Hoje recebi uma chamada do meu
irmão mais velho, pondo-me a par de uma situação aborrecida que aconteceu a uma
avozinha de 90 anos (vamos imaginar que não é a minha, a implicação genética é
assustadora, e eu gostaria de casar com um moço de boas famílias), no centro de
dia. Situação esta que levou à intervenção dos dirigentes da instituição, e que
ainda estou a ponderar se me deveria encher de orgulho ou de vergonha. Se
calhar antes preocupação.
Porquê, perguntam vocês... bem,
porque...Porque: não é que a dita senhora se conseguiu meter num fight
geriátrico?!!
Sim, é verídico.
Um episódio de
agressão física mútua entre velhinhas. Não sei se voaram dentaduras e permanentes
foram permanentemente danificadas, mas pelo relato da ocorrência por várias
partes (algumas menos imparciais e um pouquinho alteradas na sua capacidade
cognitiva), passou-se o seguinte:
A avó de alguém (não vou aqui
escrever nomes, para descaracterizar as personagens envolvidas e manter o
sigilo judicial) está a sofrer crescentemente da síndrome do “roubaram-me as
coisas”. Esta síndrome manifesta-se em acusar, com grande certeza e determinação, toda a gente de
a roubar, inclusivé a única neta que possui, e que definitivamente NÃO rouba saias
de malha plissadas e sem godés. Ou era COM godés? Não sei, nem sei o que são
godés...
Enfim, as pessoas do mundo, que são deveras invejosas do seu bom
gosto, modernidade e espírito jovem, e como vingança, roubam-na.
Quando feitas no seio familiar as
acusações embora aborrecidas, vão passando, mas nem toda a gente, especialmente
a antagonista, “que é mais nova, deve ter uns 80 anos, mas é uma velha e eu não”
tem pachorra para este género de embirrâncias...
Assim, a senhora acusada de
furtar uma esferográfica personalizada, oferecida pelo filho...não, pelo outro
filho... ou quiçá marido (há coisas que se esquecem, afinal de contas), não
teve com meias medidas e, impulsionando-se vigorosamente no seu andarilho,
procedeu à ministração de medidas físicas de correcção sobre o toutiço da
avozinha.
Não obstante estar sentada e a
outra de pé, a avozinha agredida não recusou o scratch (isto é linguagem de
lutas de pits) e lançou se em defesa, com uma espécie de uppercut à old-school
(tipo, school de 90 anos) que deixou bem claro que ali, naquele centro, ela não
seria uma espezinhada! Aliás, hoje ainda garantiu à entrevistadora que, apesar
de lhe ter ficado a doer o cocoruto pelos calduços recebidos, a outra velha que
nem pensasse que ela trocaria de lugar à mesa comum!
Acabou o episódio com pedidos de
desculpas mais ou menos sentidos – okay, zero sentidos, de má vontade, e
profundamente hipócritas e a incerteza acerca da possibilidade de continuar a
manter estas duas senhoras em espaços físicos contíguos sem danos de maior...
Mas
como a referida avozinha no dia em que escrevo isto teve o desplante de ligar à
neta a insistir que eu - perdão, ela, a neta - é que se esqueceu que já levou
duas (está a aumentar para maior número) saias das melhores, há um sentimento
nascente de: Whatever! Vá lá acusar assim a sua colega da casa de repouso se tem coragem, mas
depois não se queixe que levou bengaladas!
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