quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Luisana Trump


Chega aquela altura na vida de todas as mulheres em que começamos a estar „muito bem para a idade“, não somos bonitas só assim, somos „bonitas para a idade“. MEDO.

Isso, associado a excesso de tempo, dinheiro e canais como a MTV e o E-entertainment, pode dar origem a distúrbios dos quais uma pessoa nobre e culta não deve sofrer. (imagino eu).

Mas e daí, também nunca tive presunção de ser mais nobre, espiritual ou culta do que aquilo que sou, e sou terrivelmente susceptível a uma data de maroscas da indústria estética, produtos, truques, inovações: tchééé, tanta coisa que dá para fazer! Dá para fazer EXTENSÃO DE PESTANAS?! Nossa, eu quero.

Fui. O procedimento é demorado porque consiste em colar fios de pestanas falsas em cada uma das nossas, também não é barato, mas olha, que se lixe, nem sequer tenho vícios.

Abro os olhos ao fim de sentidos 15 anos, e… tchanaaaaannn, sou um Travesti.

Não, a sério, podem me chamar Bruna Crystal.

Os cílios são mais pretos que minha alma após fazer as contas a quanto dinheiro se perde com recibos verdes (imaginem o preto!) e são tão longos que passam pelos meus olhos tipo morcegos desgovernados – swooosh, swoosh… uhhh, estou tão diva! Queridããã, estou super. Super tudo!

Pior é que nem todas as profissionais as fazem da mesma forma. Entretanto a pessoa habitua-se a levantar-se e parecer um travesti, e já nem se gosta de ver sem elas, pelo que fiz mais vezes. Algumas foram maravilhosas. Outras...nem tanto. Esteticista que faça bem pestanas é de se agarrar com mais força que casamento. Acreditem.

As últimas foram complicadas. Para já, ao fim de 4 semanas mantinham-se tão firmes e rígidas que temi pela minha saúde palpebral. E picavam. Incomodavam-me. Tinham vida prória à noite. Enganchavam-se nas camisolas. Perturbavam terceiros que passassem demasiado perto de mim. E eu tinha saudades de esfregar o focinho no duche, e de fuçar na almofada.

Para além de que não encontrei UM homem que achasse aquilo atraente. Nem UM. Os mais simpáticos diziam coisas como „Oh, ficas tão bonita sem isso...“ ou „As tuas pestanas normais são compridas e muito mais naturais...“. Os mais próximos riam como hienas enquanto exclamavam „Fooooooosssgasss, qué isso, só falta o bronze à Trump“ ou simplesmente „Fica horrível“.

Nada feito. Tinhamos de acabar esta relação. Ia morrendo no processo de remoção. „Que se lixem as pestanas, pensei“. „Que se lixem!! „ responderam em uníssono os deuses da materialização, e juntamente com as pestanas falsas e 1kg de cola, entre ardor e lágrimas, levaram também as minhas verdadeiras.

Hoje escrevo-vos como Bruna Crystal, o traveca com alopécia ciliar. Aos meus familiares e amigos próximos, tranquilizo-vos, não é uma doença grave, é só um azarzinho estético. Aos homens… como é que é mesmo aquela coisa de gostar pela personalidade…? Hm?

Para a próxima vou investigar uma permanente ciliar. Ou um microblading. Ou implantes cerebrais. Quem sabe...

quarta-feira, 13 de junho de 2018


Um Amor para a Vida Toda

Uma música na rádio, uma vozinha doce, melodiosa. Ela canta com um pouco mais de suavidade do que aquilo que eu consigo aturar sem ter uma ligeira dor de dentes e um alerta diabetes. Mas nem sequer é isso. É a letra.

A letra pode ter dois efeitos sobre uma pessoa:

Ou nos identificamos com aquilo tudo porque temos uma relação linda e perfeita, comovemo-nos, estamos apaixonados que nem baratas, grávidos, e com o discernimento entorpecido da ocitocina desse estado, que irá produzir um bebé perfeito, num casamento de encantar e num amor romântico para a vida toda.

Ou, opção dois, sentimo-nos uns extraterrestres desiludidos pela vida.

Eu faço parte dos extraterrestres. Isto não porque seja uma pessoa ressabiada e infeliz, mas sim porque não posso deixar de pensar em todas aquelas pessoas que (ainda) não encontraram um amor para a vida toda, ou que não o encontraram nessa altura perfeita em que são jovens e lindos. 

Aqueles que encontraram um amor que foi bom enquanto durou. Os divorciados. Os traídos. Os filhos de pais solteiros. Os irmãos filhos de pais diferentes, que não poderão dizer que “os pais foram sempre casados, eternos namorados” porque o pai tinha 17 anos, nem sequer queria ser pai (e se tinha os olhos em água era de desespero). Aqueles cuja a mãe emigrou para França com o namorado novo, e assim ficaram a ser criados pela avó.

Aqueles que têm filhos que amam perdidamente mas que definitivamente não foram o seu “desejo profundo”. Os que choraram baba e ranho sentados na sanita agarrados ao teste de gravidez positivo, porque agora, agora ia mudar tudo e nem sequer havia manual de instruções.

O pessoal que esperneia e faz o que pode, mas que, sabe-se lá porquê, não teve direito a um amor para a vida toda nem a um conto de fadas perfeito. Algumas das pessoas mais interessantes, mais corajosas e mais incríveis que conheço não se encaixam no molde dito perfeito. Ou se encaixaram, por circunstâncias da vida, saíram dele, e NÃO FAZ MAL.

Pode ser que um dia a Carolina Deslandes nos escreva uma música pós-divórcio, sobre continuar a amar após o amor, quando afinal para sempre foi tempo demais. Ou quando o filho for homosexual e afinal não houver netos. Porque ninguém está isento das voltas que a vida dá. 

Não lhe desejo isso, obviamente, até porque no amor não há outra forma senão acreditar que hoje, hoje amamos para a vida toda. 

Mas quem ainda não sente isso, não desespere, também há um bonito grupo de extraterrestres ainda à procura… Pode não ser “o que sonhámos ao pormenor”, mas pode ser extraordinário 😊