quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Natal Natal e Proformas da Vida

I wonder how many times you've been had
And I wonder how many plans have gone bad
I wonder how many times you had sex
I wonder do you know who'll be next
-       Sixto Rodriguez

E sonhos estrambólicos com um puto freak muito loiro, tão loiro que não tinha sobrancelhas. Cheio de atitude, de uma vida na rua e nos parques de skate que faz viver mais anos que os anos cronológicos, o que eu por um lado gosto, mas por outro lado me assusta um pouco.

Se já tens tanta lata aos 19 anos, como é que vai ser daqui a mais 10...? Olha que eu gosto que venerem o chão que piso! Mas não demais.

E andar a rebolar na relva, naquele estado em que ainda não aconteceu nada, porque não aconteceu nada fisicamente, mas que na tua cabeça já aconteceu tudo. E pensar se isso é o suficiente para ser considerado desleal. Porque na realidade não estou com um freak loiro, e olhos azuis são ciúme, verdes traição, e os teus lindos olhos castanhos é que é. Bolas, os meus são verdes. Porcaria de música, nunca gostei dela.

O teu rosto tão perto do meu que só falta mesmo tocarmo-nos, porque se eu tivesse uma alma já te tinha tocado.

E querer muito que aconteça, mas ao mesmo tempo já saber que não ia dar certo. Porque na realidade a única coisa que eu ainda não sei é what the heck é que ia dar certo, e, se der certo, se eu quereria isso. Porque imagina que dá meio certo aqui, e depois o três quartos de certo está em Brisbane, Queensland.

Cruzei-me com um ex-colega de escola, há uns dias, conversa de circunstância e de boas festas, e perguntei-lhe se já estava casado e com filhos... dizia que filhos não, mas que casado até gostaria. E a mim dá me um arrepio por todas estas coisas convencionais. Não quero. Não quero esses proformas da vida. Como não quero proformas de Natal.

E agora podemos inserir aqui que casar não tem de ser assim, e que dá para ser casado e rebelde e tudo isso. Força! Quero voltar àqueles dias em que tinhamos 17 anos e estavamos acampados na neve a olhar para as estrelas, e não a falar de como até gostaríamos de “assentar”. Assentem aí, que eu vou ali e já volto. Cougar workshop, ou whatever.


Um amigo publicou-me uma frase de Henry David Thoreau no meu perfil de FB: “All good things are wild and free”. Acho que não estou pronta para não ser wild e free. E para mim, faz parte não saber onde é que vou. Wondering. Not knowing what or who will be next. E no meio disto tudo esforçar-me para ser uma boa pessoa, e não espezinhar ninguém... which is nice

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Breves: Camaleões e Piness

Vivemos num país em que, aparentemente, até os répteis exóticos nos podem processar. Só assim consigo interpretar o facto de uma colega minha colocar uma foto de uma cirurgia ocular num camaleão no FB não sem, cuidadosamente, ter defocado o rosto do animal... O que é que poderia acontecer se as fotos da sutura no olhito da criatura se tornassem públicas?


Descoberta do dia de uma amiga minha: Happiness tem um “Piness” lá dentro... Está explicado!!

De resto, uma semana muito produtiva no âmbito das melhores frases, que só se ouvem num curso superior se este for de Medicina Veterinária:

- É muito fácil, é só mergulhar na diarreia! (Prof. Virgílio, in: Como usar um teste rápido para a parvovirose)

- Não se esqueçam que não é preciso acção nenhuma, eles forçam o esfíncter anal! (Prof. Meireles, sobre as proglotes ovígeras da ténia solium, que têm mobilidade)




terça-feira, 19 de novembro de 2013

In love with Cristiano Ronaldo?

“E uma data de mulheres outrora ajuizadas estão quase prontas para erguer os infames cartazes do "faz m'um filho"...

Tinha comentado isto num estado de uma amiga, que dizia o seguinte: I < 3 CR7
(sendo que a coisa esquisita no meio dá origem a um coraçãozinho foleiro)

Foi bem comentado,  mas até achei um fenómeno suficientemente curioso para o analisar um pouco mais a fundo.

O que é que nos dá? Estava eu na minha bolhinha de (pseudo-)intelectualidade, descansadamente, sem ver o jogo da selecção, e, aliás até fui exercitar os meus próprios glúteos de patins, em vez de admirar os do CR7 e dos seus congêneres, quando verifico que não, não é possível.

É pelo FB, é pelo telemóvel, as notícias do jogo de Portugal-Suécia não paravam de chegar, com uma regularidade assustadora! Será que cometo uma gaffe temível, e que a ordem é a inversa Suécia-Portugal, sendo lá na escandinávia? Sim, porque há umas regras manhosas. Tipo “os golos no estrangeiro valem mais”, quando uma pessoa já acha que está tudo perdido. Ou aquela coisa do fora-de-jogo que implica que a carica de sumol que está mais atrás tenha de estar mais atrás que o isqueiro mais à frente que está atrás da carica de sumol da mesma equipa da primeira... (foi assim que me foi explicado).

Enfim, tanto me arreliaram, que lá fui debater-me com a tecnologia e visionar o restinho do jogo numa coisa que é o live stream e que tem uns comentadores que falam dos nossos jogadores (sim, porque assim que começo a ver, passam a ser os nossos, já sou quase família daquelas valentes almas lusas que suam sangue pela pátria) como se se tratasse da Kiss FM no Allgarv a anunciar de chorizous tredicionays: and the ball goes to Petrishi-ow, after Rownal-dow nearly nãseiquênaseiquemais hat trick.

E pronto. Tanta literatura e cultura que uma pessoa estudou, e bastam alguns minutos para considerar contrair matrimónio com o herói nacional. Afinal, temos experiência com produtos da Madeira, e quem já gosta de anonas do tamanho de melões e de rebuçados de funcho, quem sabe até se daria com um labreguinho com os dentes arranjados e com uma irmã insuportável...


Portanto, tenho-o dito. Um dia vou a um jogo no estádio, e quando for, não me deixem levar um cartaz a dizer “CR7 faz m’um filho”, seria de alguma baixeza de nível, e eu ir-me-ia arrepender depois.

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Breves: Piscinas e Ferrero Rocher


Já estou para os surtos de inspiração como os alentejanos para a vontade de trabalhar, de acordo com as piadas de nível básico: Quando ocorre esse fenómeno, eu sento-me, e espero que passe. Mas, e antes de fazer aqui uma ressalva para o nível de humor desejável no homem perfeito, deixem-me dizer-vos que hoje já me aconteceu duas vezes sentir-me impelida a escrever sobre coisinhas, e da segunda lá estou a concretizar. 

Já dizia uma amiga minha, numa altura mais encalhada da sua vida amorosa, em que parecia que ser uma estampa de longos cabelos esvoaçantes e um QI definitivamente acima da média não era suficiente para ter direito a um cadinho de amor: Não é preciso ser a história da minha vida, poças, mas que seja uma historinha… E assim estou eu hoje.  Catalogo esta na categoria das “breves”, também. Se não for uma entrada no blog, que seja uma entradinha. 

Até porque assim tenho algo a contrapor a quem me diz: “Moçoila, devias escrever mais”. Sim, afirmativo, tenho pessoas na minha vida que apresentam o desplante de me chamar “moçoila” e de permanecerem vivas, estou a ficar muito mansinha.

Quanto ao humor, e só para não vos deixar desinformados, eu diria: nada de piadas de alentejanos, nada de piadas de anões, nada de piadas de gays. As de loiras escapam, vá, essas eu gosto, apesar de nunca chegarem ao nível dos Monty Python e congéneres, obviamente. (As piadas, não as loiras.)

Mas eu ia mesmo falar era de um fenómeno saudosista que ocorre por vezes quando lavamos a cara ou tomamos banho (ou até ambos em simultâneo, imaginem): O flashback para o verão das nossas vidas quando nos entra água pelo nariz acima e vai até ao cérebro. É aquele formigueiro de pré-espirro, um cheiro a cloro sem cloro que vai com pedaços de relva nos pés e um baixo-relevo de relva nos cotovelos. 

Para mim é aquele puto do 9º ano que nunca me ligou pevas porque eu estava no 7º e as minhas maminhas não acompanharam a rapidez do meu desenvolvimento intelectual e do crescimento dos meus pés, ao contrário das das minhas amigas, que eram sardinhas curvilíneas de boa estirpe portuga. Mas definitivamente piscinas municipais. Não tanto praia, embora também possa acontecer, mas piscinas mesmo. E se houver aquele eco de paredes de azulejo e um coro de vozes cacofónicas a rir e a berrar, aí então é que quase me dá vontade de cantar o fado…

O segundo fenómeno é o consumo de ferrrrrerrrro rochers (chego à conclusão que os seu comer, mas não os sei escrever, analfabeta ignóbil). O fenómeno em si, creio que seja vosso conhecido, mas serão vocês também do estranho grupo que propõe o consumo das ditas bolinhas em camadas concêntricas?

Primeiro a Crosta - Camada superficial sólida, com, em média, de 3 a 4 mm de espessura, mas que pode ser bem mais fina, para vosso desgosto, e ter bem menos irregularidades de amêndoa que o desejável, porque alguém se sentou em cima do produto inicial e deixou os bocadinhos de amêndoa num aglomerado triste no fundo do papelinho dourado, de onde os podemos aspirar no fim, com um movimento de shot rotineiro.

Depois, na Wikipédia diz que é o Manto  - Camada viscosa logo abaixo da crosta. É formada por vários tipos de rochas que, devido às altas temperaturas, se encontram num estado complexo que mistura materiais fundidos e sólidos e recebe o nome de magma. Mas isto é mentira. Toda a gente que conhece ferrerro rocherrrrr (jesus, a ortografia!!) sabe que isso é só o passo três. Antes disso temos a Crostinha, que é a camada abaixo da crosta, e que é feita de uma bolacha frágil, pela qual podemos raspar os incisivos para descascar a crosta de amêndoa, e a qual até não suja muito os dedos. Abaixo dessa, sim, a mistura de materiais fundidos semelhante a nutella! 

Próximo passo será dividir a esfera menor, rodeada de crostinha, de forma a expor o núcleo interno, externo e avelanoso. E aí separam-se os meninos dos profissionais, pois há quem, com os dedos enfiados algures entre a crostinha e o manto quiçá na descontinuidade de Mohorovicic, consiga ainda levar ao cabo manobras na própria avelã…

Mas isso para mim é sismologia quase no domínio da ficção científica. Até porque eu…eu como-os em duas dentadas, e a única coisa que acho razoável fazer, é separar a avelã em metades, para ter uma metade em cada dentada. Sou mesmo labrega…

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Gordura é Formosura e a Mulher Quer-se Como a Sardinha…

Pequenina e...prateada? Oleosa? Cheia de ómega 3? Surpreendentemente cara?

Tenho algumas amigas gorduchas. Rechonchudas. Curvilíneas. Ou simplesmente gordas, sim. Mas isso não é socialmente aceite dizer.

Toda a gente se pode queixar de estar com uns quilos a mais.  Há toda uma indústria por detrás desse problema, os linha zero, os light, os depurantes, os perdedores de volume, as dietas da couve, dos hidratos de carbono, das minhocas tailandesas... toda a gente é solidária, e ainda vão escrever blogs a reclamar!

Ah, e tal, os homens gostam é de chicha e curvas. OBRIGADA pela parte que me toca, sim?!

Ah pois é! Porque as magras também têm problemas! Eu por exemplo sou de genética nórdica, sou alta, esguia, com um pescoço de ave aquática e pernas que nunca mais acabam e não, não juntam em nenhuma parte do seu percurso. Se não comer como uma porca, duas vezes mais do que me apetece, fico sem maminhas e com ossinhos salientes na zona da clavícula. 

E aí é que é:
Ai Lu, estás tão magra...Eish, as tuas omoplatas, pareces um passarinho...Estás mesmo mais magra, não estás? Mas tá tudo bem? Não comes? Porque é que não engordas mais um bocadinho, estás mesmo magra demais...

E agora no inverno piora. Porque se o verão é das magras, uma vez que para ficar sem lombinhos extra num biquini é preciso estar magra mesmo, já no Inverno com as suas calças e mangas compridas vai recomeçar a Santa Inquisição: Estás muito mais magra não estás...? Não gosto de te ver assim...

E tenho vontade de responder com obscenidades. São 58 - 60 kgs. Há 12 anos. E não, não gosto de ter omoplatas que parecem asas de anjo, não acho lindo. Ah, e o meu cão está mais magro também. Ou mais gordo. Ou lá o que é.


Não sei se isto é um hábito português, mas por acaso acho que aqui em terras lusas é mesmo muito comum, e no meio rural mais ainda. Deixem as pessoas da mão. Estão mais magras, estão mais gordas, porque é que isso tem de ser sempre assunto de conversa? 

Olha, tu estás mais aborrecido! "Deslarguem-me". Não ´tou magra nem gorda, ´tou mesmo boa, disse-mo a minha mãezinha, e ela sabe!

sábado, 26 de outubro de 2013

Tudo uma questão de influência ou: Attention-whoring deluxe

É uma daquelas verdades universais que o poder é algo vastamente ambicionado. Seja o poder na sua concepção mais política ou económica, ou na sua concepção mais lata e mais subtil, no seio de uma família, numa relação, numa situação específica do quotidiano.  Nem que seja com o raio do pastor alemão... (daí terem tanto sucesso as teorias da dominância, que nos querem por força estabelecer como líder da matilha, uma espécie de super-lobo, e daí acabarem tantos cães no canil porque o pater-famiglia afirma que “cão meu não me rosna” e o cão ainda assim não parou de rosnar.).

Todos gostamos de “ficar por cima”, mesmo que nos custe a admitir, mesmo que o mascaremos com uma boa camada de humildade, e ninguém gosta de sentir que é irrelevante, impotente, e que a sua opinião não conta para nada – não é por nada que o 112 recebe inúmeras chamadas falsas por dia, ou que há fogos postos só para a TV aparecer em Buraco da Toupeira de Baixo, ou em São João dos Cucos Brejeiros, ou onde Judas perdeu as botas.

Mas se há os “bosses” inveterados, que querem, podem e mandam e isso é um dado adquirido, há também N (ler “n”, aqui, como qualquer número natural entre 1 e + infinito) variações de pressões bem mais subtis e até mesmo inconscientes. A dor de cabeça. A vontade de fazer xixi. Manifestações físicas que podem ser usadas como ferramentas para manipular (ou xixipular) o ambiente que nos rodeia. Porque ninguém tem culpa de ter dores de cabeça ou de ter xixi, e não é socialmente aceite acusar alguém de estar doente e com isso arruinar o plano A, B ou C! Ou de se despistar na estrada, num dia de chuva...

Fisicamente, acho que estamos muito mais poderosos do que em alguma outra altura da história da humanidade. Claro que com isto não quero dizer que sou mais forte que os nossos antepassados símios, com 80kg e 1,5 metros de ombros peludos, que partiam fémures de alce com um machado de pedra, mas que, nos dias de hoje, a mulher de 50kg tem ao seu dispor um poder tecnológico tremendo, que a põe, a ela ou a qualquer contemporâneo, numa posição mortífera.

Já pensaram a facilidade com que poderíamos, se nos desse o bom velho amok, por término às vidas de um monte de pessoas? Só o simples facto de que conduzirmos todos (ou quase todos -  já sei mamã, tu não participas nisso) carros que chegam facilmente aos 100 km/h (já sei, pessoal, há quem não tenha carro para mais de 80 km/h, mas também dá para o que eu quero explicar) é, no mínimo assustador.

Quando conduzimos num IP qualquer, entre aqui e Sines, por exemplo (ou pode ser entre Sines e aqui, também) a única coisa que se encontra entre nós e a luzinha ao fundo do túnel, as portas de S.Pedro, Valhalla, o outro lado do rio Lethe (com umas moedas enfiadas no globo ocular), enfim, o fim desta dimensão é mesmo o bom senso do condutor que vem de frente para nós.

Se pensarmos bem, this is madness!! Confiamos na estrada como não confiamos em mais lado nenhum (era mesmo eu que punha a minha vida que tanto estimo nas mãos da Dona Paula do 3ºEsq, que anda a tomar coisas para a depressão desde mil nove nove oito!) Mas na estrada ponho.

E quando tenho de esperar 45 minutos à chuva miudinha, na autoestrada, porque um génio qualquer quis tomar um atalho para o referido domicílio do cãozinho de três cabeças, com ambulâncias a zunirem pela berma, ocorre-me que possivelmente este é o dia de maior importância da pessoa que provocou isto tudo. Sim, provavelmente nunca na vida deste sujeito houve um dia em que uma acção dele parasse milhares de carros, impedisse reuniões, fizesse perder voos, agrilhetasse figuras públicas e zé ninguéns...


No trânsito, somos quase omnipotentes. Podemos morrer e matar. Ou podemos ficar parados durante horas a fio sem escapatória alguma. É lindo. E de pensar que houve alturas em que nos tínhamos que matar à sacholada...

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O Elogio da Loucura

Este vem a propósito de um post do 9gag que traçava uma relação entre a vida triste e deprimente no mundo real e a necessidade/vontade de nos refugiarmos em jogos de computador onde podemos ser os melhores e ter letras brilhantes no ecrã a dizer: Congratuations!!! Isto porque esse post tinha inúmeros comentários de pessoas que concordavam a 100% com isso, centenas de likes para alguém que dizia “That’s how I survived my shitty childhood”.

Há uma música que me dá que pensar bastantes vezes, e que transmite mesmo o que penso sobre isso... diz a letra:

I'm surprised/ that you've never been told before/That you're lovely/ and you're perfect,/ And that somebody wants you//

E no meu grupo de amigos há várias pessoas, de ambos os sexos, a quem eu gostava de cantar isto muito sentidamente.

Vivemos numa sociedade cruel não só para os cães, sobre os quais muito falo quando me dão trela ;-) mas também para os cachorrinhos interiores de cada um de nós, os nossos egozinhos frágeis, que tentam sobreviver, a grande custo, num mundo de reforço negativo, castigos, multas, necessidade de ser homemzinho, mulherzinha, grande, culto, crescido, interessante, desenvencilhado e sei lá mais o quê.

E se não formos? Se formos só frágeis e patetas, sem muita certeza de onde é que fica o Suriname e se se calhar é ao pé do Vietname, e com a sensação que todos os outros sabem o que andam aqui a fazer, e que a qualquer momento aquela pessoa que realmente interessa vai descobrir que afinal somos uma pequena fraude ignorante e peluda. Com tornozelos feios.

But are we?

Há alguns anos atrás, quando li um livro da Karen Pryor, sobre como o reforço positivo influencia o comportamento de qualquer ser vivo (até de uma ameba!), tomei uma resolução à qual me tento manter fiel: If it’s nice, say it twice! Se algo é bom, bonito, bem feito, simpático, tento dizê-lo à pessoa. Seja um colar novo, seja uma apresentação interessante, seja um gesto agradável e charmoso.

E chego à conclusão que lamentavelmente as pessoas não estão preparadas para ouvir um elogio. Algo tão simples quanto “Oh, isso está tão bem feito” suscita uma palete de comportamentos tão díspares quanto corar, negar, reduzir a acção a algo insignificante, fazer uma piada, ficar sem reacção ou até com um ar duvidoso... Sim, porque eu devo andar a inventar mentiras, não tenho mais nada que fazer.

É curioso. Fui às lágrimas com uma boa amiga, há dias, quando lhe disse, sentidamente, aquando de uma saída conjunta: “Cheiras muito bem”. A isto ela respondeu-me com uma velocidade incrível: “Meh, não é nada, é só o meu perfume barato que é uma imitação do Gucci, comprei nos chineses por 3 euros”

Quê?! Mas eu perguntei alguma coisa? Chiça... Ali fiquei a saber que o perfume é “barato”, “imitação”, “comprado nos chineses” e que de resto devo ser idiota... sim, porque a não-aceitação de um elogio sentido é quase um atestado de burrice à pessoa que o faz: estou então completamente enganada, não cheira bem, não está bom, não é bonito nem atraente, e eu é que sou um freak do bosque por achar isso.

Pessoas, podem-me dar direito à opinião? Tudo bem que é sempre uma tentativa de modéstia, que é bonito, e que também salvaguarda o dito ego, que é um cachorrinho que está sempre à espera que a outra pessoa de repente aponte o dedo e diga: HAHAHA, NÃO, IDIOTA! ACREDITASTE?! CLARO QUE ÉS UM FALHANÇO!

Mas eu não vou dizer nem pensar isso. Gosto de cachorrinhos, e gosto de pessoas, e tento não magoar ninguém de propósito (já basta quando ando a rinocerontar e provoco danos colaterais). Podem honestamente sorrir-me de volta e dizer “obrigado/a”, porque sim, faz bem ouvir que somos bons. E somos. Numas alturas mais, noutras menos, mas em muitos momentos estamos a ser muito fixes, e temos o direito de ouvir isso e de acreditar nisso.

Porque é que será tão mais fácil acreditar nas coisas más que nas coisas boas? Porque é que um comentário leviano sobre um qualquer aspecto físico ou psicológico tem a capacidade de nos destroçar, quando são precisos doses copiosas de elogios até que acreditemos um bocadinho?

Todo o ego é frágil, até o daquela pessoa que parece estar no topo do mundo, e todo o ego precisa de um miminho. Já deu um abracinho ao seu, hoje?



sábado, 2 de março de 2013

My Best Human Boy


Aquela cor de cabelo à qual dou por mim a chamar loiro-cascais, porque parece ser uma mutação genética muito frequente na linha de Cascais, com maior taxa de incidência quanto mais nos aproximamos do Guincho e da Quinta da Marinha... Um castanho-claro de quem foi muito loiro em criança, e que agora mantém umas pontas mais claras porque tem o privilégio de poder passar muitas horas ao ar livre a surfar, a andar de bicicleta, a voar kites ou sei lá mais o que os putos ricos e desocupados fazem durante as tardes de verão intermináveis quando as vivendas são coladas às dunas...

Aquele castanho-claro que outrora foi mesmo loiro, e que, somehow, o continua a ser. Que vem com uns olhos cor de mar, entre o verde e o azul, dependendo da luz e do polo, ou com um pouco mais azar, e como no teu caso, com um castanho avelã. Olhos de mel. Com pintinhas douradas. Um sorriso só com meia-boca. E com esse sorriso vem uma saudade enorme de qualquer coisa, qualquer coisa que nem sei bem definir, qualquer coisa que não sei se já tive, se existe, ou se é história de livros.

Sabor a sal e a calippos de morango, que eu detesto mas tu adoras – não podes ser perfeito! - cheiro a cera de prancha de surf e conversas sobre Eça de Queirós e estribos western... As madeixas suaves em contraste com as duas rastas mais ásperas, das quais eu só gosto porque são tuas, e porque gosto que sejas irreverente e tenhas caracóis e rastas e me digas não quando eu preciso.

Que me digas não quando preciso e sim quando mereço, e que me abraces nas dunas e discutas se as três marias são as três marias ou talvez as sofias de ante-ontem. Porque não quero ter sempre razão.

Não tens uma carrinha pão-de-forma – lá está, não podes ser perfeito – mas quando perdemos as chaves do teu carro sem nome na areia e rimos que nem perdidos porque não as encontramos, e depois porque as encontramos, isso não importa. Be real.  

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Andorra la Grande – Diário de uma Viagem

From Beja to Andorra, with Love 

Rendidos às evidências e às contas da Marina, partimos para a nossa aventura na neve numa fantástica carrinha de 9 lugares, sobre cuja marca não conseguiria adiantar nada, não fossem as exclamações indignadas de todos os seres masculinos e alguns femininos (uma Volkswagen, pá!!).

A rádio era fraquita, maioritariamente rádio rocha (kkrrrcchhhh- with youuuu...krc krc babeeeey...chchhhh), e um CD de Coldplay em loop, mas não havia mal, enquanto houvesse boa disposição, jogos de capitais e animais, chamuças, panados, empadas, pão, pupias e queijo da serra.

As chamuças, no entanto, não acharam aclamação geral, e é com elas que começo a compilação de frases do dia, anónimas: “Nã gosto disto, parece que tou a comer um marroquino!”

Entre tosses e ressonos mais ou menos elegantes, não conseguimos avistar “o povo que vive nas rochas, e que se chama trogloditas” que o nosso Gonçalo tanto nos prometeu, mas, felizes, avistavamos elevações cada vez mais escarpadas e algumas já cobertas de neve.

A partir de Andorra La Vella as coisas começaram inclusivé a complicar-se, tendo que ser adquiridas e postas nylons-para-a-neve custando caros dinheiros numa bomba da gasolina (não recomendo fazer isso). As raparigas colocaram os nylons nas rodas e os rapazes ficaram a ver (chiu, caluda, o diário é MEU eu é que mando!).

 Assim equipados, vencemos a montanha com apenas um patino, que deixou o nosso ToyPi (também conhecido por ToPin) profundamente apreensivo e de tal ordem cuidadoso que julgámos não chegar ao nosso destino, pois se ele fosse mais devagar do que aquilo que ia, era de marcha atrás. Mas em legitima defesa também tenho de dizer que foi com Beja-Power que subimos a rua do nosso apartamento, na qual já várias carrinhas semelhantes tinham fraquejado!

O nosso apartamento ficava localizado na faixa de Ganza (imaginem o porquê do nome), um corredor impestado (isto não é uma palavra, mas adequa-se) de suor e enfim... À chegada iniciou-se então a epopeia dos banhos: Toma Inês. Gonçalo apanha água fria. Restantes não tomam. 

Dia 1 da nossa missão

Levantámo-nos cedo, com a ideia de ir “num instante” buscar os materiais de ski e snowboard, mas tal não se verificou.

Horas mais tarde, lá seguimos para as pistas para uma primeira abordagem à posição em cunha, que o insecto da neve – uma espécie de metamorfose tipo Pokémon: ToyPi evolui para Snow Insect – rapidamente aprendeu.

A partir daí, não mais quis sair das pistas verdes, que descia em cunha perfeita, com os seus fantásticos óculos, e olhares desconfiados para as manchas de sangue, que conspurcavam a alvura virginal da neve, e testemunhavam o triste fim de outros da sua espécie. Por vezes verificava-se a remoção total das patas-da-neve, e a progressão do insecto na sua versão alentejana pelas pistas verdes. (Chiu, que o diário é meu e eu é que escolho a cor!).

Tomámos o nosso primeiro lanche de bocadillos (o que soa muito espanhol e exótico, mas são sandes da Pans) e perdemos o telemóvel da Alice e os cupões dos restantes bocadillos da Marina: Já prometia! Gonçalo o Vermelho presenteou a neve imaculada com os seus conteúdos gástricos, nada acudido pelo insecto da neve que se justificou com a seguinte frase do dia: “Não ajudo não, senão também me grégo!”.

Descobrimos que o Gin do Happy Hour custa 8€, e o serviço 3€. Not so Happy.

Daí nos dividimos em dois grupos, para compras e banhos. Gonçalo toma de água fria mais uma vez. O jantar foi o clássico muy estudantil: spaghetti carbonara, cuja elaboração foi dificultada pelo fogão eléctrico que tem um potencial de acção quase inutilizável, que implica 2 horas de preparação para aquecer.

O repórter fiel adormece de cansaço merecido (euzinha linda a dormir) e é alvejado com uma toalha no focinho, e consoante certas pessoas, emite sons vagamente humanos. (calúnia, na minha opinião).

A empiriquitação e as bebidas aprés ski no quarto demoram tanto tempo que alguns de nós adormecem maquilhados (não vou dizer nomes, mas não foi o António Triti).

Os sobreviventes deslocaram-se até um bar de gays, de seu nome Billboard, pleno de hobbits libidinosos. 

Dia 2 da nossa missão 

Levantamento tardio. Não sabíamos que o tempo iria piorar drasticamente, senão teríamos aproveitado mais.
Dois de nós foram os absolutos reis do ski, não vou dizer nomes, mas foram uns bosses e desceram uma pista preta com uma classe e estilo ainda por igualar!

Descobrimos que os andorrenses (o gentílico deste microestado também pode ser andorrano ou andorriano) nesta zona do país comem comida esquisita, há poucos congelados e frutas/legumes, e o nosso fogão não permite fritar carne.

Gonçalo perde a carteira toda, com 40€ e os documentos (se é para ser, é para ser) e somente os rapazes se sentem capazes de ir sair para ver mais rapazes, na noite de Pas de la Casa.

Dia 3 da nossa missão 

Os Antónios manifestam grande dificuldade em acordar. Creio que voaram acusações graves do género de “vocês são extremamente maçadoras” e outras mentiras.

Dores de garganta e tosse mais ou menos generalizada, com excepção do suricata carraceiro, que é fininho, mas nada lhe pega.

Estava algum nevão, e os óculos embaciavam nojentamente. Levámos ao cabo uma busca infrutífera pela carteira perdida, tentámo-nos consolar com o jogo PT-Equador (não funcionou, perdemos), e entre angulas falsas, outras latas, e torradas com azeite muito se conversou, sobre a benzoquice bejense e a chunguice algarvia. Um certo Dedão e outros “Bazoffes” fizeram aparições repetidas.

No Havana Club, no qual se encontravam muitos homens, tivemos o (des)prazer de observar um casal de tendências pornográficas, destituído de vergonha, que de resto contribuiu para o gáudio do nosso Tritimix, como podemos confirmar através de inegável prova fotográfica.

Houve quem afirmasse que o Sr. Pinto fazia jus ao seu estilo de ski, e também bailava como um robocop. Abstenho-me desse assunto, até porque após beber um baileys comecei a achar que o material masculino no bar estava a ficar mais interessante, e antes de começar a apalpar algum dos nossos meninos, resumi-me à abstinência.
Outros não o fizeram, e uma personagem de t-shirt branca insistia na dança das mãos moles, enquanto nos presenteava com close-ups dos seus sovacos. Lherk.

Frase do dia: “Eu até há duas semanas podia dizer que nunca tinha andado à porrada. Mas não é que se meteram comigo e me deram uma punhada?!”

Dia 4 da nossa missão 

A comunicação com a faixa de Ganza revela que o tempo está pior mesmo.
Tempestades de neve que colam os passarinhos às vidraças.
Estradas cortadas.
Previsão: NEGRO.
Ponto positivo: encontrámos a carteira do Gonçalo, ele é realmente um lucky child.
Ponto assustador: Polícia afirma que aquela tarde é a nossa última chance de abandonarmos Pas de la Casa. Arrumações frenéticas, as ratazanas tentam abandonar o navio, mas: Loja de skis fechada.
RP da meganeve e senhora da recepção contradizem os polícias, afirmando que o melhor é ir no dia seguinte.
3 horas de escavações arqueológicas para desenterrar a carrinha – ou melhor, desennevar a carrinha – para a piça, passe a expressão. Custou especialmente à minha pessoa, uma vez que fiz a maior parte do trabalho junto da carrinha, sem nunca me deixar vencer pelo cansaço ou o frio, e após ter feito uma caminhada de extremos, à Bear Grylls, pelo nevão, em busca de alimento. (Chiu, que o diário é meu e eu é que mando).

As pás necessárias para a busca da carrinha perdida foram emprestadas a grande custo, sob entrega dos BIs e quase exigência de uma caução... Compra de correntes-da-neve a uma fração do custo dos nylons da gasolineira, gasto de um quarto de depósito para desatolar a fiel carrinha.

Arrumação variada de todo o material de ski e snowboard entre os cacifos, o quarto e a loja fechada, com várias partidas de mikado de bastões. Algumas pragas. Estalactites de ranho em diversas pencas, devido a temperaturas de -11 graus.

Frase do dia: “Já me peidei tantas vezes dentro destas calças que já me parece que cheiram mal cada vez que me mexo...”

Tentativa de redenção através de jantar fora. Fail épico. Fondue apresenta-se como um f*dão à moda europeia, como só me lembrava dos tempos do meu interrail, ascendendo à soma astronómica de 147.77€ por uns bocadinhos de vaca e um queijo com álcool etílico, o qual ninguém conseguiu consumir nem com a melhor das vontades e muito espírito aberto (palavra de honra que tentei). 12€ em Iceteas, e um atendimento antipático que parecia achar que atirávamos o pão ao chão de propósito.

Dia 5 da nossa missão 

(Não me perguntem qual é a missão, estava nisto à 5 dias e ainda não sabia. Acho que não concretizei.) 

Alvorada na ausência de electricidade devido à actividade de parasitas nocturnos que não se ralaram nada com as necessidades de sono dos “nosotros” e dos “ninhos pequenhos”.

Quando finalmente temos luz verde para descer a montanha, fazemo-lo com algum alívio, e, lamentavelmente, sem o tlm do Triti. Somos empatados horas a fio numa fila de cagalhões da pradaria, antes de finalmente chegar a Andorra la Vella.

Sobre as termas, poder-se-ia escrever um capítulo à parte, mas nada direi. De acordo com o Sr.Pinto, “What happens in Caldea, stays in Caldea”, mas o que é certo é que a metade do grupo que optou por ir às compras e não às termas (Lichia, o Suricata, Gonçalo o Vermelho a Marina-sem-alcunha-parva) o achou manifestamente mais bem-disposto após se demolhar nos vários pisos do “centro termolúdico más grande de Europa en la montana”.

Triti, em estado de pós relax termal apresenta uma condução mais perigosa, bate num pilar, atravessa-se numa rotunda (sob os urros de indignação do Gonçalo), e quase atropela um peão (sob os urros de indignação do insecto das termas).
É deposto na hora do seu cargo de condução, e armazenado no banco de trás.

Não consegui comprar torrão blando para ninguém – nem para mim, o que admitidamente me deixa mais triste – e descobri que sim, em Andorra, para além de ser um paraíso fiscal, se podem comprar Leathermans a 31.50€. Não vou é falar do tamanho deles, mas deixem-me dizer-vos que não davam para castrar um grilo. Rumamos a Portugal, sem ser revistados na fronteira...tshei, e só de pensar que podíamos ter ido cravados em volumes de tabaco, garrafas de álcoois e bubidas e caçadeiras ilegais e ilegalizáveis....*suspiro*...