sexta-feira, 20 de agosto de 2010

From Roma roaming to Wien

Roma – Wien aka Vienadáustria

Foi de certa forma melancólico irmos embora de Roma... se até lá restava uma esperança difusa de alguém nos ligar dizendo “encontramini votra baggaglia, il computadori è liggeramente riscatto mé funciona, e ils interraglios tenem di secchari...”, agora “caíamos na real”, como diriam os brasileiros.

Depois de muito ponderar, pensamos que face à desgraça geral, mais valia a pena fazer dois interrais que meio interrail com um fim triste, e comprámos uma nova dose de bilhetes, desta vez os mais acessíveis flexi-passes, com dez dias de validade e cinco dias de viagem possíveis nesses dez. Acabava-se assim o à la gardenne e começava uma nova era de planeamento mais cuidadoso, pois havia que racionar as viagens e fazer uso inteligente da regra das 19 horas, que faz com que se possa começar uma viagem depois das 19h de um dia, e prolongá-la pela noite fora, utilizando só um dia de viagem. Foi isso mesmo que fizemos de imediato, usando assim só um dia de viagem para fazer Roma – Wien, Wien – Praha. Das 19h até de manhãzinha pusemo-nos em Wien, e seguimos depois de almoço.

Uma vez que estavamos cansados e em parte despojados das nossas mochilas, o que não é muito bom para a motivação, em Wien demos só voltinhas de vaca. Fomos de eléctrico até à parte histórica da cidade, à volta do Karlsplatz e da Ringstrasse, e daí partimos à descoberta.

O pior era que as mochilas que restavam estavam pesadas e tinhamos fome. Começei a pensar praticamente – ou será que começei praticamente a pensar? – afinal, o que era tradicional de Vienadáustria? O Rex, sim. Os distritos numerados. Arquitectura bicuda e um gosto por bailes pomposos. Schnitzel e Apfelstrudel...HA! Aí estava algo exequível!

Expliquei aos Misters que deveriamos comer qualquer coisa de tradicional e entrámos num mercado bastante grande, que se estendia ao longo de uma rua inteira, para procurar iguarias tradicionais. Mas estavamos enganados, pois o mercado era exactamente o oposto daquilo que nós queríamos, era um mercado de produtos exóticos só igualado ao de chinatown em Londres.

Desde todo (e quando digo todo, é todo) o tipo de frutas, do mirtilo aos cocos bebés passando por coisas com picos como as mal-cheirosas frutas durio e todo o tipo de frutos secos que nem sabia poderem ser secos, até às especialidades gregas, turcas e russas, havia de tudo. Ah, e cheguei à conclusão que ignorava o wasabi vir de uma noz! E que esta pode ser verde ou vermelha.

Quanto mais andávamos, mais fome tinhamos, e aí a matilha começa a dividir-se em duas fracções: A dos “preciso de comer já, senão não esperem mais uma onça de boa disposição e aguentem as minhas trombas a minha falta de humor e o meu mau feitio se quiserem – se não quiserem azarinho”, constituida pelo Mr.Y, e os “vamos encontrar a melhor relação qualidade-preço, nem que para isso tenhamos de correr todo e qualquer restaurante/loja/barraca do país, mas não vamos deixar que isso nos arrelie” constituida pelo Mr.X e a yours truly.
Se bem que o Mr.X derivado ao P1 e não ter Nheir-nhum acaba por ser mais purista que eu, ainda. Quer comer por 3 euros, incluindo café, o que se reflecte num arzinho cada vez mais pálido e frágil, o que leva o resto da matilha a comprar pratos que não quer para ele poder "provar um pouco". Estou desconfiada que se não fosse o Mr.Y deixá-lo provar kebabs inteiros, já o tinhamos perdido em paris, onde teria ficado, translúcido e de olhos semi-fechados, prostrado na relva.

Algures a meio da busca, o Mr.Y borrifou-se no plano geral e foi comprar Sushi, que teve de carregar sob os nossos olhares reprovadores até ao local onde finalmente me pareceu uma boa ideia provar as iguarias locais. Pedimos uma cerveja para 3 pessoas (e eu não bebo), um Schnitzel com batatas daquelas tipo wedges (um Wienerschnitzel verdadeiro tem mais ou menos meio metro quadrado) e um Apfelstrudel.

Para quem não sabe, o Wienerschnitzel é uma bifana que é batida até ficar muito fininha e tenra, e depois panada e frita, servida com limão. É muito bom. Depois há Schnitzels em várias outras manifestações, mas a base é sempre a bifana. A palavra em si é difícil de ensinar, mas como a motivação de a aprender é grande, passado poucas tentativas coroadas de gafanhotos e reminiscentes de gatos com catarro lá estava: Chrrrrrrr!! Gschwü? Gewüschl?? Não! Schanunitz, zt, tz, Chunitzel. Schuuuunittzzzzll! Schunitzl! Lálálálá, schu-nitzl, schunitzl, gostamos de schunitzl!

E de Apfelstrudel também! Este não é de massa folhada, por muito que o Lidl nos queira fazer crer isso, o verdadeiro é de uma massa elástica estendida até ficar extremamente fina (endoidece os rookies culinários), tipo crepes, que é colacada às camadas e entre as camadas leva maçã e passas com um bocadinho de canela. As passas, que eu conheço como inimigas vulgares do público em geral, mal se notam, tenho os testemunhos dos misters. O Strudel vem com molho de baunilha (tipo leite creme) ou chantilly, o nosso tinha chantilly, e estava morno, ainda. Difícil foi manter alguma boa educação, e vi-me forçada a atirar alguns olhares daqueles quando vi que o Mr.Y tentava comer Sushi comprado no mercado, disfarçadamente, na mesa do restaurante.

Visto o memorial de agradecimento aos soldados russos que morreram a libertar Wien dos Nazis, mais algumas catedrais e igrejas, o mais engraçado foi mesmo uma placa de aviso num pequeno jardim, que era na forma de Jack Russel (o cãozinho da Máscara, com Jim Carrey), que segurava uma tabuleta a dizer: Está-se a cagar para 36 €? [foto de cocó de cão] Pegue num saquito para o caganito, senão paga até 36 €. Não faça merda! Está nas suas mãos. Achei assim só um pouco mais genial do que a catedral barroca duas ruas abaixo, mas, em minha defesa, tenho a dizer que só dá para ver um determinado número de catedrais sem que isso acarrete graves problemas psíquicos e uma redução em 87% da capacidade de atenção no detalhe, e eu tinha atingido o meu limite mensal. Ainda por cima depois de Florença já pouca coisa impressiona.

Batia-nos o cansaço de uma noite mal passada, e assim que chegámos ao comboio voltamos a divertir-nos com o jogo “vamos ver quem consegue dormir na posição menos ortodoxa, e ficar confortável”. Eu domino esse jogo! Para já, e tendo um pescoço de girafa do qual mais adiante falarei em mais pormenor, consigo deitar-me num sítio, e depois fazer meia dúzia de curvas serpenteadas e colocar a cabeça noutro local completamente diferente, e depois, durmo mesmo bem. E adormeço depressa. Só tenho um pequeno problema: Quando estou a adormecer oiço tudo mas não tenho força para responder, nem quendo estão a gozar comigo, e quando acordo fico melosa e desbocada, só dizendo baboseiras ou verdades que deveriam permanecer ocultas... “Oh amor, sonhei que andava embrulhada com o vizinho de cima, aquele muita giro....dá-me um abraço...mrblrblzzzzzzz...” o que por vezes estraga um pouco o resto do dia, mas adiante. Neste jogo, no entanto, existem regras:
1. Ninguém pode ficar ao pé dos pés do Mr.Y, uma vez que a avózinha dele lhe deu umas meias de fibra que provocam um tal fedor que se torna muito perigoso dormir na área. Eu conseguiria fazê-lo, mas possívelmente não acordaria, e isso seria uma grande perda. (Pelo menos para mim, chego a dizer que me retiraria a razão de viver e o centro do meu universo.) Em Paris tornei as regras mais fáceis, e atirei as meias para o lixo, mas chiu, ninguém sabe. Não há fotos.
2. O Mr.Y e eu não cabemos no mesmo banco, lateralmente, o meu rabo é grande demais. Não entrarei em detalhes sobre essa limitação, mas quem sabe, se os misters algum dia concretizarem o Purfácio que se propuseram a escrever, talvez elaborem o caso.
3. Se nos encaixarmos pernas-com-pernas temos de ter apoios feitos de mochilas entre os bancos.
4. Numa posição lateral é fácil respirar para a cara do opositor, o que retira pontos ao sono dele.
5. O Mr.Y tem mau acordar. Ganha-se pontos por fazê-lo, mas também se podem perder vidas.
6. O Mr.X tem demasiados braços ossudos.Chega a parecer que são 6, pelo menos. e sempre um que nos espeta as costelas.
7. É um foul grave pisar-me o cabelo.
8. Há que alinhar as vértebras com os espaços dos bancos usar os desníveis para cotovelos e ancas.
9. A posição Nr2, debruçado de frente por cima da mesa é básica e não dá pontos adicionais.
10. Os vencedores absolutos são aqueles que não acordarem nem em caso de lhes roubarem as malas debaixo das cabeças. Very funny.

E pouca-terra, pouca-terra úú, úú, até Praga, ou como se diz bem, Praha.

Grützi und Bussi,
Sophie Luiserl

3 comentários:

  1. Muito bom uma descrição divertida, culturalmente rica e com ironia q.b.! Fico ansiosamente à espera do próximo capítulo.

    ResponderEliminar
  2. Obrigada, linda!
    São comentários assim que me fazem escrever o próximo capítulo!
    Beijinhooooos!***

    ResponderEliminar
  3. Temos que jogar esse jogo... se te disser que já ferrei a dormir encostado à parede durante um concerto de drone (musica extremamente leeeeeenta...) num bar em Cascais? Ou sentado na sanita? E outro dia fiz Wienerschinzteis para o staff, um dos bosses é austríaco, actually. E não acho a palavra complicada de se dizer :P mas deve ser por isso que no Brasil e mesmo em Portugal chamam bife à Milanesa, é mais fácil de pronunciar. Agora se foi em Wien ou se foi em Milano que o inventaram, je ne sait pas...

    ResponderEliminar