domingo, 10 de fevereiro de 2013

Andorra la Grande – Diário de uma Viagem

From Beja to Andorra, with Love 

Rendidos às evidências e às contas da Marina, partimos para a nossa aventura na neve numa fantástica carrinha de 9 lugares, sobre cuja marca não conseguiria adiantar nada, não fossem as exclamações indignadas de todos os seres masculinos e alguns femininos (uma Volkswagen, pá!!).

A rádio era fraquita, maioritariamente rádio rocha (kkrrrcchhhh- with youuuu...krc krc babeeeey...chchhhh), e um CD de Coldplay em loop, mas não havia mal, enquanto houvesse boa disposição, jogos de capitais e animais, chamuças, panados, empadas, pão, pupias e queijo da serra.

As chamuças, no entanto, não acharam aclamação geral, e é com elas que começo a compilação de frases do dia, anónimas: “Nã gosto disto, parece que tou a comer um marroquino!”

Entre tosses e ressonos mais ou menos elegantes, não conseguimos avistar “o povo que vive nas rochas, e que se chama trogloditas” que o nosso Gonçalo tanto nos prometeu, mas, felizes, avistavamos elevações cada vez mais escarpadas e algumas já cobertas de neve.

A partir de Andorra La Vella as coisas começaram inclusivé a complicar-se, tendo que ser adquiridas e postas nylons-para-a-neve custando caros dinheiros numa bomba da gasolina (não recomendo fazer isso). As raparigas colocaram os nylons nas rodas e os rapazes ficaram a ver (chiu, caluda, o diário é MEU eu é que mando!).

 Assim equipados, vencemos a montanha com apenas um patino, que deixou o nosso ToyPi (também conhecido por ToPin) profundamente apreensivo e de tal ordem cuidadoso que julgámos não chegar ao nosso destino, pois se ele fosse mais devagar do que aquilo que ia, era de marcha atrás. Mas em legitima defesa também tenho de dizer que foi com Beja-Power que subimos a rua do nosso apartamento, na qual já várias carrinhas semelhantes tinham fraquejado!

O nosso apartamento ficava localizado na faixa de Ganza (imaginem o porquê do nome), um corredor impestado (isto não é uma palavra, mas adequa-se) de suor e enfim... À chegada iniciou-se então a epopeia dos banhos: Toma Inês. Gonçalo apanha água fria. Restantes não tomam. 

Dia 1 da nossa missão

Levantámo-nos cedo, com a ideia de ir “num instante” buscar os materiais de ski e snowboard, mas tal não se verificou.

Horas mais tarde, lá seguimos para as pistas para uma primeira abordagem à posição em cunha, que o insecto da neve – uma espécie de metamorfose tipo Pokémon: ToyPi evolui para Snow Insect – rapidamente aprendeu.

A partir daí, não mais quis sair das pistas verdes, que descia em cunha perfeita, com os seus fantásticos óculos, e olhares desconfiados para as manchas de sangue, que conspurcavam a alvura virginal da neve, e testemunhavam o triste fim de outros da sua espécie. Por vezes verificava-se a remoção total das patas-da-neve, e a progressão do insecto na sua versão alentejana pelas pistas verdes. (Chiu, que o diário é meu e eu é que escolho a cor!).

Tomámos o nosso primeiro lanche de bocadillos (o que soa muito espanhol e exótico, mas são sandes da Pans) e perdemos o telemóvel da Alice e os cupões dos restantes bocadillos da Marina: Já prometia! Gonçalo o Vermelho presenteou a neve imaculada com os seus conteúdos gástricos, nada acudido pelo insecto da neve que se justificou com a seguinte frase do dia: “Não ajudo não, senão também me grégo!”.

Descobrimos que o Gin do Happy Hour custa 8€, e o serviço 3€. Not so Happy.

Daí nos dividimos em dois grupos, para compras e banhos. Gonçalo toma de água fria mais uma vez. O jantar foi o clássico muy estudantil: spaghetti carbonara, cuja elaboração foi dificultada pelo fogão eléctrico que tem um potencial de acção quase inutilizável, que implica 2 horas de preparação para aquecer.

O repórter fiel adormece de cansaço merecido (euzinha linda a dormir) e é alvejado com uma toalha no focinho, e consoante certas pessoas, emite sons vagamente humanos. (calúnia, na minha opinião).

A empiriquitação e as bebidas aprés ski no quarto demoram tanto tempo que alguns de nós adormecem maquilhados (não vou dizer nomes, mas não foi o António Triti).

Os sobreviventes deslocaram-se até um bar de gays, de seu nome Billboard, pleno de hobbits libidinosos. 

Dia 2 da nossa missão 

Levantamento tardio. Não sabíamos que o tempo iria piorar drasticamente, senão teríamos aproveitado mais.
Dois de nós foram os absolutos reis do ski, não vou dizer nomes, mas foram uns bosses e desceram uma pista preta com uma classe e estilo ainda por igualar!

Descobrimos que os andorrenses (o gentílico deste microestado também pode ser andorrano ou andorriano) nesta zona do país comem comida esquisita, há poucos congelados e frutas/legumes, e o nosso fogão não permite fritar carne.

Gonçalo perde a carteira toda, com 40€ e os documentos (se é para ser, é para ser) e somente os rapazes se sentem capazes de ir sair para ver mais rapazes, na noite de Pas de la Casa.

Dia 3 da nossa missão 

Os Antónios manifestam grande dificuldade em acordar. Creio que voaram acusações graves do género de “vocês são extremamente maçadoras” e outras mentiras.

Dores de garganta e tosse mais ou menos generalizada, com excepção do suricata carraceiro, que é fininho, mas nada lhe pega.

Estava algum nevão, e os óculos embaciavam nojentamente. Levámos ao cabo uma busca infrutífera pela carteira perdida, tentámo-nos consolar com o jogo PT-Equador (não funcionou, perdemos), e entre angulas falsas, outras latas, e torradas com azeite muito se conversou, sobre a benzoquice bejense e a chunguice algarvia. Um certo Dedão e outros “Bazoffes” fizeram aparições repetidas.

No Havana Club, no qual se encontravam muitos homens, tivemos o (des)prazer de observar um casal de tendências pornográficas, destituído de vergonha, que de resto contribuiu para o gáudio do nosso Tritimix, como podemos confirmar através de inegável prova fotográfica.

Houve quem afirmasse que o Sr. Pinto fazia jus ao seu estilo de ski, e também bailava como um robocop. Abstenho-me desse assunto, até porque após beber um baileys comecei a achar que o material masculino no bar estava a ficar mais interessante, e antes de começar a apalpar algum dos nossos meninos, resumi-me à abstinência.
Outros não o fizeram, e uma personagem de t-shirt branca insistia na dança das mãos moles, enquanto nos presenteava com close-ups dos seus sovacos. Lherk.

Frase do dia: “Eu até há duas semanas podia dizer que nunca tinha andado à porrada. Mas não é que se meteram comigo e me deram uma punhada?!”

Dia 4 da nossa missão 

A comunicação com a faixa de Ganza revela que o tempo está pior mesmo.
Tempestades de neve que colam os passarinhos às vidraças.
Estradas cortadas.
Previsão: NEGRO.
Ponto positivo: encontrámos a carteira do Gonçalo, ele é realmente um lucky child.
Ponto assustador: Polícia afirma que aquela tarde é a nossa última chance de abandonarmos Pas de la Casa. Arrumações frenéticas, as ratazanas tentam abandonar o navio, mas: Loja de skis fechada.
RP da meganeve e senhora da recepção contradizem os polícias, afirmando que o melhor é ir no dia seguinte.
3 horas de escavações arqueológicas para desenterrar a carrinha – ou melhor, desennevar a carrinha – para a piça, passe a expressão. Custou especialmente à minha pessoa, uma vez que fiz a maior parte do trabalho junto da carrinha, sem nunca me deixar vencer pelo cansaço ou o frio, e após ter feito uma caminhada de extremos, à Bear Grylls, pelo nevão, em busca de alimento. (Chiu, que o diário é meu e eu é que mando).

As pás necessárias para a busca da carrinha perdida foram emprestadas a grande custo, sob entrega dos BIs e quase exigência de uma caução... Compra de correntes-da-neve a uma fração do custo dos nylons da gasolineira, gasto de um quarto de depósito para desatolar a fiel carrinha.

Arrumação variada de todo o material de ski e snowboard entre os cacifos, o quarto e a loja fechada, com várias partidas de mikado de bastões. Algumas pragas. Estalactites de ranho em diversas pencas, devido a temperaturas de -11 graus.

Frase do dia: “Já me peidei tantas vezes dentro destas calças que já me parece que cheiram mal cada vez que me mexo...”

Tentativa de redenção através de jantar fora. Fail épico. Fondue apresenta-se como um f*dão à moda europeia, como só me lembrava dos tempos do meu interrail, ascendendo à soma astronómica de 147.77€ por uns bocadinhos de vaca e um queijo com álcool etílico, o qual ninguém conseguiu consumir nem com a melhor das vontades e muito espírito aberto (palavra de honra que tentei). 12€ em Iceteas, e um atendimento antipático que parecia achar que atirávamos o pão ao chão de propósito.

Dia 5 da nossa missão 

(Não me perguntem qual é a missão, estava nisto à 5 dias e ainda não sabia. Acho que não concretizei.) 

Alvorada na ausência de electricidade devido à actividade de parasitas nocturnos que não se ralaram nada com as necessidades de sono dos “nosotros” e dos “ninhos pequenhos”.

Quando finalmente temos luz verde para descer a montanha, fazemo-lo com algum alívio, e, lamentavelmente, sem o tlm do Triti. Somos empatados horas a fio numa fila de cagalhões da pradaria, antes de finalmente chegar a Andorra la Vella.

Sobre as termas, poder-se-ia escrever um capítulo à parte, mas nada direi. De acordo com o Sr.Pinto, “What happens in Caldea, stays in Caldea”, mas o que é certo é que a metade do grupo que optou por ir às compras e não às termas (Lichia, o Suricata, Gonçalo o Vermelho a Marina-sem-alcunha-parva) o achou manifestamente mais bem-disposto após se demolhar nos vários pisos do “centro termolúdico más grande de Europa en la montana”.

Triti, em estado de pós relax termal apresenta uma condução mais perigosa, bate num pilar, atravessa-se numa rotunda (sob os urros de indignação do Gonçalo), e quase atropela um peão (sob os urros de indignação do insecto das termas).
É deposto na hora do seu cargo de condução, e armazenado no banco de trás.

Não consegui comprar torrão blando para ninguém – nem para mim, o que admitidamente me deixa mais triste – e descobri que sim, em Andorra, para além de ser um paraíso fiscal, se podem comprar Leathermans a 31.50€. Não vou é falar do tamanho deles, mas deixem-me dizer-vos que não davam para castrar um grilo. Rumamos a Portugal, sem ser revistados na fronteira...tshei, e só de pensar que podíamos ter ido cravados em volumes de tabaco, garrafas de álcoois e bubidas e caçadeiras ilegais e ilegalizáveis....*suspiro*...