sábado, 26 de outubro de 2013

Tudo uma questão de influência ou: Attention-whoring deluxe

É uma daquelas verdades universais que o poder é algo vastamente ambicionado. Seja o poder na sua concepção mais política ou económica, ou na sua concepção mais lata e mais subtil, no seio de uma família, numa relação, numa situação específica do quotidiano.  Nem que seja com o raio do pastor alemão... (daí terem tanto sucesso as teorias da dominância, que nos querem por força estabelecer como líder da matilha, uma espécie de super-lobo, e daí acabarem tantos cães no canil porque o pater-famiglia afirma que “cão meu não me rosna” e o cão ainda assim não parou de rosnar.).

Todos gostamos de “ficar por cima”, mesmo que nos custe a admitir, mesmo que o mascaremos com uma boa camada de humildade, e ninguém gosta de sentir que é irrelevante, impotente, e que a sua opinião não conta para nada – não é por nada que o 112 recebe inúmeras chamadas falsas por dia, ou que há fogos postos só para a TV aparecer em Buraco da Toupeira de Baixo, ou em São João dos Cucos Brejeiros, ou onde Judas perdeu as botas.

Mas se há os “bosses” inveterados, que querem, podem e mandam e isso é um dado adquirido, há também N (ler “n”, aqui, como qualquer número natural entre 1 e + infinito) variações de pressões bem mais subtis e até mesmo inconscientes. A dor de cabeça. A vontade de fazer xixi. Manifestações físicas que podem ser usadas como ferramentas para manipular (ou xixipular) o ambiente que nos rodeia. Porque ninguém tem culpa de ter dores de cabeça ou de ter xixi, e não é socialmente aceite acusar alguém de estar doente e com isso arruinar o plano A, B ou C! Ou de se despistar na estrada, num dia de chuva...

Fisicamente, acho que estamos muito mais poderosos do que em alguma outra altura da história da humanidade. Claro que com isto não quero dizer que sou mais forte que os nossos antepassados símios, com 80kg e 1,5 metros de ombros peludos, que partiam fémures de alce com um machado de pedra, mas que, nos dias de hoje, a mulher de 50kg tem ao seu dispor um poder tecnológico tremendo, que a põe, a ela ou a qualquer contemporâneo, numa posição mortífera.

Já pensaram a facilidade com que poderíamos, se nos desse o bom velho amok, por término às vidas de um monte de pessoas? Só o simples facto de que conduzirmos todos (ou quase todos -  já sei mamã, tu não participas nisso) carros que chegam facilmente aos 100 km/h (já sei, pessoal, há quem não tenha carro para mais de 80 km/h, mas também dá para o que eu quero explicar) é, no mínimo assustador.

Quando conduzimos num IP qualquer, entre aqui e Sines, por exemplo (ou pode ser entre Sines e aqui, também) a única coisa que se encontra entre nós e a luzinha ao fundo do túnel, as portas de S.Pedro, Valhalla, o outro lado do rio Lethe (com umas moedas enfiadas no globo ocular), enfim, o fim desta dimensão é mesmo o bom senso do condutor que vem de frente para nós.

Se pensarmos bem, this is madness!! Confiamos na estrada como não confiamos em mais lado nenhum (era mesmo eu que punha a minha vida que tanto estimo nas mãos da Dona Paula do 3ºEsq, que anda a tomar coisas para a depressão desde mil nove nove oito!) Mas na estrada ponho.

E quando tenho de esperar 45 minutos à chuva miudinha, na autoestrada, porque um génio qualquer quis tomar um atalho para o referido domicílio do cãozinho de três cabeças, com ambulâncias a zunirem pela berma, ocorre-me que possivelmente este é o dia de maior importância da pessoa que provocou isto tudo. Sim, provavelmente nunca na vida deste sujeito houve um dia em que uma acção dele parasse milhares de carros, impedisse reuniões, fizesse perder voos, agrilhetasse figuras públicas e zé ninguéns...


No trânsito, somos quase omnipotentes. Podemos morrer e matar. Ou podemos ficar parados durante horas a fio sem escapatória alguma. É lindo. E de pensar que houve alturas em que nos tínhamos que matar à sacholada...

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