavam perdidos! 

Chutemos esse argumento para o lado, que pessoas são pessoas. “No meu tempo”, amigas minhas apanhavam de cinto e colher de pau, tratavam o pai por você, faziam a cama antes de sair de casa e a seguir iam pinar para o quartel, aos 13 anos. Não jogávamos pokemón nem tinhamos smartphones, mas víamos TV toda a tarde, e se não havia ténis de marca bem que tínhamos pena, mas sempre houve quem tivesse.

O pessoal mal-educado? Sempre o houve. Se calhar não andavam era tanto na escola. Ou então mantinham-se na linha à força de reguadas para ir descarregar noutros lados. Ou era tudo super cívico, nos anos do antigamente?

Custa-me a constante publicidade a conceitos eufemizados de “correctivos, castigos, disciplina, obediência” como se isso fosse a solução para qualquer mal. Aliás, não é para qualquer mal, é para o caso proverbial do miúdo que faz uma birra esperneante no supermercado, eunquanto chama “puta” à mãe... Ui, somo logo todos especialistas. Especialista a explicar como é que nunca deixaríamos deixar uma criança fazer aquilo, em como não admitiriamos, em como duas lambadas na tromba resolveriam o caso, e como levou poucas quando era pequeno, porque nós sempre levámos e oh, estamos óptimos! Por isso: Mais porrada pa cima deles, que o mundo não é só facilitismos!

Depois o mais curioso é pensar que as pessoas mais bem-formadas que conheço não levaram tratamento fascista em casa. Levaram uma educação democrática, em que não é preciso bater, em que se pode ser um indivíduo, em que os pais não são infalíveis, em que há incentivo à criatividade e à independência, em que há confiança e conversa em vez de medo definido como “respeito” e obediência. Em que há bom senso.

Obediência, meus caros, é para os cães. Entre pais e filhos quero acreditar que há algo de mais sofisticado, porque senão acabamos com macaquinhos de circo treinados, em vez de educados, e isso não serve de muito à nossa sociedade.

Não digo que não haja margem de melhoria em muitos seios familiares, mas já dei aulas, e sei perfeitamente como são as famílias dos miúdos que mais dores de cabeça me davam, e da minha experiência os mimados consumistas eram o menor mal. 

Os mimados consumistas só perdiam uma parte linda da vida, que é o mundo real, e a experiência empírica, e o sucesso pelo próprio esforço. 

Mau mau eram aqueles pais que se vinham vangloriar das sovas que pregam nos filhos em casa, e em como os punham de castigo, e como já lhe tiraram a playstation, e ainda me aconselhavam a pregar-lhes eu umas chapadas também, porque “só assim é que ele aprende”. 

Isso sim é triste. E claramente não funcionava, né?

"Recadinho para a geração que acha que pode tudo e para os pais que ensinam os filhos a serem consumistas !!! 😉
Eu cresci a comer comida que os meus pais podiam por na mesa, sempre respeitei os meus pais e as pessoas mais velhas... Tive TV com 4 canai
s a preto e branco e não mexia para não estragar e antes de sair para a escola fazia a cama. Bebia água de torneira, andava descalço, ténis baratos e roupas sem marca, não tive telemóvel nem tablet e muitos menos computador...
Ajudava a minha mãe nas tarefas de casa, e não achava que era exploração infantil, tinha horário para dormir.
Quando tirava boas notas não ganhava presentes, porque não tinha feito mais que a minha obrigação. Notas baixas eram castigo, apanhava quando fazia das minhas e isso era apenas um corretivo e não caso de polícia!!
Se também fazes parte desta elite, cola isto no teu mural para mostrar que sobreviveste.
Menos frescura e mais disciplina para estas gerações!!!! É disto que o mundo e as crianças estão a precisar.
Ordem, Respeito, Disciplina, Bondade, Educação, Obediência e Amor...
Por um mundo onde não haja só direitos, mas também Deveres! infelizmente com tanta modernidade estão a acabar alguns valores."

sábado, 19 de março de 2016

Tindering - uma experiência social

Recentemente fui visitar uma amiga de infância que hoje é uma mulher linda, inteligente, de sucesso, bem-falante e culta, e que me contou, para minha surpresa, que usa o Tinder... E com muito sucesso: diz que encontrou muita gente fixe e inclusivé o seu presente namorado de há vários meses.

Eu confesso que não sabia muito bem o que é o Tinder.
É um site de engates, né? Um site de engates para desesperados?
Nããão, Luisa, actualiza-te, agora que tens smartphone já devias saber que tudo é uma App! Okay, digo eu, então é uma App de engates para desesperados! Nããão, Luisa, não tens de ver as coisas assim, pode ser uma ferramenta para conhecer mais pessoas, foi-me explicado.

Não me convenceram. Conhecer pessoas que têm acesso a fotos que eu coloco num perfil, e que podem ser empurradas para a direita, se me acharem atraente (ganda lata, só com base na minha fronha imortalizada em pixels?!) ou para a esquerda, se não acharem... (ganda lata, deviam ser denunciados por futilidade) e depois com base em eu fazer o mesmo com os perfis de homens, temos, ou não, “matches”... Um match quer dizer que podem falar um com o outro...e depois logo se vê.
Bom, tenho alguns amigos que poderiam ter muito a ganhar com este tipo de plataforma, os tímidos, os que têm dificuldade em fazer converseta ao vivo... se calhar não é assim tão má ideia. Afinal, só falamos com quem queremos, e só revelamos o que achamos...

Mas, e a ética?! E o conceito de julgar uma pessoa apenas com base numa (ou duas ou três) fotos...? Mas por outro lado, será diferente na vida real? Será verdade que “beautiful people get a free pass”?
Resolvi que falta de ética era aconselhar a coisa, sem a ter experimentado, e trôpegamente criei um perfil.

Tem de se por um x de quilómetros nos quais se procura pessoas. NOTA: Quando se é do baixo Alentejo campestre, é bom que se ponha muitos quilómetros, senão, (true story), só nos aparece o Zé Cabreiro que é nosso vizinho e que já na vida real não considerámos um match. E do qual nem sabíamos que ele era capaz de usar o smartphone para estas bardajices!

Vamos a isso então! Esquerda com eles! Com este sujeito que claramente tem muitos mais anos que a minha baliza pré-definida, e um numero igual de rugas horizontais na testa! Podes até ser excelente pessoa, mas zuuut! Esquerda com o puto da base aérea de Beja...a sério que pessoas com 23 anos podem parecer tão putos?! Esquerda com os peitorais inchados deste gajo de boné! Quem é que mete selfies tiradas na casa de banho num perfil?! Esquerda contigo, gaiato que faz a mesma expressão de cachorro abandonado em todas as fotos, já não tenho cachorrinhos que chegue?

E este botãozinho, é o quê? SUPERLIKE? Ups!! Como é que se retira um Superlike acidental? Socorro! Não queria nada ter feito nem like, quanto mais superlike nesta criatura de Setúbal que se esconde atrás de uns óculos de sol e deve ser vesgo... ainda que possa ser uma pessoa extraordinária sendo vesgo, claro! Bah. Estou a entrar nesta futilidade!

Olha! O meu colega de escola João! Tshei, quem diria que ele está no Tinder... mas não vou mandar para a direita, ainda ele interpreta mal... mas também me parece mal enviar para a esquerda, porque ele é um fixe! Dá para por num intermédio? Não, o tinder não tem limbo... é sim ou sopas. Would, or wouldn’t. Com muita pena minha, é esquerda.

Por esta altura tenho 4 pedidos de amizade de homens que não conheço no meu FB privado... que feitiçaria é esta?! Coincidência? Não...um deles escreve-me que “foi fácil” de me encontrar e que também adora animais.

Sinto-me invadida. Antes não quero. Acho que nem sequer gosto de animais! Procuro conselhos junto de amigos homens, e ainda bem, porque percebo que desinstalar a App não resolve isto, tenho de cancelar a conta! Mas só passaram uns 40 minutos desde que a criei...! Dois deles afirmam ser uma aplicação para ordinárias, que os homens só usam para pinar. A aplicação, não as ordinárias. Bem, as ordinárias também. Olhágora. Querem ver?!

Um outro amigo independente escreve me no FB: Sua pooorca, estás no tinder? Fiz te um like! Já não tens gajos suficientes que te querem comer?! Sinto-me ásperamente removida da minha suposta anonimidade. Só me tranquiliza que ele me conhece e sabe que não sou uma mulher fácil...

Explico que é uma experiência social. (Hoje em dia é tudo uma experiência social, se nós quisermos.) Não não, eu na realidade não sou um travesti em cima de uma bola transparente a exibir-me no terreiro do paço, é uma experiência social acerca das reacções das pessoas! Ah, tá bem. Deve ser isso.

A minha mãe entra e pede esclarecimento, perante as imagem de dois dos seus filhos a rirem histericamente para o “shmartfoun” (como ela lhe chama).  A este ponto do campeonato o meu irmão tinha se juntado a mim, e vetava todos os gajos com lemas pseudointelectuais ou fumo de cigarro em fotos a preto e branco. Quando lhe explico o que estou a fazer, ela tem pena dos pobrezinhos que criam perfis e que são enviados para a esquerda. E depois pergunta se não tenho vergonha que as pessoas da vila me vejam no Tinder.

Mas mãããe, é uma experiência social!!!

Não sei se tenha vergonha se não, mas para já bloqueei a coisa, para pensar melhor no assunto... e para ver se o surfista de Sines que tem fotos no mato me responde ao like.



domingo, 2 de agosto de 2015

Sobre ser um Axl...

É a primeira vez em muito tempo (desde a entrada sobre o mundo do Winston, back in the year sei lá o quê) que escrevo aqui sobre cães... Isto porque de cães já a minha vida está cheia, não tenho ainda que encher o meu blog de pit bull rants entusiasmados, fica chato, e eu sou uma pessoa com interesses variados. Cof, Cof.

Desde há alguns dias estou a tomar conta do cão de uma amiga, e tem sido um desafio. Isto não porque o cão é um cachorro de 1,5 meses, com tudo o que de trabalhoso vem com isso, nem porque se chama Axl, que eu sou meia-alemoa e nada é uma palavra estranha, mas sim porque ele é um Chihuahua, e... dos mais pequenos.

O mundo canino (e o restante) está cheio de preconceito, e tenho vindo a descobrir que, se é difícil ter um Pit Bull pelas bocas e opiniões disparatadas e isentas de fundamento, ter um Chihuahua é ainda pior. Isto porque ainda há algumas pessoas que querem ser fixes e corajosos e até gostam de pits, e “eles só são maus se os donos os ensinarem a ser maus” (treeeeta), mas tirando a ocasional pipoca ou velhota nenhuma pessoa do meio dos cães parece gostar sem reservas de Chihuahuas/Bichons/Yorkies/Caniches anões etc.

“Isso é uma amostra. É um rato. É um porta-chaves. É um hamster. Isso não é cão não é nada. Eu gosto de pits, não gosto é daqueles pequenos irritantes que até mordem muito mais que estes. Os verdadeiramente perigosos são os meia-leca. Só sabem ladrar. São histéricos.”

Eu é que estou a ficar histérica! Preconceito é preconceito, não importa a raça! Se um cão grande está dependente de genética, educação e meio, quanto ao seu carácter, como nos atrevemos a dizer que um cão pequeno não será igual? Não serão eles loucos e agressivos porque são cães de pessoas loucas e incompetentes que não fazem com eles uma única coisa que seja natural e recomendada para um cão? Banhos e mais banhos e não sair à rua e tosquias e colo e mais colo e spas caninos...

Deixemos o “meu” Chihuahua ser um cão! Vamos conhecer cães! Vamos andar no chão! Vamos treinar desportos de mordida e obedience!

Mas espera... encontrei um grave entrave logo aos dois passos iniciais: A minhoca do mal (perdão, o cãozinho) tem cerca de 200g. É muito pequeno. Não, minto, é microscópico. Ninguém tem ideia de quão pequeno e frágil ele é. Nem ele! É um bem-disposto sem medo nenhum, e quer conhecer o mundo.

Eu é que não sei se o quero que o mundo o conheça a ele...preciso de uma daquelas redomas do queijo, para as moscas não poisarem, e vou por isso por cima dele cada vez que houver um perigo!

Porque tudo é um perigo. Quero sociabilizá-lo, como sei fazer tão bem, e o único animal que em tamanho é aceitável é um gato de dois meses, e mesmo assim tem umas patas muito mais compridas que as dele e dá-lhe “bops” na testa, de longe.


Os meus cães são equilibrados. A Camila (afilhada) é uma pit muito capaz de brincar com bebés cuidadosamente...mas todos se mexem. Todos têm cabeças que pesam vários quilos, mais de 10x mais que o Axl todo.

Um degrau é um abismo, um pé uma bomba nuclear, um saco de compras que se entorna um tremor de terra cataclísmico, o Ernesto (pombo) um Godzilla.

Tenho passado os meus dias dentro da hortinha da minha mãe, que tem uma vedação à volta, para que as galinhas não entrem. A pensar em preconceitos e em limitações físicas da minha teoria de “deixar ser cão”.

Mas deixei-o comer um pouco de bosta de cavalo. De uma bosta que teria mais ou menos o tamanho do Evereste. E meter a cabeça dentro da narina do nosso burro Elias. TRAU! #SmallandWild. Quando tiveres mais 200 gramas já falamos, meu pucanino!

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Lutas Geriátricas

Hoje recebi uma chamada do meu irmão mais velho, pondo-me a par de uma situação aborrecida que aconteceu a uma avozinha de 90 anos (vamos imaginar que não é a minha, a implicação genética é assustadora, e eu gostaria de casar com um moço de boas famílias), no centro de dia. Situação esta que levou à intervenção dos dirigentes da instituição, e que ainda estou a ponderar se me deveria encher de orgulho ou de vergonha. Se calhar antes preocupação.

Porquê, perguntam vocês... bem, porque...Porque: não é que a dita senhora se conseguiu meter num fight geriátrico?!!

Sim, é verídico. 

Um episódio de agressão física mútua entre velhinhas. Não sei se voaram dentaduras e permanentes foram permanentemente danificadas, mas pelo relato da ocorrência por várias partes (algumas menos imparciais e um pouquinho alteradas na sua capacidade cognitiva), passou-se o seguinte:

A avó de alguém (não vou aqui escrever nomes, para descaracterizar as personagens envolvidas e manter o sigilo judicial) está a sofrer crescentemente da síndrome do “roubaram-me as coisas”. Esta síndrome manifesta-se em acusar, com grande certeza e determinação, toda a gente de a roubar, inclusivé a única neta que possui, e que definitivamente NÃO rouba saias de malha plissadas e sem godés. Ou era COM godés? Não sei, nem sei o que são godés... 

Enfim, as pessoas do mundo, que são deveras invejosas do seu bom gosto, modernidade e espírito jovem, e como vingança, roubam-na.

Quando feitas no seio familiar as acusações embora aborrecidas, vão passando, mas nem toda a gente, especialmente a antagonista, “que é mais nova, deve ter uns 80 anos, mas é uma velha e eu não” tem pachorra para este género de embirrâncias... 

Assim, a senhora acusada de furtar uma esferográfica personalizada, oferecida pelo filho...não, pelo outro filho... ou quiçá marido (há coisas que se esquecem, afinal de contas), não teve com meias medidas e, impulsionando-se vigorosamente no seu andarilho, procedeu à ministração de medidas físicas de correcção sobre o toutiço da avozinha.

Não obstante estar sentada e a outra de pé, a avozinha agredida não recusou o scratch (isto é linguagem de lutas de pits) e lançou se em defesa, com uma espécie de uppercut à old-school (tipo, school de 90 anos) que deixou bem claro que ali, naquele centro, ela não seria uma espezinhada! Aliás, hoje ainda garantiu à entrevistadora que, apesar de lhe ter ficado a doer o cocoruto pelos calduços recebidos, a outra velha que nem pensasse que ela trocaria de lugar à mesa comum!


Acabou o episódio com pedidos de desculpas mais ou menos sentidos – okay, zero sentidos, de má vontade, e profundamente hipócritas e a incerteza acerca da possibilidade de continuar a manter estas duas senhoras em espaços físicos contíguos sem danos de maior... 

Mas como a referida avozinha no dia em que escrevo isto teve o desplante de ligar à neta a insistir que eu - perdão, ela, a neta - é que se esqueceu que já levou duas (está a aumentar para maior número) saias das melhores, há um sentimento nascente de: Whatever! Vá lá acusar assim a sua colega da casa de repouso se tem coragem, mas depois não se queixe que levou bengaladas!

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Bull...shite!

Será que ele gosta verdadeiramente de mim?
                                                               - Sofia, 17 anos, in: Revista Super Pop

Uma amiga de um bom amigo tem uma técnica para testar a sinceridade dos sentimentos dos seus pretendentes: Cada vez que começa a sair com um representante do sexo masculino que lhe elogie os longos e femininos cabelos, ela corta-os assim bem curtinhos. Só para que conste. Os que se mantêm, são os que passam ao round dois da triagem de futilidades.

Boa, pensei eu, não parece má ideia. 

O pior é que sou incorrigivelmente vaidosa, e cortar os meus longos cabelos não me parece de todo razoável. Mas há outras maneiras.

Assim como... Arranjar um Bulldogue Francês, pequeno canídeo braquicéfalo com inúmeras maleitas físicas derivadas do overbreeding impiedoso, uma das quais é uma sensibilidade gastrointestinal que se reflecte em frequentes episódios de desarranjo aquando do consumo de um pedaço de pão seco ou um grão de ração de outro cão.

Procede-se então, da seguinte maneira, em 20 passos simples:

1) Alimentar pequeno item invulgar ao bulldogue.

2) Combinar dormida em apartamento pequeno e arrumado da vítima.

3) Armazenar bulldogue e cão adicional (de preferência flatulento) num quarto gentilmente cedido.

4) Passadas algumas horas ir verificar, tendo o cuidado de não acender um fósforo, por perigo de explosão. Passear canídeos à chuva, ou melhor ainda, pedir à vítima que passeie (pestanas longas e pijama curto ajudam nesta fase!).

5) Acordar a vítima às 4h da manhã porque bulldogue está inquieto. (Inquieto=ganidos incessantes da transportadora na qual devia dormir).

6) Verificar que bulldogue encheu a transportadora até uma altura de 2 dedos de uma substância semi-líquida composta por produtos expulsos tanto pela “porta da frente” quanto pela “porta de trás”.

7) Tentar retirar pequeno chouriço conspurcado e esperneante do interior da box sem que toque no chão. Conspurcar T-shirt gentilmente cedida pela vítima (so much for sexy in his shirts...).

8) Transportar acima mencionado chouriço canino até à casa de banho, pingando o corredor.

9) Verificar que não se têm mão livre para abrir porta ou acender a luz.

10) Utilizar, destramente, o cotovelo para concretizar ambas as tarefas mas ao encostar mais à porta, provocar patada de substância indescritível na parede branca.

11) Praguejar um cadinho. Lavar canídeo na banheira, secando-o com uma toalha que esperamos não ser necessária para outros fins tão brevemente. Ou alguma vez.

12) Retirar pedaços de ração não digerida da banheira para não entupir. Rezar para que sejam provenientes da “porta da frente”.

13) Soltar canídeo que patinha alegremente todo o corredor e tenta correr até à cama da vítima para se rebolar.

14) Agarrar transportadora. Verificar que não passa pela porta do WC, e que quando diagonalizada pinga para o chão e para cima do meu pé.

15) Desmontar transportadora. Fazer uma espécie de origami humano por cima da sanita de forma a deitar todo o conteúdo lá para dentro, por um canto.

16) Verificar que com a abertura virada para a parede não consigo empurrar restos de digesta ou quimo ou quilo com os enchumaços de papel higiénico que vou enrolando. Virar tudo e sujar mais um cadinho a T-shirt.

17) Juntar enchumaços encharcados a um canto não vá a sanita entupir.

18) Colocar box na banheira e verificar que a mesma ameaça entupir apesar de todos os cuidados. 
(Nota mental: Culpabilizar os hábitos metrossexuais de depilação da vítima pela banheira entupida e negar toda a responsabilidade.)

19) Secar a transportadora com um segundo rolo de papel higiénico, soltar um suspiro de saudade de um relvado no alentejo e de uma mangueira.

20) Limpar o chão. Limpar a banheira. Limpar a sanita. Limpar a parede. Arejar o quarto. Tomar banho.


Posto isto, se a vítima se mantiver presente e acordada durante todo o exame, persistindo nas suas declarações de carinho nos dias seguintes, passará ao round 2. Caso contrário, terá de ser submetido a um teste de recuperação, ou chumbado directamente.