Há uma música que me dá que pensar bastantes vezes, e que transmite
mesmo o que penso sobre isso... diz a letra:
I'm surprised/ that you've never been told before/That
you're lovely/ and you're perfect,/ And that somebody wants you//
E no meu grupo de amigos há várias pessoas, de
ambos os sexos, a quem eu gostava de cantar isto muito sentidamente.
Vivemos numa sociedade cruel não só para os cães,
sobre os quais muito falo quando me dão trela ;-) mas também para os
cachorrinhos interiores de cada um de nós, os nossos egozinhos frágeis, que
tentam sobreviver, a grande custo, num mundo de reforço negativo, castigos,
multas, necessidade de ser homemzinho, mulherzinha, grande, culto, crescido,
interessante, desenvencilhado e sei lá mais o quê.
E se não formos? Se formos só frágeis e patetas, sem
muita certeza de onde é que fica o Suriname e se se calhar é ao pé do Vietname,
e com a sensação que todos os outros sabem o que andam aqui a fazer, e que a
qualquer momento aquela pessoa que realmente interessa vai descobrir que afinal
somos uma pequena fraude ignorante e peluda. Com tornozelos feios.
But are we?
Há alguns anos atrás, quando li um livro da Karen
Pryor, sobre como o reforço positivo influencia o comportamento de qualquer ser
vivo (até de uma ameba!), tomei uma resolução à qual me tento manter fiel: If
it’s nice, say it twice! Se algo é bom, bonito, bem feito, simpático, tento
dizê-lo à pessoa. Seja um colar novo, seja uma apresentação interessante, seja
um gesto agradável e charmoso.
E chego à conclusão que lamentavelmente as
pessoas não estão preparadas para ouvir um elogio. Algo tão simples quanto “Oh,
isso está tão bem feito” suscita uma palete de comportamentos tão díspares
quanto corar, negar, reduzir a acção a algo insignificante, fazer uma piada,
ficar sem reacção ou até com um ar duvidoso... Sim, porque eu devo andar a
inventar mentiras, não tenho mais nada que fazer.
É curioso. Fui às lágrimas com uma boa amiga, há
dias, quando lhe disse, sentidamente, aquando de uma saída conjunta: “Cheiras
muito bem”. A isto ela respondeu-me com uma velocidade incrível: “Meh, não é
nada, é só o meu perfume barato que é uma imitação do Gucci, comprei nos
chineses por 3 euros”
Quê?! Mas eu perguntei alguma coisa? Chiça... Ali
fiquei a saber que o perfume é “barato”, “imitação”, “comprado nos chineses” e
que de resto devo ser idiota... sim, porque a não-aceitação de um elogio
sentido é quase um atestado de burrice à pessoa que o faz: estou então
completamente enganada, não cheira bem, não está bom, não é bonito nem
atraente, e eu é que sou um freak do bosque por achar isso.
Pessoas, podem-me dar direito à opinião? Tudo bem
que é sempre uma tentativa de modéstia, que é bonito, e que também salvaguarda
o dito ego, que é um cachorrinho que está sempre à espera que a outra pessoa de
repente aponte o dedo e diga: HAHAHA, NÃO, IDIOTA! ACREDITASTE?! CLARO QUE ÉS
UM FALHANÇO!
Mas eu não vou dizer nem pensar isso. Gosto de
cachorrinhos, e gosto de pessoas, e tento não magoar ninguém de propósito (já
basta quando ando a rinocerontar e provoco danos colaterais). Podem honestamente
sorrir-me de volta e dizer “obrigado/a”, porque sim, faz bem ouvir que somos
bons. E somos. Numas alturas mais, noutras menos, mas em muitos momentos
estamos a ser muito fixes, e temos o direito de ouvir isso e de acreditar
nisso.
Porque é que será tão mais fácil acreditar nas
coisas más que nas coisas boas? Porque é que um comentário leviano sobre um
qualquer aspecto físico ou psicológico tem a capacidade de nos destroçar,
quando são precisos doses copiosas de elogios até que acreditemos um bocadinho?
Todo o ego é frágil, até o daquela pessoa que
parece estar no topo do mundo, e todo o ego precisa de um miminho. Já deu um
abracinho ao seu, hoje?
lindo
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