segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Beer Barraca em Berlim

Festa da cerveja...e...esperem, estou-me a lembrar do resto!

NEW*NEW*NEW*NEW ADICIONADO A 1 DE SETEMBRO DE 2010

Em Berlim tinhamos casa! Logo iriamos viver muito pró-P1, o que parecia bem, pois para Amesterdão já se previa a desgraça.
Ficámos em casa da minha madrinha, que nos distribuiu por um quarto sem colchão e uma sala com colchão.

Alegando questões de justiça (camas de campismo demoníacas anteriormente impingidas ao Mr.Y) este apoderou-se do colchão, recusando responsbilizar-se por quaisquer danos que o meu esqueleto e o do Mr.X pudessem inflingir ao soalho envernizado do apartamento da nossa anfitriã.

Soube bem voltar a estar numa casa com um duche bem limpo e sem 7 marmanjos a fazer bolhas de saliva em camas ao lado, e a minha madrinha até cozinhou pasta para nós...à meia noite! Estava deliciosa, tão deliciosa que tanto o filho da cozinheira como o Mr.X prometeram comer todos e quaisquer restos frios no dia seguinte. Pobre Mr.X! Em muito tinha ele subestimado as capacidades, a motivação, e especialmente a voracidade de miúdos de 18 anos, quando foi por ela, já nem o cheiro nas paredes do tacho se sentia. “O raio do puto varreu mesmo aquilo tudo”, gruniu ele, desiludido.

Mas bom interrailista não se deixa ir abaixo, e saímos para provar outras iguarias, especialmente as excelentes curry wust , que são umas salsichas como só os alemães sabem fazer, polvilhadas com caril e regadas com ketchup, parece uma combinação estranha, mas popularizou-se com uma velocidade estonteante, e hoje são daquelas coisas muito “berlinenses”. Alguns dos Misters (na realidade um deles, não era o X, mas não vou especificar mais) mostrou atitudes muito pouco másculas face ao picante do caril. Meniiiiiiino. (Vá, vinga-te no Purfácio, se és capaz!)

Claro que também havia que provar as famosas Bolas de Berlim, - “berlimból, berlimból, pagagueava o Mr.X - que em Berlim não têm o afixo “de Berlim”, nem têm açucar granulado por cima, nem doce de ovos por dentro. Sim, meus compatriotas, andamos a fazer tudo mal, e a “bolinha, bolinha, hácomcremisemcreme” que é anunciada nas nossas praias com um sotaque crescentemente brasileiro é uma aberração. É como...como...como fazer uma açorda de alho mas em vez de alho deitar-lhe amendoins e guarnecer com folhas de amoreira e um adicional bicho-da-seda de quando em quando. É uma ideia interessante, mas no sentido de interessante como um bebé com sete dedos dos pés e um bico. Isto é a minha opinião, opinião de uma pessoa alérgica à nossa doçaria conventual e a tudo que saiba declaradamente a gema de ovo. Se me querem afastar, é abanarem-me um búziozinho de ovos moles de Aveiro em frente ao nariz, sob ameaça de mo fazerem comer, e far-vos-ei uma demonstração de velocidade e agilidade inesperada.

As verdadeiras Berlimbóis são cobertas de glacé de açucar (açúcar em pó misturado com água ou rum, de maneira a ficar em creme que depois seca sob a forma de cobertura, com uma consistência semelhante à da cobertura de chocolate num Rim (bolo!). E por dentro têm doce de fruta. Tradicionalmente de ameixa, pela sua resistência ao calor, mas desde que inventaram os sacos pasteleiros com os quais recheiam as bolas depois de serem fritas em óleo, também, alternativamente, com doce de cereja ou morango. O que obviamente também é uma aberração. Já dizia um cota na praia da Falésia, com ar de asco: “Algumas das bolas daqueles brasileiros são injectadas!” (E na nossa cabeça formou-se uma imagem de uma bola inchada, tratada com esteróides e a custar a fechar a cobertura devido ao exagero de massa...)

Enfim, alguns gostaram, outros não, penso que é como a comida chinesa que comemos por cá, não tem nada a ver com a comida chinesa chinesa, e possívelmente dessa nem sequer gostaríamos.

Em Berlim, eu estava sem a pressão dos monumentos, pois já os conheço de ginjeira, e queria ir visitar uma amiga. Tentámos alguns monumentos logo no primeiro dia, mas chovia desagradávelmente, ao que desistimos às portas de Brandenburgo.
No fim de semana queríamos ir ver uma faceta de Berlim que eu considero um must see, que são as fantásticas feiras da ladra. Berlim tem feiras da ladra que trazem as lágrimas de vergonha aos olhos do nosso pequeno mercado de velharias em Lisboa, mas não é só a extensão, como a qualidade e todo o espírito envolvente. Eu queria ir a uma específica que fica na estação de metro Eberswalderstrasse, mas depois de uma aventura de uma hora e meia nos transportes públicos, e de sairmos de casa cedíssimo – acho que foi o dia depois de o Mr.Y me querer decapitar – chegámos lá para descobrir que eu, apesar autoctone e a rasar o omnisciente, tinha, horror dos horrores, errado: era aos Domingos!

Mas voltemos às minhas questões com o Mr.Y. É que quando eu acordo, acordo. Fico logo coerente, conversadora, a atirar para o barulhento e com uma boa disposição que é estranhamente irritante para os seres da estirpe do Mr.Y que acorda muito lenta e penosamente, de mau humor, querendo silêncio até depois do café. Not on my watch, Mister! Pelo que tive de ouvir uma frase que em si era inofensiva, mas num tom tão marcadamente venenoso que me gelou um bocadinho o tutano, se bem que não o paleio “Massss tu não sabesss falar baixo?” assim bem rangido entre dentes, com a entoação de “Pode ser a última coisa que fazes”.

Desculpa aí qualquer coisinha, mas o dia começa quando eu começo a falar, e nunca percebi porque é que as pessoas hão de preferir o silêncio se podem ouvir coisas interessantes da minha vida e do meu foro psicológico...não é? Mas depois de ter sido assim violentada verbalmente, nessa manhã fomos em silêncio pesado até...

... descobrirmos que havia uma festa da cerveja algures em Berlim, o que deu novo alento aos misters, e um propósito à minha pessoa. Isto porque me sentia um pouco mal por me ter enganado pela primeira vez na vida, foi como quando digo ao Winston “já vamos play frisbee” e me telefonam nesse momento a dizer que tenho de ir a correr para a universidade, e depois sinto que o tenho de compensar com natação nocturna na bica ou qualquer coisa.

Neste caso como não podia haver feira da ladra, que pelo menos houvesse cerveja. Nesse aspecto o homem vulgaris é muito previsível e mais fácil de contentar que o canis familiaris, não requer divertimentos intelectuais ao nível de uma sessão de clicker para aprender a dar a pata, umas cervejinhas servem. E assim que encontrámos a dita feira, os animos levantaram.

Era uma rua com cerca de 800m, com barraquinhas de um lado e de outro, e funcionava da seguinte forma: Comprava-se uma caneca – vários tamanhos à escolha – que após o evento seria altamente vendível no e-bay, e com essa canequeinha se fazia então a ronda, enchendo-a por 1.50€ com os vários tipos de cerveja que se desejava provar.

E sim, acho que a cerveja alemã é mais fraquinha que a portuguesa, mas em contrapartida há inúmeras qualidades, e como já cantava Mark Knopfler, “German beer is chemical free, whuddayeee, whuddayee” está sujeita a uma lei de pureza que previne que a ela sejam adicionados quaisquer tipos de aditivos. E ali ficámos até ao último momento possível, e por acaso foi o máximo.

Havia pelo menos 6 ou 7 palcos com música ao vivo, desde o folclore, tão insuportável ali como em quase todo o lado (menos quando mete gaitas de foles e homens maçudos em kilts, ou harpas e fadas irlandesas), até aos oldies maravilhosos. Demos particular atenção a um homem que tocava músicas como Sweet Home Alabama e Beatles com uma banda de marionetas muito gira.

Quanto à comida, ainda provámos um outro tipo de salsichas, estas da zona do mar do norte, chamadas “Wattwürmer”, minhocas do Watt. O Watt é a zona ribeirinha desse mar, bastante lodosa, e de uma extesão enorme devido às marés extremamente pronunciadas, e é também onde se encontram umas minhocas específicas. As salsichas pelo que penso não eram feitas mesmo de minhocas (pelo sim pelo não, não traduzi o nome aos misters), são da grossura de uma esferográfica e sabem a salame do Lidl. Como são picantes, “puxam”, como se diz em bom português, a cerveja o que é no interesse dos organizadores, pelo que o preço delas também é acessível. Elas têm uns 50 cms (sim, são mesmo estranhas) e custam 50 centimos. E eu a pensar que já não havia snacks a menos de um euro!

A parte difícil foi, mais uma vez, conseguir pastorear os meus amores para fora dali, mas tinhamos um compromisso, pois a minha madrinha, que é uma fixe e faz publicidade e public-relationcoiso para artistas e eventos culturais, tinha-nos arranjado bilhetes à borla para um espectáculo de variedades num teatro muito porreiro nos Hackische Höfe, o Chamäleon.

Desde dormir em bancos de parque até ir ao teatro com tratamento VIP, tivemos direito a tudo, nestes interrais. O espectáculo foi qualquer coisa de impressionante, eram 10 pessoas, 5 raparigas e 5 rapazes que faziam acrobacias com variados efeitos de palco – luzes, panos coloridos, sombras, andaimes, etc – ao som de música moderna, Muse, por exemplo.

Os misters ficaram doidos com as ginastas, e eu também pude lavar os olhos com os rapazinhos que subiam varões de metal com a ligeireza de osgas, ficando em posições extremamente favoráveis à análise isenta a puramente anatómica de bíceps, tríceps, peitorais e costas em trapézio. Não, não gostaria de andar com uma gajo que fisicamente é assim mundos mais atraente que eu, mas para ver de vez em quando é engraçado. As miúdas eram incríveis, muito expressivas, e a ginástica é daqueles desportos que se pode praticar sem correr o risco de entrar na classe de butch sem maminhas e com ombros de Conan the Barbarian. Das coisas mais impressionantes era ver aqueles actos de pura força, muitos deles, serem executados com uma tal elegancia e perfeição que parecia não custarem nada – quando as nódos negras escuríssimas no interior dos joelhos reportavam a dificuldade de agarrar um trapézio só com as pernas enquanto alguém se balançava agarrado às mãos dessa pessoa.

O final da noite foi a ver um espctáculo de um street-artist australiano, que das 80 pessoas que estavam a encher a praça lá teve de me escolher a mim para fazer de vítima, obviamente. Acho que me aguantei bem, graças a Deus não sofro de timidez e consigo entrar nestas coisas, dispensava era no final ele me pedir um beijo e depois de me estender a face virar-se de repente proporcionando-me a minha primeira e nojenta experiência de beijar um punk com muy poucos dentes na boca. Podia ele dar-se por feliz de não estar ali um respectivo ciumento, como ja os houve, senão acredito que se veria despojado de mais alguns dentes assim na hora. Foi a única altura em que perdi a lata e me vi obrigada a fazer uma espécie de dança de mãos agitadas, muito gay. E eu sou rapariga, pensava que nem dava para ser gay. Os misters riram a bom rir, especialmente quando um rapaz do público berrava insistentemente “Burn the hair, burn the hair” no meio do malabarismo com os pauzinhos em chama, isto só porque eu tinha avisado o maluco em boxers que me podia matar, mas que não me puxasse fogo ao cabelo!

No dia seguinte, Domingo, lá conseguimos apreciar o espírito da feira da ladra de Berlim, que eu perseguia.
É tudo muito relaxed e cheio de relva e árvores e barracas de salsichas e kebabs, pessoal sentado no chão com matilhas de cães e guitarras, tererés, cobertores, helicópteros telecomandados (sim, babes!), karaoke, bijutaria feita à mão e na hora por freaks biológicos...enfim, sinto que encontro a minha tribo.

Infelizmente não pudemos comprar muita coisa, mas arranjei uma mochila nova pela módica quantia de 7 euros, um livro de um dos meus autores preferidos (Noah Gordon), que me desiludiu amargamente e algumas roupas a 1 € BARGAIN!!! emaisumaspequenosidadesfiozinhoessencialetc. Mudando de assunto, não deixei os Misters continuarem a negociar e a ponderar levar um barco insuflável com um grande motor, (homens...) e posto isto o Mr.X nem umas barbatanas ou uma coleccção de selos comprou. P1, já sabem, né? O incrível é que naquelas feiras da ladra se compra mesmo tudo, até avózinhas que acidentalmente foram empacotadas juntamente com o suposto espólio, e algumas das quais em óptimas condições e ainda a cozinharem!

À página tantas lá abandonei os meus mininos com um mapa cheio de instruções e notas de rodapé de modo a conseguirem encontrar os vários monumentos. Ao que parece as minhas notas tinham tanto ou tão pouco de úteis que só serviram para os levar de volta à festa da cerveja, cujo conceito afirmaram não ter percebido bem, tendo por isso que reviver determinadamente a experiência. Ao fim de algum tempo de festa da cerveja, dei pelo Mr.X a dirigir-se a pessoas alemãs enunciando frases inteiras em alemão! “Ó Mr.X,” admirei-me eu “mas tu não falas alemão!” “Quero lá saber!” responde-me a criatura muito desembaraçadamente. Só me fez lembrar uma anedota: Um homem contar a um amigo como conseguiu fugir de um leão, no deserto, trepando para cima de uma árvore. Ao ser confrontado com as dúvidas do amigo, que argumanta que no deserto não há árvores, este responde “Naquela situação estava-me borrifando para isso!”

Tal não estava o Mr.X que as minhas amigas ao verem-no a distribuir extrovertidamente beijos portugueses acharam que ele era tal e qual o meu ex-respectivo...uma comparação tão desapropriada como hilariante para quem conhece os dois.

Alguns Döner Kebabs e mais algumas voltas pelo Alexanderplatz, com a conhecida torre “Fernsehturm” e a fonte de Neptuno depois, estavamos prontos para seguir para Amesterdão. E assim foi.

Küsse,
Ms. Sophiechen

1 comentário:

  1. Esse punk devia ser o mesmo que estava no ano passado no Alentejo Sem Lei, aquele que disse que te amava eheh ;)

    Vês como beber não é assim tão mau? Foi da maneira que aprendeu a falar alemão... como é que pensas que eu aprendo suomi? Koskenkorva, pois claro!

    Amanhã vou para a sauna com as italianas e as alemãs, se não disser mais nada é porque não sobrevivi ;)

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