segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Gordura é Formosura e a Mulher Quer-se Como a Sardinha…

Pequenina e...prateada? Oleosa? Cheia de ómega 3? Surpreendentemente cara?

Tenho algumas amigas gorduchas. Rechonchudas. Curvilíneas. Ou simplesmente gordas, sim. Mas isso não é socialmente aceite dizer.

Toda a gente se pode queixar de estar com uns quilos a mais.  Há toda uma indústria por detrás desse problema, os linha zero, os light, os depurantes, os perdedores de volume, as dietas da couve, dos hidratos de carbono, das minhocas tailandesas... toda a gente é solidária, e ainda vão escrever blogs a reclamar!

Ah, e tal, os homens gostam é de chicha e curvas. OBRIGADA pela parte que me toca, sim?!

Ah pois é! Porque as magras também têm problemas! Eu por exemplo sou de genética nórdica, sou alta, esguia, com um pescoço de ave aquática e pernas que nunca mais acabam e não, não juntam em nenhuma parte do seu percurso. Se não comer como uma porca, duas vezes mais do que me apetece, fico sem maminhas e com ossinhos salientes na zona da clavícula. 

E aí é que é:
Ai Lu, estás tão magra...Eish, as tuas omoplatas, pareces um passarinho...Estás mesmo mais magra, não estás? Mas tá tudo bem? Não comes? Porque é que não engordas mais um bocadinho, estás mesmo magra demais...

E agora no inverno piora. Porque se o verão é das magras, uma vez que para ficar sem lombinhos extra num biquini é preciso estar magra mesmo, já no Inverno com as suas calças e mangas compridas vai recomeçar a Santa Inquisição: Estás muito mais magra não estás...? Não gosto de te ver assim...

E tenho vontade de responder com obscenidades. São 58 - 60 kgs. Há 12 anos. E não, não gosto de ter omoplatas que parecem asas de anjo, não acho lindo. Ah, e o meu cão está mais magro também. Ou mais gordo. Ou lá o que é.


Não sei se isto é um hábito português, mas por acaso acho que aqui em terras lusas é mesmo muito comum, e no meio rural mais ainda. Deixem as pessoas da mão. Estão mais magras, estão mais gordas, porque é que isso tem de ser sempre assunto de conversa? 

Olha, tu estás mais aborrecido! "Deslarguem-me". Não ´tou magra nem gorda, ´tou mesmo boa, disse-mo a minha mãezinha, e ela sabe!

sábado, 26 de outubro de 2013

Tudo uma questão de influência ou: Attention-whoring deluxe

É uma daquelas verdades universais que o poder é algo vastamente ambicionado. Seja o poder na sua concepção mais política ou económica, ou na sua concepção mais lata e mais subtil, no seio de uma família, numa relação, numa situação específica do quotidiano.  Nem que seja com o raio do pastor alemão... (daí terem tanto sucesso as teorias da dominância, que nos querem por força estabelecer como líder da matilha, uma espécie de super-lobo, e daí acabarem tantos cães no canil porque o pater-famiglia afirma que “cão meu não me rosna” e o cão ainda assim não parou de rosnar.).

Todos gostamos de “ficar por cima”, mesmo que nos custe a admitir, mesmo que o mascaremos com uma boa camada de humildade, e ninguém gosta de sentir que é irrelevante, impotente, e que a sua opinião não conta para nada – não é por nada que o 112 recebe inúmeras chamadas falsas por dia, ou que há fogos postos só para a TV aparecer em Buraco da Toupeira de Baixo, ou em São João dos Cucos Brejeiros, ou onde Judas perdeu as botas.

Mas se há os “bosses” inveterados, que querem, podem e mandam e isso é um dado adquirido, há também N (ler “n”, aqui, como qualquer número natural entre 1 e + infinito) variações de pressões bem mais subtis e até mesmo inconscientes. A dor de cabeça. A vontade de fazer xixi. Manifestações físicas que podem ser usadas como ferramentas para manipular (ou xixipular) o ambiente que nos rodeia. Porque ninguém tem culpa de ter dores de cabeça ou de ter xixi, e não é socialmente aceite acusar alguém de estar doente e com isso arruinar o plano A, B ou C! Ou de se despistar na estrada, num dia de chuva...

Fisicamente, acho que estamos muito mais poderosos do que em alguma outra altura da história da humanidade. Claro que com isto não quero dizer que sou mais forte que os nossos antepassados símios, com 80kg e 1,5 metros de ombros peludos, que partiam fémures de alce com um machado de pedra, mas que, nos dias de hoje, a mulher de 50kg tem ao seu dispor um poder tecnológico tremendo, que a põe, a ela ou a qualquer contemporâneo, numa posição mortífera.

Já pensaram a facilidade com que poderíamos, se nos desse o bom velho amok, por término às vidas de um monte de pessoas? Só o simples facto de que conduzirmos todos (ou quase todos -  já sei mamã, tu não participas nisso) carros que chegam facilmente aos 100 km/h (já sei, pessoal, há quem não tenha carro para mais de 80 km/h, mas também dá para o que eu quero explicar) é, no mínimo assustador.

Quando conduzimos num IP qualquer, entre aqui e Sines, por exemplo (ou pode ser entre Sines e aqui, também) a única coisa que se encontra entre nós e a luzinha ao fundo do túnel, as portas de S.Pedro, Valhalla, o outro lado do rio Lethe (com umas moedas enfiadas no globo ocular), enfim, o fim desta dimensão é mesmo o bom senso do condutor que vem de frente para nós.

Se pensarmos bem, this is madness!! Confiamos na estrada como não confiamos em mais lado nenhum (era mesmo eu que punha a minha vida que tanto estimo nas mãos da Dona Paula do 3ºEsq, que anda a tomar coisas para a depressão desde mil nove nove oito!) Mas na estrada ponho.

E quando tenho de esperar 45 minutos à chuva miudinha, na autoestrada, porque um génio qualquer quis tomar um atalho para o referido domicílio do cãozinho de três cabeças, com ambulâncias a zunirem pela berma, ocorre-me que possivelmente este é o dia de maior importância da pessoa que provocou isto tudo. Sim, provavelmente nunca na vida deste sujeito houve um dia em que uma acção dele parasse milhares de carros, impedisse reuniões, fizesse perder voos, agrilhetasse figuras públicas e zé ninguéns...


No trânsito, somos quase omnipotentes. Podemos morrer e matar. Ou podemos ficar parados durante horas a fio sem escapatória alguma. É lindo. E de pensar que houve alturas em que nos tínhamos que matar à sacholada...

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O Elogio da Loucura

Este vem a propósito de um post do 9gag que traçava uma relação entre a vida triste e deprimente no mundo real e a necessidade/vontade de nos refugiarmos em jogos de computador onde podemos ser os melhores e ter letras brilhantes no ecrã a dizer: Congratuations!!! Isto porque esse post tinha inúmeros comentários de pessoas que concordavam a 100% com isso, centenas de likes para alguém que dizia “That’s how I survived my shitty childhood”.

Há uma música que me dá que pensar bastantes vezes, e que transmite mesmo o que penso sobre isso... diz a letra:

I'm surprised/ that you've never been told before/That you're lovely/ and you're perfect,/ And that somebody wants you//

E no meu grupo de amigos há várias pessoas, de ambos os sexos, a quem eu gostava de cantar isto muito sentidamente.

Vivemos numa sociedade cruel não só para os cães, sobre os quais muito falo quando me dão trela ;-) mas também para os cachorrinhos interiores de cada um de nós, os nossos egozinhos frágeis, que tentam sobreviver, a grande custo, num mundo de reforço negativo, castigos, multas, necessidade de ser homemzinho, mulherzinha, grande, culto, crescido, interessante, desenvencilhado e sei lá mais o quê.

E se não formos? Se formos só frágeis e patetas, sem muita certeza de onde é que fica o Suriname e se se calhar é ao pé do Vietname, e com a sensação que todos os outros sabem o que andam aqui a fazer, e que a qualquer momento aquela pessoa que realmente interessa vai descobrir que afinal somos uma pequena fraude ignorante e peluda. Com tornozelos feios.

But are we?

Há alguns anos atrás, quando li um livro da Karen Pryor, sobre como o reforço positivo influencia o comportamento de qualquer ser vivo (até de uma ameba!), tomei uma resolução à qual me tento manter fiel: If it’s nice, say it twice! Se algo é bom, bonito, bem feito, simpático, tento dizê-lo à pessoa. Seja um colar novo, seja uma apresentação interessante, seja um gesto agradável e charmoso.

E chego à conclusão que lamentavelmente as pessoas não estão preparadas para ouvir um elogio. Algo tão simples quanto “Oh, isso está tão bem feito” suscita uma palete de comportamentos tão díspares quanto corar, negar, reduzir a acção a algo insignificante, fazer uma piada, ficar sem reacção ou até com um ar duvidoso... Sim, porque eu devo andar a inventar mentiras, não tenho mais nada que fazer.

É curioso. Fui às lágrimas com uma boa amiga, há dias, quando lhe disse, sentidamente, aquando de uma saída conjunta: “Cheiras muito bem”. A isto ela respondeu-me com uma velocidade incrível: “Meh, não é nada, é só o meu perfume barato que é uma imitação do Gucci, comprei nos chineses por 3 euros”

Quê?! Mas eu perguntei alguma coisa? Chiça... Ali fiquei a saber que o perfume é “barato”, “imitação”, “comprado nos chineses” e que de resto devo ser idiota... sim, porque a não-aceitação de um elogio sentido é quase um atestado de burrice à pessoa que o faz: estou então completamente enganada, não cheira bem, não está bom, não é bonito nem atraente, e eu é que sou um freak do bosque por achar isso.

Pessoas, podem-me dar direito à opinião? Tudo bem que é sempre uma tentativa de modéstia, que é bonito, e que também salvaguarda o dito ego, que é um cachorrinho que está sempre à espera que a outra pessoa de repente aponte o dedo e diga: HAHAHA, NÃO, IDIOTA! ACREDITASTE?! CLARO QUE ÉS UM FALHANÇO!

Mas eu não vou dizer nem pensar isso. Gosto de cachorrinhos, e gosto de pessoas, e tento não magoar ninguém de propósito (já basta quando ando a rinocerontar e provoco danos colaterais). Podem honestamente sorrir-me de volta e dizer “obrigado/a”, porque sim, faz bem ouvir que somos bons. E somos. Numas alturas mais, noutras menos, mas em muitos momentos estamos a ser muito fixes, e temos o direito de ouvir isso e de acreditar nisso.

Porque é que será tão mais fácil acreditar nas coisas más que nas coisas boas? Porque é que um comentário leviano sobre um qualquer aspecto físico ou psicológico tem a capacidade de nos destroçar, quando são precisos doses copiosas de elogios até que acreditemos um bocadinho?

Todo o ego é frágil, até o daquela pessoa que parece estar no topo do mundo, e todo o ego precisa de um miminho. Já deu um abracinho ao seu, hoje?