quarta-feira, 28 de julho de 2010

Faro-Paris

Ora beim, ora beim. Estou sem spellcheck e sem tempo para segunda leitura, perdooem erros e gralhas, que com certeza populam estas linhas. Tá bem?

Aqui estamos para mais um relato das viagens entusiasmantes da yours truly... o diário de Bristol Jones é por este meio continuado, pela voz de mademoiselle Sophie, Ouais, porque eu agora já sou uma cidadona do mundo, já estive em Paris!

De modo que arranjei dois guarda-costas, chamemos-lhe complicado Mr.Y (Why?) e o Misterioso Mr. X que de resto não olha para rabos nenhuns, Mr.Y e Mr.X, para os amigos. O Mr. X é aparentado de alguém que me está a tomar conta do gaiato, e o Mr.Y é uma adição muito recente ao meu circulo de influência, que me chegou por via Mr.Ex. Sim, eu também pensava que estas coisas dos Interrais (digam-me lá o plural de Interrail) eram coisas de adolescente, e que se faziam com um grupo de amigos íntimos, etc... mas olhem, não mais sou adolescente, e não tenho amigos íntimos que se prestem a estas coisas, de modo que teve de ser assim.

Após mudar um apartamento inteiro da Linha de Cascais para terras transtaganas, que são, enfim, a minha linda sina, e após vasculhar os cerca de 30 (felt 300) sacos de lixo preto que contém os meus haveres, os haveres da casa, os haveres do cão (são muitos) os haveres do meu irmão, e ainda os haveres de um incógnito Sr que usa boxers cor-de-laranja – sim, é complicado explicar um par de boxers cor de tijolo que não pertencem ao meu irmão, nem ao mê respectivo – após, então, escavações arqueológicas prolongadas e pouco eficientes nesses ditos casulos da mudança, dos quais consegui extrair uns bons 75% daquilo que queria, estava pronta para partir para Faro, de onde apanharíamos o avião para Paris Beauvais.

A partir daí os planos eram nebulosos rasando o inexistente, mas sempre seguindo dois parâmetros: Não podemos rebentar o budget e Have fun. O primeiro parâmetro, de ora em diante referido como P1, chega a ser um pouco limitativo, especialmente no caso do Mr.X que o aplica com uma tal força e determinação que chega a ser elevado a P1+. O P2 é bastante elástico, muito subjectivo, e por vezes entra em confronto senão incompatibilização com o P1.

Desrespeitámos desde logo o P1, e em vez de levarmos um farnel como deve ser do minipreço, na bagagem de porão, não, adquirimos alguns itens de alimentação numa bomba da gasolina perto do aeroporto, conhecida pela sua economia (NOT) e uma ligação criminosa com a secção de controle da bagagem, mas adiante. Adquirimos pois, como bons tugas que somos, vários tipos de bichos com tentáculos em molhos diferentes, como já dizia o Terry Pratchet: tudo o que é comida esquisita dizemos que sabe a galinha, e quando está excepcionalmente bom os tentáculos nem sequer arruinam a experiência. Neste caso, como latinos trogloditas que somos, até afirmamos que sem tentáculos a experiência não seria a mesma. Há, no entanto, para além dos nórdicos incultos, outras pessoas que não reconhecem umas boas lulas de caldeirada como comida, mas sim as carimbam como bomba de gel com mais de 100gr, de modo que ficamos imediatamente despojados dos nossoa caríssimos cocktails molusculoff em detrimento da nossa felicidade e satisfação pessoal. Como o colocaria o Mr.X: 1ºF*dão.

Mas enfim, há mais tentáculos que marinheiros, e não deixamos que esse contratemo nos arruinasse a disposição.

Por razões de P1, resolvemos, uma vez que aterrávamos por volta das 10 da noite, dormir a primeira noite no aeroporto, mas isso antes de sabermos que se tratava de uma espécie de aeródromo rafeiroso a 80 km de paris, onde era tudo menos glamoroso pernoitar. Apanhamos o shuttle a 15€ por tentácul...perdão, cabeça, e lá fomos nós direitos a Paris. Pelo caminho descobri que o Mr.Y fala francês melhor que eu, uma vez que morou 14 anos na Suiça, e que a comunicação estava garantida. Eu cá adoro francês, mas é uma experiência um pouco frustrante uma vez que estou habituada a falar como uma... enfim, como vocês de certeza sabem melhor que eu, e nessa língua linda de morrer vejo me subitamente reduzida a um de Gnurfs Uhm Uhm, uma espécie à qual não apercio muito pertencer.

Uma vez chegados à cidade das luzes, verificámos que estava a chover, e não era pouco. O que iramos nós fazer? Vageamos um pouco, apreciando pela primeira vez o peso das nossas bolbosas companheiras de viagem, Moxila, Mochilah e Mo-chilla, que de balança pesavam todas entre 10 e 14 quilos, mas que em quilos psicológicos acabavam por ascender a pelo menos uns 30, com asas cortantes e ásperas que desde logo iniciaram a tarefa inglória de nos amachucar as omoplatas, esfolá-las, especialmente onde já haviam sido queimadas pelo sol, aliadas à boa velha da compressão resultante da gravidade que puxava impiedosamente as latas de comida e as poucas e terrívelmente práticas peças de roupa que as enchiam. A chuva francesa, viemos a descobrir, é uma verdadeira madame caprichosa, ora parava (em sincronia absoluta com o poisar de malas) ora começava torrencialmente, ao comando “Asa”, que foi o primeiro comando que ensinei aos meus amores, e que os leva a auxiliarem-me com a asa da Moxila, que é um pouco teimosa, e requer tensão externa. Inicialmente o comando deve ser seguido de um “se faz favor amável”, acompanhado de um sorriso, e recompensado com um obrigado, mas gradualmente, com o avanço do treino, o duplo comando e a recompensa podem ser eliminados até ao ponto de o Mr em questão executar a acção automáticamente e mesmo quando amuado/com fome/distraído pelo rabiosque daquela ruiva boazuda (o que, óbviamente, nunca aconteceria ao Mr.X, que é absolutamente imune.

Tinhamos um mapa de Paris e começámos a passear aleatóriamente pela cidade, cansados e mal-habituados, resmungando que o arco do triunfo era pequenino, a torre só tinha rebites e não porcas para souvenirs, que cheirava a xixi, que não havia água, e que não havia internet. Mas voilá que nous sommes wrongues, e havia água pois, num episódio To Be Continued que gostamos de apelidadar de F*dão nº2. As aguinhas mesmo por debaixo daquele monte de ferros velhos custavam 4 eurónios! E nós comprámos uma...irk!

Enfraquecidos pelo gasto terrível dirigimo-nos para o parque em frente do museu militar, no qual patrulhavam imensos militares armados e também polícia normal, da azul, e demos início à operação “Não, não estamos a acampar aqui, o que vos leva a pensar isso??”. Esta operação consiste em permanecer sentado, com um ar alerta e conversador, como quem eheheheh, je suis français e je m’amuse comme ci toutes las nuites, e muito gradualmente então ir desmoronando: O Mr.X manteve sempre os óculos de sol postos como manobra de dissuasão, e não, de modo algum, para olhar para as loirinhas magras de seios grandes que passavem pela boulevard, o Mr.Y andava a patrulhar, e moi, je estendi o saco de cama e depois com intervalos de 10 minutos: 1)abri-o fecho, 2)deitei-me em cima dele, 3)descalcei-me, 4)entrei, 5)tapei-me e 6)dormi até o Mr.Y me acordar com berros de “Está a chover!” que fizeram as nossas cansadas ossadas ergeuer-se com uma obediencia espantosa, e daí a 2 minutos estavamos a caminhar rua abaixo, debaixo de uns suaves chuviscos que mal molhavam.

Às 3 da manhã.

Perto do Louvre (dentro do Louvre, pelo que descobrimos depois) tivemos de fazer a escolha difícil de nos deitarmos para um resto de noite descansada debaixo de umas câmaras vigilantes, ou num lindo jardim com relva ligeiramente húmida. Optámos pela relva, pelo menos o Mr.Y e Eu, o Mr.X, numa manobra de rara sorte e nenhum mérito à inteligência escolheu um banco de jardim, no qual se encaixou.

Dormi que nem um passarinho, com o saco de cama por cima da cabeça, até ouvir, sobre a fina camada de fibras de poliéster uma chuva torrencial, esta sim, digna de sobressalto. Enfiei o focinho para fora do meu involcro e vi-me, qual agente secreta no meio dos lasers, no cross-fire, ou melhor, cross-water de cerca de 8 bicos de rega automáticos que esguinchavam água de uma forma mais violenta que o emporcalhado senhor do anuncio de Axe. De um pulo, pus me na vertical. De um pulo, tomei duche. De um pulo não consegui fazer nada porque tinha as pernas contidas numas espécie de unipedismo forçado, sendo o melhor a fazer afastar-me com 4 grandes pulinhos que fariam inveja às criaturas do sítio do pica-pau amarelo, e que efectivamente provocaram mal-estar e dor ao Mr.Ex, sobre o qual me precipitei, de pés juntos, na minha fuga desenfreada, com um saco de cama encharcado e enlameado (sorry babes!). Feito isto, o melhor que me ocorreu foi não sujar também as meias, de modo que gritei um monte de ordens pouco claras ao desgraçado do Mr.Y (Apanha as minhas coisas! Não! Sim! Também a mala! Ai o meu bilhete e o passaporte! Não atires para aí! Os sapatos, ai os sapatos!) que ele acabou por acatar com uma rapidez e desenvoltura admiraveis, com certeza frutos da adrenalina de se ver encharcado em água gélida enquanto ainda tinha as marcas da relva na bochecha.

Que trio lastimável que jazia agora sobre o banco. E como se não fosse o suficiente ser acordado assim tão cruelmente, um pombo ainda cagou em cima do Mr.X, que desde então tem de prestar sempre muita atenção à parte do lenço que enrola perto da boca, ao agasalhar o pescoço. Precisava de sacudir o saco-de-cama, pelo que o bati contra a tília mais próxima, enchendo as nossas bagagens e os restantes pedaços limpos com salpicos de lama, para alegria geral dos felizes contemplados. Partimos para o Louvre, eram 7:20 da manhã. Thou shalt not sleep under the sprinklers at the early hours of morrow. Estava fechado. Seguimos para a Gare do Nord para planear os próximos passos da viagem, que deveriam levar-nos a Veneza. Impossível, já não havia vagas para passes de interrail. Então para Munique. Tudo bem, a demorar 22 horas? Não obrigado. Para Munique na mesma noite? Não, que não dava tempo para nada. E se fosse...? Enfim, demorou cerca de 1 hora até nos conseguirmos coordenar, o pobre senhor do guichet foi de facto incansável, e lá conseguimos algo de medianamente satisfatório, que nos levaria até Munique e daí no night train mediante o pagamento de 10 euros por pessoa em suplementos de dorminhoquiçe em beliche (não é bem este o termo) até Veneza. Isto até Munique dia 28 de manhã, e para fair Venice were we lay our next scene, ao longo da noite de 28 para 29. De Julliet, bien sur.

Agora era só deixar as nossas três meninas num cacifo, e podíamos hit the city.Mas oh, não havia cacifos, por questões de anti-terrorismo. As pessoas poderiam plantar latas de polvo lá dentro, God forbid. Isso significou milles de miles com 50 kgs cada um às costas. Por vezes, a subir e quando as pausas já não aconteciam há muito ascendia aos 60 kgs por pessoa. Somos melhores que qualquer máquina de guerra dos fuzileiros, que pelo que consta só levam 30kgs!

Entretanto, como o meu único propósito neste Interrail é, na opinião do Mr.X, fazê-lo gastar dinheiro desnecessariamente, convenci os mosqueteiros a fazer uma visita guiada à cidade, sendo que esta, maravilhosamente, se dividia em dois, um passeio de barco pelo rio Seine, e a volta de autocarro com os fones normais. Não deixo de insistir que um guia vivo é muito mais giro, mas enfim, não se pode ter barato e de qualidade excelente e na hora. Como o meu maninho mais piqueno me explicou, são três premissas que se excluem umas às outras, sendo que é impossível juntar as 3: Rápido, Barato e Bom.

E Barato foi, barco+bus por apenas 19 euros, o que é que os meninos querem mais? Quando quero sou bastante convincente, acho eu, e tenho a mania de que preciso de ter informação detalhada, o que me leva a fazer trabalho de casa minucioso sobre o local onde vou, ou, na impossibilidade de o fazer, de optar pela guided tour. Não gosto de ficar tipo vaca a ver passar o comboio, tendo uma vaga ideia que a pirâmide alongada na Place de la Concorde é um Basilisco, para a hilaridade geral dos mais informados.

Fizemos a volta turística, e vimos tudo, desde o referido obelisco da discórdia franco-egípcia, passando pelo Louvre, com as suas pirâmides (só por fora) os pallais grands, petits e moyens, a torre, os champs, as inúmeras pontes sobre os rio, norte dame, os quartiers latin .... falta-me, de momento a força para detalhes históricos, prometo adenda.

Por fim, quando as forças nos faltaram, atravessamos o Seine à altura da isle de la cité, onde fica Paris como a conhecemos dos filmes, com luzes amareladas, concertinas e violinos, varandas de ferro forjado cheias de plantas, miúdas lindas, magras que nem cadelas e estilosas ao chic parisien.

E agora já fui assediada pelo menos 7 vezes em 40 minutos, os únicos 40 minutos que estive sem companhia masculina, e vou interromper para retomar asap. Bisoux**

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